Rússia apresenta projecto alternativo de resolução para a Síria

Moscovo diz que terrorismo também afecta situação humanitária. Cessar-fogo em Homs prolongado até sábado.

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Rebeldes guradam alimentos distribuídos pela ONU em Homs BASSEL TAWIL/AFP

Em desacordo com o projecto de resolução de árabes e ocidentais sobre a situação humanitária na Síria, a Rússia apresentou ao Conselho de Segurança uma contraproposta, onde não refere os bombardeamentos governamentais, optando antes por condenar “o aumento do terrorismo”. Em Homs – o único dos cercos entretanto quebrados –, a trégua foi prolongada por mais três dias e sexta-feira prevê-se que mais civis sejam retirados da zona.

“O terrorismo não é certamente um problema menos grave” do que a crise humanitária, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, lembrando que os atentados e a entrada na Síria de centenas de jihadistas ameaçam não só a integridade do país como a segurança da região.

Sobre o projecto apresentado no início da semana por europeus e árabes, Lavrov reafirmou que Moscovo nunca aceitará um documento que está escrito “sob a forma de um ultimato e que inclui a ameaça de sanções.

O texto debatido quarta-feira no Conselho de Segurança pede o “levantamento imediato dos cercos” às zonas residenciais e condena os ataques, com mísseis ou barris de explosivos”, das forças governamentais contra bairros controlados pela oposição. Não incluiu sanções, mas prevê que se as medidas previstas na resolução não forem acatadas no prazo de 15 dias o Conselho de Segurança poderá votar sanções individuais contra quem “impedir a ajuda humanitária”.

“A diferença entre a resolução que eles tentam adoptar e a nossa visão é que eles interpretam a situação de uma maneira muito selectiva. Atiram todas as responsabilidades sobre o regime sírio e não dão a atenção necessária aos problemas humanitários criados pela acção dos rebeldes”.  

A recusa russa originou uma pouco diplomática troca de argumentos entre Washington e Moscovo. Terça-feira, o Presidente norte-americano, Barack Obama, lamentou que a Rússia seja sistematicamente um “entrave” à acção internacional e sugeriu que ao não apoiar a resolução o país se torna também responsável por “matar à fome” os sírios cercados. A diplomacia russa criticou esta “distorção parcial” da realidade, assegurando que Moscovo cooperou nas negociações para o cessar-fogo em Homs. Apesar da troca de palavras, é esperado que nos próximos dias, russos e ocidentais discutam a fusão dos dois projectos num texto que possa ser aceitável pelos dois lados.

Em Homs, chegou-se já a acordo para prolongar a trégua até ao final do dia de sábado para “permitir a retirada dos civis que faltam”, anunciou o governador, Talal al-Barazi, com quem as Nações Unidas têm negociado directamente. Quarta-feira foram retiradas mais de 200 pessoas da Cidade Velha, cercada desde Junho de 2012, elevando para mais de 1400 o número de civis resgatados à fome e aos combates desde sexta-feira. O responsável anunciou que as operações vão estar suspensas durante o dia de hoje, mas prevê-se que já amanhã sejam retomadas.

Barazi diz que dos 336 homens que foram detidos à saída do bairro – todos os que têm entre 16 e 54 anos são levados para “averiguações judiciais – há 220 que ainda estão sob custódia, mas garantiu que ainda nesta quinta-feira serão libertados mais 70. As organizações humanitárias alegam que foram pouco mais de 40 os que puderam reunir-se às suas famílias.  

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