Manifestantes desocupam edifício do ministério da Justiça em Kiev

Críticas do Governo e até da própria oposição levam grupo a deixar ministério mas continuam a ocupar a entrada. Ministra tinha ameaçado pedir instauração do estado de emergência caso o edifício permanecesse ocupado.

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Manifestantes no ministério da Justiça SERGEI GAPON/AFP
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Manifestantes à porta do ministério da Justiça Vasily Fedosenko/Reuters
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Vista do edifício do ministério SERGEI GAPON/AFP
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Manifestantes enchem sacos com neve Vasily Fedosenko/Reuters
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Manifestantes preparam barreira junto ao edifício SERGEI GAPON/AFP

Um dia depois de ter invadido as instalações do Ministério da Justiça da Ucrânia, no centro de Kiev,, um grupo de manifestantes abandonou na tarde de segunda-feira o edifício, no centro de Kiev, mas prometeu voltar a tomá-lo caso o Presidente, Viktor Ianukovitch, não aceder às reivindicações da oposição durante a sessão parlamentar extraordinária, marcada para terça-feira. Os manifestantes continuam a bloquear o acesso ao edifício, relata a AFP.

Dezenas de manifestantes do grupo "Causa Comum" tinham invadido no domingo à noite, sem resistência, o edifício do Ministério da Justiça da Ucrânia, no centro de Kiev. A ministra Olena Lukash avisou que iria pedir a instauração do estado de emergência, se o edifício não fosse desocupado. Lukash é um dos membros do Governo que tem negociado com os dirigentes da oposição nos últimos dias.

“Se os manifestantes não saírem do edifício do ministério da Justiça … vou pedir ao Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia para impôr o estado de emergência”, disse ao canal Inter TV.

Nenhum elemento das forças de ordem estava no edifício, situado a poucos metros da área ocupada pelos manifestantes na capital, segundo a AFP. Um manifestante encapuçado, que não se quis se identificar, disse à agência que no local estavam apenas três vigilantes que não opuseram resistência. Os vidros do rés-do-chão foram partidos e a placa com o nome do ministério foi retirada.

“A tomada do ministério da Justiça é um acto simbólico do povo revoltado. Agora, estas autoridades estão sem justiça”, disse um dos manifestantes aos repórteres. 

Logo após terem tomado o controlo do edifício de quatro andares, os manifestantes começaram a colocar à sua volta barreiras erguidas com contentores de lixo e sacos com neve. O único polícia que um repórter da BBC encontrou nas redondezas estava a fechar uma estação de metro. Informado do que aconteceu suspirou, virou os olhos e disse: “Já nada nos surpreende”.

A saída dos manifestantes do interior do ministério aconteceu depois de críticas vindas da própria oposição. "Este tipo de acções pode levar à guerra", avisou o deputado do Svoboda, Iuri Sirotiuk, citado pela Kyiv Post

A ocupação foi levada a cabo pelo grupo "Causa Comum", que tem promovido acções do mesmo género na capital ucraniana. Depois da evacuação do ministério, o líder do grupo, Oleksandr Daniliuk, avisou que, se as reivindicações da oposição - que passam pela marcação de eleições presidenciais e parlamentares, a revogação das leis anti-protesto e a libertação de presos políticos - não forem cumpridas na sessão parlamentar de terça-feira, os manifestantes vão "invadir todos os edifícios administrativos."

O cadáver de um homem de 55 anos foi encontrado durante a manhã de segunda-feira, suspenso da estrutura da árvore de Natal que se encontra na Praça da Independência, de acordo com a Reuters. A polícia informou que o corpo não tinha qualquer indício de ferimentos exteriores e que está a ser examinado para se determinar a causa da morte.

Oposição intensifica pressão
A capital da Ucrânia é, desde há mais de dois meses, palco de confrontos cada vez mais violentos entre manifestantes pró-europeus, que contestam a aproximação à Rússia, e forças de segurança. Os protestos têm vindo a alargar-se a uma dezena de cidades, onde manifestantes ocuparam edifícios públicos, e chegaram ao Leste, zona de influência russa e forte apoio a Ianukovich.

O fim-de-semana foi de reviravoltas políticas. A  oposição intensificou a pressão, numa nova prova de força de consequências imprevisíveis, ao dizer não à oferta de partilha do poder feita por Ianukovich, reclamando eleições presidenciais antecipadas e anunciando a intenção de prosseguir a contestação.

Num comunicado conjunto, revelado nesta segunda-feira pela rádio Free Europe, a oposição - constituída pelos partidos Udar, Svoboda (Liberdade) e Batkivschina (Pátria) - afirmou estar disposta a continuar as conversações com Ianukovitch, apesar de "uma tentativa das autoridades para abandonar as negociações e declarar o estado de emergência."

A União Europeia apelou esta segunda-feira à manutenção do diálogo e pediu à oposição para que não se solidarize com os manifestantes que recorrem à violência.

Na semana passada, o parlamento da república autónoma da Crimeia, acérrimo apoiante do Presidente Viktor Ianukovich, apelou à instauração do estado de emergência.

Notícia actualizada às 15:19 - Acrescentou-se informação relativa à evacuação do ministério.

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