Malásia reconhece lentidão da resposta ao desaparecimento do voo MH370

Malaysia Airlines vai encerrar centros de apoio e pede às famílias das vítimas que vão para a casa

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Foi pedido aos familiares que regressem às suas casas Kim Kyung-Hoon/Reuters

A Malásia tornou finalmente público um inquérito preliminar ao desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines. A recomendação de que os voos dos aviões comerciais passem a ser acompanhados em permanência é o facto principal de um documento curto, com apenas cinco páginas, e parco nas novidades.

O documento é uma espécie de resumo da reacção e do esforço posto em marcha quando se percebeu que o Boeing 777 desapareceu dos radares, no dia 8 de Março, menos de uma hora depois de ter levantado voo de Kuala Lumpur com destino a Pequim e 239 pessoas a bordo. A acompanhar o relato dos factos surgem os registos áudio dos diálogos entre os membros da tripulação que estavam no cockpit e os controladores aéreos, assim como documentos que pertencem à Malaysia Airlines.

O Governo malaio admite a lentidão da resposta das autoridades: a ausência de um seguimento permanente dos voos justifica os 17 minutos que os controladores aéreos do Camboja demoraram a perceber que o avião tinha desaparecido dos radares e a perguntar aos seus colegas malaios onde é que o aparelho estava. Mais difícil de explicar são as quatro horas que passaram entre esse momento e o lançamento oficial das buscas.

Outro facto pouco explorado no relatório são as oito horas que a Força Aérea da Malásia levou a dizer às autoridades civis que um avião que pensavam poder ser o MH370 tinha mudado de rota e se dirigia para o oceano Índico. Sabe-se que depois disso as buscas foram alargadas até ao estreito de Malaca, mas não é claro em que momento é que isso aconteceu.

Também não é possível saber se o avião ainda estava no ar – a Malaysia Airlines disse na terça-feira que o combustível se terá esgotado sete horas e meia depois do início do voo, pelo que pode ter continuado a voar nas quatro horas em que as buscas não foram lançadas, e até para além disso.

“Apesar de os aparelhos de transporte comerciais passarem quantidades consideráveis de tempo a operar em áreas remotas, não há actualmente nenhuma regra que obrigue a que sejam seguidos em permanência. Nos últimos anos são já duas as ocasiões em que grandes aviões comerciais desapareceram sem que se conhecesse com rigor a sua última posição”, lê-se no relatório. O caso anterior é o do voo 447 da Air France – o avião, que se despenhou no Atlântico com 228 pessoas a bordo, foi encontrado mais de um ano depois no Altântico.

“Esta incerteza resultou em dificuldades significativas na localização dos aviões”, acrescenta o documento, que antes de ser tornado público já tinha sido enviado para a Organização Internacional da Aviação Civil (OIAC), uma agência da ONU que costuma exigir um relatório até 30 dias depois de cada acidente. Se a Malásia cumpriu o prazo significa que demorou três semanas a tornar público o documento depois de este estar terminado.

Quase dois meses depois do desaparecimento do voo MH370, e numa altura em que as buscas entraram numa longa fase de exploração do fundo do mar em busca de eventuais destroços –, a Malaysia Airlines pede agora aos familiares das vítimas que deixem os centros de apoio montados em hotéis e regressem às suas casas.

“A Malaysia Airlines está consciente e profundamente solidária com a contínua e inimaginável angústia, com a tensão e a dureza do que têm sofrido os que tinham familiares a bordo do voo”, diz a companhia num comunicado.

Mas apesar da operação de busca, “provavelmente a maior da história da humanidade”, continua sem haver rasto do avião. É por isso que se aconselha às famílias a regressarem “ao conforto das suas casas, para perto dos familiares e dos amigos”, prometendo-se todo o acompanhamento necessário. A companhia vai agora estabelecer dois centros de apoio, um na capital malaia, outro na chinesa, de onde eram originárias a maioria das vítimas.

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