EUA querem reforçar oposição síria para combater no Iraque, onde persiste a crise política

Exército iraquiano lançou ataque contra os militantes do ISIS em Tikrit e os drones armados americanos começaram a voar sobre Bagdad. Líderes religiosos defendem saída do primeiro-ministro al-Maliki para ultrapassar impasse na formação do Governo.

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Voluntários xiitas completam o treino militar para combater militantes do ISIS AFP/HAIDAR HAMDANI

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu autorização ao Congresso para armar as forças moderadas de oposição ao Presidente da Síria, Bashar al-Assad, que assim poderão juntar-se ao combate contra os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS) no Iraque, onde dominam uma área significativa de território e se encaminham para a capital, Bagdad.

É um sinal da intensificação dos esforços militares – e do crescente envolvimento norte-americano – num conflito de fronteiras cada vez mais esbatidas: a guerra civil da Síria abriu caminho à insurreição armada dos radicais islâmicos, por sua vez alimentada pela divisão sectária no Iraque.

Sobre Bagdad, voam já drones (aviões não tripulados) americanos equipados com bombas. Até agora, os Estados Unidos realizaram apenas missões de reconhecimento para a recolha de informação – segundo os jornais The New York Times e Guardian, o recurso à tecnologia de satélite permitiu identificar a localização de duas valas comuns na cidade de Tikrit, onde os islamistas executaram sumariamente cerca de 160 indivíduos, soldados, polícias e civis iraquianos.

A cidade natal do antigo ditador sunita Saddam Hussein, controlada pelo ISIS, tornou-se também o palco da primeira grande incursão do Exército iraquiano para recuperar território perdido. As tropas nacionais abriram fogo sobre o campus universitário a partir de helicópteros, um dos quais terá sido abatido pelos militantes. “Deixei a cidade com a minha família logo pela manhã, quando começamos a ouvir os helicópteros e o tiroteio que tomou conta desta área”, disse à Reuters um professor universitário, Farhan Ibrahim Tamimi.

A imprensa americana sublinha que o envolvimento dos drones em ofensivas aéreas contra posições do ISIS no Iraque continua dependente da aprovação directa de Obama, e avisa que uma escalada militar é pouco provável: a Administração continua a privilegiar a via política e diplomática, “despachando” o secretário de Estado John Kerry para a região.

A pressão interna e externa sobre o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, tarda em obter resultados mas parece estar a surtir algum efeito. O homem que é apontado como um dos responsáveis pelo recrudescimento do sectarismo étnico e político no país concedeu que a resposta à ameaça do ISIS também passa por “iniciativas políticas” e não unicamente militares. “Temos de avançar por duas vias paralelas”, admitiu, numa inflexão do seu discurso. “Além do combate no terreno contra os terroristas, temos de concluir o processo político no Parlamento”, referiu.

Esta sexta-feira, o ayatollah Ali al-Sistani, principal autoridade religiosa para os xiitas, defendeu a urgência da escolha de um novo primeiro-ministro, antes mesmo do arranque do processo para a formação de um novo Executivo, ao qual não chamou de unidade ou salvação nacional, mas que teria de merecer o acordo de “todos os blocos políticos”.

Além de Sistani (que nasceu no Irão mas é reverenciado no Iraque), outros líderes religiosos alegam que o impasse político só será ultrapassado com o afastamento de Maliki. O xiita Muqtada al-Sadr, que constituiu as brigadas Mahdi, que lutaram contra a ocupação americana, distribuiu um manifesto com seis pontos para a solução da crise, que incluíam um Governo de “ emergência nacional” para que os sunitas pudessem distanciar-se do ISIS. O líder do Conselho das Tribos Sunitas, Ali al-Hatim, disse que um terceiro mandato de Maliki fecharia a porta a qualquer aproximação política: “Ele tem de sair, quer queira quer não”, citou-o o canal Arab News.

Entretanto, o líder do governo regional do Curdistão, Massoud Barzani, garantiu ontem que não vai abrir mão da cidade de Kirkuk, tomada pelas forças curdas peshmerga que rechaçaram os militantes do ISIS. Os curdos reclamam aquela cidade para capital de um futuro Curdistão independente.

Corredores humanitários para refugiados

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) pediu entretanto que fossem abertos corredores humanitários para levar ajuda aos milhares de iraquianos que fugiram dos combates.

As agências da ONU podem distribuir ajuda a cerca de dez mil deslocados, embora dos 1,2 milhões de iraquianos deslocados pelos combates, 240 mil pessoas precisem de ajuda urgente. Só que a insegurança e os inúmeros postos de controlos montados pelos beligerantes “estão a impedi-las de chegar às pessoas e a impossibilitar a chegada das pessoas aos pontos de distribuição”, alertou Mandie Alexander, coordenadora da assistência de emergência da OIM.

A organização pede que a rebelião e o Exército considerem escolas, hospitais e mesquitas como “locais neutros e seguros”. Os dois maiores hospitais de Mossul terem sido pilhados e destruídos.     

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