A “arte de dissimular” e a “sobranceria” do Governo e do PS, segundo o PCP

No arranque das jornadas parlamentares, comunistas criticam PS e partidos da maioria, e dão o tiro de partida para a campanha eleitoral europeia.

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Rui Gaudêncio

Jerónimo de Sousa cavou esta segunda-feira um pouco mais o fosso dos comunistas em relação ao PS. O secretário-geral do PCP inclui os socialistas entre os que usam a “sobranceria” e as “artes da dissimulação”, ao lado dos partidos da actual maioria. Em sintonia, o líder da bancada comunista, João Oliveira, não se cansou de criticar a propaganda do Governo.

Os comunistas estão até terça-feira no distrito de Setúbal para mais umas jornadas parlamentares, desta vez juntando deputados à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu devido à aproximação das eleições europeias. Na sessão de abertura, ao início da noite desta sexta-feira, ouviram-se críticas ao Governo, ao PS e às políticas da União Europeia.

No caso desta última, as suas orientações “ampliaram os problemas e fragilidades da economia nacional e acentuaram a sua dependência e défices estruturais”, em vez de contribuírem para o desenvolvimento do país, apontou o eurodeputado e cabeça de lista da CDU, João Ferreira.

O secretário-geral do PCP fez o discurso mais longo, apontando baterias ao PSD, CDS e também PS. Realçou que o Governo “quer fazer crer” ao país que está próximo de ter uma “saída limpa do pacto de ruína e empobrecimento nacional”, como chama ao programa de ajustamento, que classifica como o período “mais negro da nossa vida democrática”.

“Seja qual for a solução – programa cautelar ou saída à irlandesa -, com este Governo, com esta política nacional e europeia, não há saídas limpas, só há saídas sujas. Ou seja, o que estão a preparar são novas medidas penalizadoras dos trabalhadores, do povo e do país.”

Esta é uma das facetas da “arte de dissimular” de quem tem alternado no poder e ajudou a “hipotecar a soberania do país”, diz Jerónimo. “É isso que têm feito essas forças – PS, PSD e CDS – que, com a sobranceria de quem pensa estar legitimado por uma espécie de direito divino, se continuam a reclamar de partidos do arco do poder, em exclusividade, uma reivindicação abusiva e anti-democrática, mas também identificadora dos verdadeiros responsáveis pelo estado de degradação económica, social e política a que conduziram o país.”

Jerónimo de Sousa lembrou o “rasto de violência e drama” e a “acção destruidora de vidas e recursos” das políticas nacionais e europeias dos últimos cinco anos, uma responsabilidade partilhada por governos do PS e do PSD/CDS. Da “destruição do tecido produtivo” ao “desemprego brutal e massivo”, passando pela emigração de milhares, aumento da exploração do trabalho, “acelerado processo de empobrecimento” ou “violação dos direitos constitucionais”.

“O aumento da exploração e o alargamento da pobreza não foram danos colaterais. Foram e são objectivos do Governo”, acusou o secretário-geral comunista.

O líder da bancada parlamentar, João Oliveira, também criticou a euforia do Governo na “campanha de propaganda diária de ilusões e mistificações sobre a realidade do país, vendendo ideias de falsos sucessos e recuperações que não casam com o agravamento da realidade económica e social sentida pelos portugueses diariamente”. Como? “Manipulando estatísticas, fazendo promessas ou mesmo desdizendo hoje o que acabou de aprovar ontem.”

Ao juntar os eurodeputados nas jornadas, o PCP mostra que está já em campanha eleitoral para as europeias. Sobre a União Europeia, Jerónimo de Sousa disse que a evolução dos últimos anos “revela bem o grau de falsidade dos discursos da solidariedade, da coesão e da ‘Europa social’”.

O eurodeputado João Ferreira desfiou o rol de consequências nefastas das políticas europeias no país, da agricultura - com a redução de 500 mil hectares da superfície agrícola útil e encerramento de 300 mil explorações agrícolas nos primeiros 20 anos da Política Agrícola Comum, segundo contabilizou - às pescas, uma vez que na primeira década de Política Comum das Pescas, abateu-se 36% da frota pesqueira e reduziu-se 40% nas capturas de pescado, apontou.

Mas o mesmo aconteceu na indústria, em que o peso do sector no PIB nacional caiu de mais de 30% para menos de 15%. E citou o Banco de Portugal para traçar um retrato negativo e dizer que, entre 1996 e 2001, “saiu mais dinheiro de Portugal para a União Europeia do que o saldo das transferências de fundos comunitários”.

 
 

   

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