Ensaios clínicos terão de provar se há tratamento contra ébola

Mulher com ébola vinda da Libéria chegou a Atlanta juntando-se a médico infectado com a doença. Os dois receberam ainda em África tratamento experimental.

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Após o tratamento, Kent Brantly melhorou AFP PHOTO/SAMARITAN'S PURSE/JONI BYKER

A norte-americana que contraiu o vírus do ébola na Libéria chegou nesta terça-feira a Atlanta, EUA, juntando-se a um médico infectado, que está desde sábado a ser seguido no Hospital Universitário Emory, numa sala de cuidados isolada. Estes dois americanos foram os primeiros a submeter-se a um tratamento experimental contra o ébola que até agora só tinha sido testado em macacos. Apesar da progressão da doença parecer ter sido travada, é necessário haver ensaios clínicos para se provar que o soro funciona.

Os doentes estavam a trabalhar em missões cristãs na Libéria, unidas para combater o ébola. O vírus está a causar o maior surto de sempre, afectando principalmente países da África Ocidental. Nancy Writebol estava a trabalhar para o Service in Mission e o médico Kent Brantly para o Samaritan’s Purse. Depois de aparecerem os sintomas do ébola e estarem cada vez pior, os dois doentes foram submetidos a um tratamento experimental inovador. Após o tratamento, Kent Brantly melhorou e Nancy Writebol estabilizou, de acordo com a CNN, permitindo viajarem de volta para os Estados Unidos.

O tratamento, chamado ZMapp, resulta de um acordo de uma empresa dos Estados Unidos e outra do Canadá e é uma combinação de moléculas desenvolvidas em investigações diferentes que, em macacos, conseguiram combater o vírus. Um dos estudos, dos EUA, publicado em 2013 na revista Science Translational Medicine, mostrou que era possível curar três de sete macacos-rhesus infectados com o vírus do ébola, aplicando o tratamento já depois de os sintomas aparecerem.

“Este soro experimental é um cocktail de anticorpos capazes de bloquearem o vírus”, explicou Anthony Fauci, director do Instituto Nacional das Alergias e Doenças Infecciosas (um dos vários Institutos Nacionais de Saúde dos EUA), ao Washington Post. “O médico responsável pelos pacientes tomou uma decisão medindo o risco e o benefício.”

O vírus ébola não tem tratamento ou vacina comprovados. Os sintomas desta febre hemorrágica começam a aparecer entre dois a 21 dias após se contrair o vírus. Os pacientes começam por ter febre, fraqueza e dores. As hemorragias, que vêm depois, são fruto do colapso dos órgãos e dos vasos sanguíneos.

Os médicos tentam controlar a progressão da infecção, baixando a febre, mantendo o doente hidratado e tratando infecções secundárias. No passado, houve surtos cuja mortalidade foi de 90%, o actual está com uma mortalidade de cerca de 60%.

Apesar dos sinais positivos de recuperação dos dois pacientes americanos, Anthoni Fauci defendeu que “não se pode provar” se o tratamento experimental resultou antes “de se realizar um ensaio clínico num grupo de pessoas”, disse ao Wall Street Journal. No hospital de Atlanta, Nancy Writebol e Kent Brantly vão continuar a ser observados para se controlar os sintomas.

Os Estados Unidos vão iniciar ainda em 2014 os primeiros testes em humanos de uma vacina contra o vírus do ébola, que foi eficaz a proteger macacos. “A vacina VRC vai entrar na primeira fase dos ensaios clínicos, que pode iniciar-se já no Outono de 2014”, lê-se num comunicado do Instituto Nacional das Alergias e Doenças Infecciosas.

Segundo Fauci, os primeiros resultados poderão estar prontos já em Janeiro de 2015. “Acho que vamos obter uma vacina e medicamentos bons”, disse ao Wall Street Journal, acrescentando que já não deverão vir a tempo para este surto.

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