Presidente ucraniano oferece cargo de primeiro-ministro a líder da oposição

Arseni Iatsneniuk, líder do partido da ex-primeira-ministra Iulia Timoshenko, foi convidado por Viktor Ianukovich.

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As barricadas e fumo dos pneus fazem com que Kiev pareça o cenário de uma guerra Vasily Fedosenko/REUTERS
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Arseni Iatsneniuk é o primeiro a contar da esquerda, aqui com outros líder oposicionistas e a chefe da diplomacia europeia ANDREW KRAVCHENKO/AFP
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Este grupo de extrema-direita que participa nas manifestações em Kiev auto-denomina-se Sector Direito David Mdzinarishvil/REUTERS
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Manifestantes tentam invadir edifício da administração regional de Chernivtsi, no sudoeste do país REUTERS
Protestos prosseguiram durante a noite em Kiev
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Protestos prosseguiram durante a noite em Kiev REUTERS/Vasili Fedosenko

Após conversações de três horas com os líderes da oposição, o Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, ofereceu o cargo de primeiro-ministro a Arseni Iatseniuk, líder do partido da ex-primeira-ministra Iulia Timoshenko, que está presa, condenada por abuso de poder, e é a sua maior rival política.

O encontro, com carácter de urgência, foi marcado depois de mais uma noite de confrontos entre manifestantes e autoridades, com os primeiros a queimar pneus e arremessar cocktails Molotov contra os cordões da polícia de choque, e após uma tentativa de ocupação do importante ministério da Energia na capital do país.

Segundo um comunicado da presidência, Ianukovich também se propôs nomear o antigo pugilista e líder do partido Udar (Murro), Vitali Klitschko, vice primeiro-ministro com responsabilidade sobre os “assuntos humanitários”, e a rever a Constituição para reduzir significativamente os seus poderes. A nota oficial omitia, porém, se os dois líderes da oposição tinham aceitado ou declinado a proposta.

Os manifestantes não receberam bem a proposta. “É uma traição”, dizem na rua Hrushevski, um dos locais de Kiev onde se concentram os manifestantes.

Numa primeira tentativa de acalmar a contestação, o Presidente já tinha manifestado na sexta-feira a sua disponibilidade para uma reformulação governamental e para a revisão da polémica lei que restringe as manifestações, aprovada há uma semana. Ainda assim, a sua proposta de partilha do poder com a oposição não deixou de ser uma reviravolta inesperada — especialmente porque, pela manhã, o ministro do Interior, Vitali Zakharchenko, tinha dado conta da “futilidade” das negociações o Governo e a oposição.

“Os eventos dos últimos dias na capital ucraniana mostraram que os nossos esforços para resolver o conflito pacificamente, sem recurso à confrontação e à força, foram fúteis. Os nossos apelos não foram atendidos e a trégua está a ser violada”, lamentou Vitali Zakharchenko, num comunicado divulgado depois de manifestantes terem tomado de assalto o edifício do Ministério da Energia.

Os adversários do Presidente perderam o controlo dos protestos, que estão agora a ser conduzidos por “grupos de radicais”, prosseguiu o ministro, acrescentando que a escalada da violência “está a pôr vidas em risco”.

Duros no Governo

Os comentadores interpretaram as declarações de Vitali Zakharchenko, um dos membros do Executivo mais contestado pelos manifestantes, como o prenúncio do endurecimento da posição do Governo e da sua disposição para recorrer a métodos mais violentos para conter os protestos. “Deixem os radicais e regressem a casa ou a um lugar seguro”, aconselhou o ministro. “Todos os que permanecerem na Maidan [a Praça da Independência] ou insistirem em ocupar edifícios serão considerados membros de grupos extremistas”, avisou.

O responsável pela pasta da Energia, Eduard Stavitski, relatou à Reuters os acontecimentos da manhã, quando o seu ministério foi invadido pelos manifestantes. “Um grupo de cerca de 100 pessoas, armadas, tentaram tomar conta do edifício. Eu fui ter com eles e disse-lhes que se não saíssem pacificamente, o sistema energético podia colapsar”, disse o ministro, acrescentando que os manifestantes saíram mas reposicionaram-se à porta, bloqueando as entradas e saídas.

“O que está a acontecer é uma ameaça directa a todo o sistema energético da Ucrânia”, considerou Stavitski. Um dos manifestantes, de cara tapada e roupas de corte militar, explicou à Reuters que o bloqueio se destinava a “controlar” o funcionamento do ministério. “Só entram os funcionários que sejam absolutamente essenciais para a operação do ministério em segurança”, esclareceu.

Terá sido esse desenvolvimento a motivar a reunião de urgência de Viktor Ianukovich com os líderes da oposição — além de Iatseniuk e Klitschko esteve também presente o nacionalista Oleg Tiagnibok, do Svoboda (Liberdade).

Cedências

Segundo uma nota publicada na página do Presidente na Internet, e assinada pela ministra da Justiça, Olena Lukash, os partidos da oposição concordaram em pôr fim aos protestos e o Governo aceitou reduzir o dispositivo policial na rua —duas “operações” que ocorrerão em simultâneo e de forma gradual.

Contradizendo o ministro do Interior, o chefe de gabinete do Presidente disse ainda que o Governo estava disposto a conceder uma amnistia a todos os manifestantes que desocuparem pacificamente os edifícios governamentais — na capital e em várias outras cidades para onde já alastraram os protestos.

A crise política na Ucrânia rebentou no fim de Novembro, quando o Presidente suspendeu as negociações com a União Europeia para a assinatura de um acordo de cooperação económica e política, e aceitou um novo pacto comercial com a Rússia. Depois de várias semanas de impasse, a violência escalou esta semana depois da morte de dois activistas, alegadamente baleados pelas autoridades num confronto com manifestantes na Praça da Independência (Maidan).

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