Telefonema para o maquinista foi feito pelo controlador que viajava no comboio

Francisco José Garzón contou, pela primeira vez, que o controlador Antonio Martín Marugán lhe ligou através do telemóvel da empresa, algo que só pode ser feito em caso de emergência.

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O acidente fez 79 mortos Miguel Vidal/Reuters

O maquinista do comboio que descarrilou em Santiago de Compostela disse nesta quarta-feira que recebeu um telefonema dois minutos antes do acidente, feita pelo controlador a partir do interior da composição. Os dois homens tinham ocultado a existência desta chamada nos seus primeiros depoimentos – de acordo com alguns dos seus colegas, Francisco José Garzón terá dito que "não queria envolver ninguém".

Os media espanhóis avançaram na terça-feira que o maquinista estava a falar ao telemóvel com um funcionário da Renfe no momento do acidente. Na tarde desta quarta-feira, foram divulgados mais pormenores dessa conversa, a partir da informação registada pelas duas "caixas negras" e do depoimento do próprio Francisco José Garzón no Tribunal Superior de Justiça da Galiza.

O maquinista disse, pela primeira vez, que recebeu um telefonema do controlador Antonio Martín Marugán, que seguia no mesmo comboio. A chamada foi feita através de telemóveis da empresa. De acordo com o mesmo depoimento, o controlador ligou ao maquinista para lhe dar instruções sobre a linha em que deveria entrar à chegada à estação de Ferrol.

A estação laSexta revela a curta troca de palavras entre o maquinista e o controlador:

– "Como estás?"

– "Bem, estamos a chegar."

– "Quando entrares, entra pela via dois."

– "Não te ouço bem..."

A comunicação é então interrompida e segundos depois o comboio descarrila.

O jornal El País refere que o protocolo da empresa só permite chamadas telefónicas no interior do comboio em situações de emergência, mas outros maquinistas da Renfe que estão em contacto com Francisco José Garzón disseram ao jornal que isso acontece em muitas viagens. "Infelizmente ligam-nos muitas vezes [por telemóvel], é algo que ocorre muitas vezes de forma injustificada", disse um maquinista que costuma fazer o mesmo trajecto e que não foi identificado.

Os colegas de Garzón disseram ao jornal espanhol que costumam atender o telemóvel da empresa porque receiam tratar-se de "um aviso importante, uma emergência, como um obstáculo atravessado na linha", embora também estejam proibidos de o fazer – as comunicações no interior do comboio devem ser feitas através de um sistema fixo, próprio para esse efeito.

Os dados das "caixas negras" revelam que a chamada foi feita às 20h39, dois minutos antes do descarrilamento. Poucos segundos antes do acidente, é audível o som das balizas do sistema de segurança, a poucos metros da curva.

O maquinista Francisco José Garzón não tinha dado conhecimento desta conversa telefónica aos investigadores. Na noite de domingo, o juiz Luis Aláez perguntou-lhe se tinha mantido algum tipo de comunicação com o posto de controlo, ao que o maquinista respondeu: "Não, não me lembro." O juiz não fez qualquer pergunta sobre a existência de uma chamada através de telemóvel e o maquinista também não a mencionou. Segundo o jornal El País, os seus colegas e amigos perguntaram-lhe por que escondera este facto. "Não quero envolver ninguém", terá dito Francisco José Garzón.

No seu depoimento, o controlador Antonio Martín Marugán também não fez qualquer referência à existência desta chamada.
 

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