Não apareceram príncipes no lançamento do livro do fazedor de reis socialistas

Na apresentação do livro Jorge Coelho - o todo-poderoso não se falou na disputa interna socialista. Falou-se de “guterrismo”, do “papel central” de Jorge Coelho nessa época, a dois anos das presidenciais.

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Miguel Manso

Foi assim, um lançamento discreto. À imagem do ex-dirigente socialista, que fez questão de se sentar na ponta da última fila de cadeiras da livraria. Daí ouviu a caracterização que Vitorino fez. “Ele é, de facto, um homem do poder, no partido, no Estado e no sector empresarial”, garantiu o ex-comissário europeu. Que acrescentou, depois, de onde vinha a força: dele: “O que faz o poder de um homem é a sua personalidade e o seu caracter”. Que resultavam na sua “marca excepcional”, a de ter existido e de existir “ainda hoje uma empatia” com os militantes do partido. Era, de longe, “o mais carismático” de todos os dirigentes do PS, depois do fundador e ex-Presidente da República, Mário Soares.

Mas, de facto, o lançamento não permitiu perceber para que lado pende Jorge Coelho na presente disputa no PS. Nem o próprio quis desfazer essa dúvida. “Não vou falar nada”, garantiu aos jornalistas antes da cerimónia.

Mas – através de Vitorino – percebeu-se qual seria o estímulo capaz de garantir o “regresso do filho pródigo” ao PS. O “guterrismo” foi referido por mais de uma vez pelo advogado. Por ser o “homem da confiança absoluta de António Guterres”, pelo seu “papel central”. E até para fazer a reabilitação daqueles anos. Contestando a ideia de que Guterres era uma cópia da Terceira Via do britânico Tony Blair. Lembrou que esse programa de Governo foi redigido ainda antes de Blair chegar ao poder. “Era a nossa via e não foi a cópia de nenhum outro”, rematou.

Mas porquê recuperar esses tempos, tantos anos depois? Vitorino deixou-o antever ao terminar a sua palestra, quando lembrou a sua participação na Conferência Novo Rumo de António José Seguro. “Fiquei tranquilo, ele está de volta”, disse o ex-ministro de Defesa de Guterres. “Calma Jorge, temos tempo”, atirou Vitorino. Afinal, ainda faltam dois anos para as próximas presidenciais.

O livro também já o assinalava. O autor, Fernando Esteves, deu o tiro de partida, quando, no prefácio, citou Guterres a admitir que não excluía em definitivo a hipótese de se candidatar a Presidente da República, e quando advertiu que Jorge Coelho pode voltar a ser um agente político activo, pois poderá fazer o que quiser na política. “Não quero ser candidato, mas não faço juras eternas; há sempre uma probabilidade, mesmo que mínima, de isso acontecer”, admitiu o ainda alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

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