Encontrada segunda caixa negra do Boeing que caiu na Ucrânia

Rebeldes separatistas dizem que estão a negociar uma trégua de três ou quatro dias e que garantem condições para que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa investigue a área.

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Foi encontrada a segunda caixa negra do avião da Malaysia Airlines que caiu na quinta-feira em território ucraniano, perto da fronteira com a Rússia. Os rebeldes separatistas que controlam a região já tinham encontrado uma primeira caixa, mas ainda não é certo qual será o destino de ambas.

O avião de passageiros, que levava 298 pessoas a bordo, despenhou-se na quinta-feira perto da cidade de Donetsk, capital da província com o mesmo nome.


As autoridades de Kiev acusaram desde o início os rebeldes separatistas de terem abatido o Boeing 777 com um míssil. O aparelho voava a uma altitude de 10.000 metros, pelo que terá sido atingido por um míssil terra-ar do sistema Buk, que pode chegar aos 25.000 metros.

Os líderes dos rebeldes separatistas, que travam uma batalha pelo controlo da região com as forças do Governo de Kiev desde o início de Abril, devolveram a acusação e disseram que só o Exército ucraniano tem armamento para derrubar um aparelho àquela altitude.

Nos últimos dias, as autoridades de Kiev acusaram a Força Aérea da Rússia de ter abatido um avião de transporte militar An-26 e pelo menos um caça Su-25 na mesma região.

Estes dois casos demonstraram que as forças no terreno têm equipamento cada vez mais sofisticado, capaz de atingir aviões em altitudes cada vez mais elevadas (o An-26, por exemplo, pode voar a 7,5 quilómetros de altitude).

Por essa razão, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, questionou na quinta-feira os motivos que levaram a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla inglesa) a decretar aquela região da Ucrânia como suficientemente segura para não ser imposta uma proibição de voo.

Já nesta sexta-feira, o ministro dos Transportes da Malásia, Liow Tiong Lai, disse que o Boeing 777 estava a seguir "a rota certa", em resposta às sugestões de que a companhia deveria ter escolhido outro caminho.

"Há muitos anos que seguimos a mesma rota, que é seguida por muitos outros países. As companhias aéreas europeias também seguem esta rota e atravessam o mesmo espaço aéreo. Nas horas que antecederam o incidente, vários outros aviões de passageiros de várias companhias usaram a mesma rota", afirmou o ministro malaio.

O mesmo responsável confirmou que a tripulação não enviou qualquer pedido de ajuda e que não foram dadas quaisquer "instruções de última hora" para que o avião alterasse a sua rota.

Num comunicado publicado na quinta-feira, a ICAO recorda que emitiu uma nota sobre a "situação potencialmente insegura" no espaço aéreo da região de Simferopol, mas a queda do Boeing 777 aconteceu para lá dessa região, onde não estava em vigor qualquer recomendação e, muito menos, uma zona de exclusão aérea para a aviação comercial.

A partir do final da tarde de quinta-feira, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, começou a declarar publicamente que se tratou de um "acto terrorista" (designação pela qual as autoridades de Kiev se referem aos rebeldes separatistas) e disse não haver dúvidas de que o avião da Malaysia Airlines foi abatido pelas forças pró-russas. Esta informação só poderá ser apurada depois de concluída a investigação ao caso, tal como se se tratou de uma acção intencional ou resultante de um erro de avaliação.

A Administração Obama, por seu lado, já veio reforçar a acusação do Governo de Kiev, através do vice-presidente norte-americano. Numa declaração proferida em Detroit, Joe Biden disse que o avião foi "aparentemente abatido". "Não foi um acidente", afirmou o vice-presidente dos EUA, frisando que estava a basear-se em informações preliminares.

Mais longe foi o primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, que exigiu a Moscovo uma explicação sobre o envolvimento de "rebeldes apoiados pela Rússia" na queda do avião da Malaysia Airlines e na morte de todas as 298 pessoas que seguiam a bordo.

A zona por onde estão espalhados os destroços do Boeing 777 é controlada pelos rebeldes separatistas. Longe dos seus líderes e do contacto com as altas esferas da política internacional, os homens armados que patrulham a área mostram-se incrédulos com a sugestão de que terão sido as suas próprias forças a abaterem o avião.

"Não fomos nós. Por que razão faríamos isto? Não somos animais", disse ao The New York Times um dos combatentes, identificado como Alexei.

Outro, chamado Alexander Nikolaevich, afirmava que foi tudo "uma provocação da União Europeia e dos Estados Unidos", e que a sua velha arma provava que os rebeldes não têm equipamento para derrubar um avião comercial. "Podem ver as nossas armas. Começámos a ganhar a guerra e os fascistas fizeram isto para nos parar."

As forças rebeldes anunciaram que garantem o acesso à área do desastre a equipas da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Foi a própria organização que o anunciou, em comunicado, após a realização de uma conferência à distância entre representantes da Ucrânia, da Rússia, da OSCE e de líderes rebeldes.

Um desses líderes, citado sob anonimato pela agência Reuters, disse que estava a ser discutida uma trégua de três a quatro dias para que a investigação da OSCE pudesse decorrer com toda a tranquilidade.

Se ficar provado que o avião da Malaysia Airlines foi abatido por um míssil disparado por rebeldes separatistas, o curso do conflito na Ucrânia pode alterar-se drasticamente – através do uso do sistema de mísseis Buk, a Ucrânia, os Estados Unidos e a União Europeia veriam confirmadas as suas acusações de que as forças rebeldes estão a ser directamente apoiadas pela Rússia, algo que Moscovo tem negado desde o início do conflito.

Na lista fornecida pela companhia constam 189 holandeses, 44 malaios (incluindo os 15 elementos da tripulação), 27 australianos, 12 indonésios, nove britânicos, quatro alemães, quatro belgas, três filipinos, um canadiano e um neozelandês. A meio da tarde desta sexta-feira faltava ainda identificar quatro pessoas. Pelo menos três bebés estão entre as vítimas mortais deste desastre aéreo, que é o pior da última década. Cerca de uma centena eram especialistas em VIH/sida, que iam participar numa conferência na Austrália.

O voo MH17 partiu de Amesterdão, na Holanda, às 13h15 de quinta-feira (hora em Portugal continental) e tinha como destino Kuala Lumpur, na Malásia.

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