Imigração no Reino Unido volta a aumentar e pressiona Cameron

Saldo migratório de 260 mil pessoas ficou acima do registado quando os conservadores chegaram ao poder. Foram os cidadãos europeus quem mais contribuiu para o aumento.

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Cameron prometeu que até ao final do mandato o saldo migratório não ultrapassaria a fasquia dos cem mil REBECCA NADEN/AFP

São números que embaraçam o primeiro-ministro britânico e aumentam a probabilidade de que venha a dar ouvidos a quem lhe pede que crie entraves à livre circulação de pessoas oriundas de outros países da União Europeia. Dados do gabinete nacional de estatísticas revelam que entraram no país mais 260 mil pessoas do que as que saíram – um saldo migratório que é superior ao registado quando David Cameron chegou ao poder.

As estatísticas, referentes ao período entre Julho de 2013 e Junho deste ano, indicam que emigraram para o Reino Unido 583 mil pessoas, face às 502 mil dos 12 meses anteriores, enquanto o número dos que foram trabalhar para fora do país se manteve estável. Os imigrantes oriundos de países fora da União Europeia continuam a representar a maior fatia das novas entradas (272 mil), mas foram os cidadãos europeus que mais contribuíram para o aumento do saldo migratório: do espaço europeu chegaram 228 mil pessoas, um recorde que representa mais 45 mil pessoas do que no ano anterior.

Não há estatísticas específicas sobre Portugal, mas dados relativos à emissão de números da Segurança Social, contidos no relatório divulgado nesta quinta-feira, indicam que até ao passado mês de Setembro 28 mil cidadãos nacionais pediram este documento essencial a quem quer trabalhar no país.

Confirmando as expectativas, aumentou de forma significativa o número de cidadãos romenos e búlgaros que foram viver para o Reino Unido – até Junho entraram 32 mil pessoas oriundas dos dois países, face aos 18 mil do ano anterior. Em Janeiro expiraram as restrições à circulação dos trabalhadores oriundos dos últimos dois países a aderirem à UE, mas os dados agora divulgados desmentem a “invasão” que os populistas do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) e a imprensa tablóide então prognosticavam.

Nuances que não deixam descansado Cameron, o líder conservador que foi eleito em 2010 com a promessa de, até ao final do mandato, garantir que o saldo migratório não ultrapassaria a fasquia dos cem mil. Nesse ano, entraram no país mais 244 mil pessoas do que as que emigraram, um número já distante do recorde batido em 2005 (320 mil) e que baixou de forma consistente nos anos seguintes, ficando-se pelos 183 mil em Junho de 2013. No fim-de-semana passado, a ministra do Interior admitiu que o Governo tinha abdicado da meta, mas a subida de 43% agora revelada fica muito acima da derrapagem esperada.

O secretário de Estado para a Imigração, James Brokenshire, disse à BBC estar “desiludido” com as estatísticas, mas afirmou que Londres pouco pode fazer face “à pressão migratória vinda da UE”, em relação à qual o Governo não pode aplicar as mesmas restrições que foram adoptadas nos últimos anos para os imigrantes não comunitários. No entanto, os dados revelam que, após anos de decréscimo, também nesse sector a imigração voltou a aumentar (entraram mais 30 mil cidadãos não europeus do que até Junho de 2013).

Mas depois das recentes vitórias eleitorais do UKIP – ganhou as europeias e conquistou os dois primeiros lugares no Parlamento – é na imigração europeia que as atenções prometem centrar-se. Cameron prometeu para os próximos dias um discurso em que deverá anunciar os seus planos para limitar a entrada de cidadãos comunitários. Várias propostas foram delineadas nos últimos meses, mas quase todas correm o risco de violar o princípio da livre circulação de pessoas no espaço europeu. O primeiro-ministro britânico diz que a UE precisa de repensar a aplicação deste princípio, mas várias capitais europeias asseguram que não aceitam qualquer reforma que altere um dos pilares da união.

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