Na presidência de Paris vai bater um coração andaluz

A socialista Anne Hidalgo é dada como a vencedora na capital

Anne Hidalgo deverá ser eleita presidente da câmara de Paris à segunda volta
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Anne Hidalgo deverá ser eleita presidente da câmara de Paris à segunda volta Philippe Wojazer/REUTERS
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Nathalie Kosciusko-Morizet, uma estrela da UMP, não conseguiu unir o partido Charles Platiau/REUTERS

Pela primeira vez, uma mulher terá a câmara municipal de Paris, e parece quase certo que a honra caberá à socialista Anne Hidalgo, filha de imigrantes espanhóis, ela própria nascida em San Fernando, perto de Cádiz, na Andaluzia. Nathalie Kosciusko-Morizet, a candidata de centro-direita, atormentada por múltiplas divergências do seu partido, a UMP, ficará à porta da mairie. Será até derrotada no bairro em que é cabeça de lista, o XIV, diz uma das últimas sondagens.

Na primeira volta deste domingo das eleições municipais, Hidalgo, especialista em direito do trabalho de 54 anos, deverá obter 37% dos votos, contra 35% de Nathalie Kosciusko-Morizet (muitas vezes designada pelas iniciais do seu nome, NKM), para finalmente ser eleita, no próximo domingo, na segunda volta, por 53% dos sufrágios, enquanto NKM se ficará pelos 47%. Anne Hidalgo, naturalizada aos dois anos e apaixonada pela sua cidade, quer que “Paris seja uma cidade onde se viva bem”, já quase poderia encomendar a decoração do gabinete a seu gosto.

Chega ao fim, sem um triunfo, a aposta da engenheira, ex-ministra da Ecologia do governo de Nicolas Sarkozy, e porta-voz da campanha para a falhada reeleição do ex-Presidente, conhecida por dizer o que pensa – e que foi afectada pela guerra interna na UMP, entre o actual líder, Jean François Copé, e o ex-primeiro-ministro, François Fillon, que lhe disputou a liderança numas eleições cheias de irregularidades que levaram quase até à cisão do partido. Construir as listas a apresentar em cada bairro, renovando mas mantendo os equilíbrios entre as duas facções, foi uma verdadeira telenovela para Nathalie Kosciusko-Morizet. 

Mas NKM, de 40 anos, teve vários erros de comunicação. Como quando não conseguiu dizer o preço de um bilhete de metro, falar desse transporte de forma romanceada, dizendo ser “um lugar de charme, ao mesmo tempo anónimo e familiar”, onde já viveu "momentos de encanto". Não era bem o que se esperava de um possível presidente de câmara.

Anne Hidalgo, por outro lado, é vista como a “herdeira” – por ter sido adjunta do presidente da câmara que agora deixa o lugar, Bertrand Delanoë, desde 2001. É também uma candidata mais cinzenta do que NKM. Mas a política de direita não terá propriamente ganho pontos ao tentar retratar a campanha como uma competição entre “uma estrela [Nathalie Kosciusko-Morizet] e uma porteira [Hidalgo, por ser espanhola]”.

 As ideias de Hidalgo não são particularmente entusiasmantes, dizem os analistas. “Li o livro dela, Mon Combat pour Paris – Quand la Ville Ose… e é tão banal que é perturbante. Como é que se pode imprimir 200 páginas para dizer tão poucas coisas”, interrogou Adam Sage, correspondente do jornal britânico The Times em Paris, num texto sobre as duas candidatas escrito para a revista Nouvel Observateur.

Para um observador estrangeiro, as diferenças entre os programas da socialista e da candidata de centro-direita não são assim tão grandes. “Globalmente, não há uma diferença enorme entre ambas, mesmo que uma seja a favor da habitação social e outra queira suprimir 2500 funcionários municipais”, diz Antonio di Bella, chefe de delegação da RAI (Radiotelevisão Italiana).

Alissa J. Rubin, do New York Times, define NKM e Hidalgo como “puros produtos dos partidos que representam”. “O que me custa é a imaginar como poderão transformar a cidade em profundidade, se forem eleitas. Em comparação com Nova Iorque, o presidente da câmara de Paris não tem muitos poderes. Na nossa cidade, nomeia o chefe da polícia, tem grandes prerrogativas na educação… Aqui em Paris, parece que o presidente não pode fazer grande coisa”, diz a jornalista nova-iorquina. Nota outra estranheza: “Parece-me que falam muito pouco de projectos para os pobres e para os imigrantes. Mas a desigualdade entre os territórios parisienses é estrondosa!”.

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