A missão de Paulo Bento é mudar tudo e mexer o menos possível

Seleccionador obrigado a fazer pelo menos quatro alterações na equipa para o jogo dos EUA. Mais do que trocar jogadores, o importante é mudar atitude da equipa.

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Paulo Bento tem muitos problemas para resolver FRANCISCO LEONG/AFP

Minutos após a goleada frente à Alemanha, Paulo Bento deixou bem claro que seria um erro mudar tudo para o decisivo encontro de domingo (23h) com os Estados Unidos. Os treinadores ouvidos pelo PÚBLICO concordam que não faz sentido fazer uma revolução, destacam que mudar quatro jogadores (três por lesão e um por castigo) já é muito e o que o fundamental é recuperar psicologicamente os futebolistas, levando-os a no domingo jogarem de acordo com o nível habitual.

“Portugal tem um modelo de jogo e uma forma de jogar. Tivemos um resultado negativo e agora temos uma final. Nem sequer há tempo para mudar”, diz José Couceiro, destacando que “é necessário é recuperar a equipa do ponto de vista emocional”.

A mesma opinião tem Toni. “Os jogadores estão profundamente marcados. Eles sentem a desilusão na carne. O castigo de Pepe e as lesões obrigam a meia revolução. Mas as mudanças têm de ser acompanhadas por uma subida de produção de todos os jogadores.”

O conservadorismo de Paulo Bento e as declarações no final do jogo com a Alemanha retiram do debate soluções mais radicais. Seja uma alteração do sistema táctico para um 4x4x2 (até porque só há dois pontas-de-lança disponíveis), a passagem de Ronaldo para a frente de ataque (algo a que o seleccionador sempre resistiu) ou uma modificação da equipa muito além das quatro alterações obrigatórias face às ausências forçadas de Rui Patrício, Pepe, Fábio Coentrão e Hugo Almeida – e esperando que não sejam cinco, porque Bruno Alves não se treinou nesta sexta-feira, devido a uma mialgia na coxa esquerda.

A questão da baliza coloca-se num plano essencialmente individual: dar o lugar a Beto, que vem de uma época muito positiva ao serviço do Sevilha mas tem menos experiência ao nível da selecção A, ou a Eduardo, que teve um ano menos bom, mas tem mais experiência na selecção? “É uma questão de escolha pessoal”, aponta Daúto Faquirá, para quem Eduardo é a escolha mais lógica por ter sido mais vezes utilizado: o guarda-redes minhoto partiu para o Mundial com 34 internacionalizações contra sete de Beto.

Outra opção que Paulo Bento terá de tomar é quanto ao parceiro de Bruno Alves no centro da defesa, isto se o central do Fenerbahçe recuperar do seu problema físico: Neto ou Ricardo Costa? O defesa do Zenit foi muitas vezes a terceira opção na fase de qualificação, enquanto o jogador do Valência foi o chamado a entrar frente à Alemanha, quando foi preciso recompor a defesa após a expulsão de Pepe. “O Ricardo Costa é um jogador experiente, com liderança forte no balneário. O Neto é mais novo e mais tímido. Tendo em conta as dificuldades do momento, o Ricardo parte em vantagem”, argumenta Daúto Faquirá.

O sector defensivo será o mais afectado pelas mudanças, já que também será preciso encontrar alternativa a Fábio Coentrão, o jogador mais difícil de substituir entre os quatro ausentes. As opções de Paulo Bento resumem-se a André Almeida, que entrou no jogo frente à Alemanha e esporadicamente tem ocupado a posição no Benfica, ou Miguel Veloso, que em tempos jogou nessa posição. São dois jogadores muito diferentes. “O André Almeida dá alguma profundidade, mas não cruza com o pé esquerdo. Fará mais incursões de apoio”, analisa Daúto Faquirá, vendo o jogador do Benfica como um jogador “competente e seguro na posição”. “O Miguel Veloso tem um handicap: não é rápido, mas é canhoto, tem essa vantagem. Não precisa de ir à linha de fundo para cruzar e garante mais posse de bola”, acrescenta o treinador, que, olhando para a forma como os Estados Unidos jogam – “é um equipa forte no lado direito” – afirma que “André Almeida pode ser a opção mais lógica” para o jogo de domingo.

Finalmente, Paulo Bento terá de escolher entre colocar Éder ou Postiga na frente de ataque, naquela que será a decisão mais importante do ponto de vista estratégico. “O Éder é um jogador mais agressivo, mais de choque. O Postiga joga mais com os médios, abre espaços”, diz Faquirá”, para quem a escolha de Éder será a mais lógica.

Além destas quatro alterações obrigatórias, coloca-se a questão de saber se Paulo Bento apostará em William Carvalho para o lugar de Veloso ou Meireles. “Há um jogador que deve entrar, que é o William. Dará altura e qualidade técnica”, defende Toni.

Ruben Amorim poderia ser outro candidato à titularidade (na lateral-direita ou no meio-campo), mas já se percebeu que Paulo Bento estará mais interessado em limitar o número de alterações. O mesmo raciocínio se poderia aplicar a uma inovação no meio-campo, que implicasse a entrada de um criativo (Rafa ou desviar Nani para o meio). Mas estas serão opções mais credíveis para lançar durante o jogo. Até porque, como dizem os treinadores ouvidos pelo PÚBLICO, Paulo Bento não dispõe assim de tantas opções de qualidade. “Os apuramentos para as grandes competições têm escondido a realidade do futebol português”, destaca Toni.

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