"Se me derem como culpado, quero ir para a cadeia", diz Silvio Berlusconi

Terça-feira o magnata e político italiano sabe a resposta ao recurso num caso em que foi condenado a uma pena de prisão. Recusa a prisão domiciliária a que tem direito por ter mais de 70 anos.

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Silvio Berlusconi fotografado na quinta-feira em Roma GIULIO NAPOLITANO/AFP

O magnata da comunicação e antigo primeiro-ministro de Itália Silvio Berlusconi já se prepara para uma repsosta negativa ao recurso da sentença que o condenou a um ano de prisão (foram quatro, mas três foram amnistiados) e cinco sem exercer cargos públicos. A resposta será dada pelos juízes na terça-feira e Berlusconi já avisou: "Quero ir para a cadeia."

Em Itália, quem tem 70 anos ou mais e comete um primeiro crime - desde que não seja um crime de sangue - não cumpre pena na prisão em caso de condenação. Assim, e se os juízes confirmarem a condenação por fraude fiscal, poderão encontrar uma outra forma de reclusão ou punição.

Para ser fiel à forma dramática como faz política, ou tentando pressionar os magistrados, Berlusconi começou a enviar recados: "Não irei para o exílio. E não aceitarei fazer trabalhos de interesse geral [serviço comunitário] como um criminoso que precisa de ser reeducado", disse em entrevista publicada este domingo no jornal Libero.

"Tenho quase 78 anos, e tenho direito à prisão domiciliária, mas, se me considerarem culpado, se assumirem essa responsabilidade, quero ir para a cadeia", disse.

Os analistas políticos italianos dizem que a possibilidade de prisão não assusta o político milionário que, além de ter sido réu neste processo, responde noutros casos - um por corrupção (pagou a um deputado para mudar de campo, ajudando a derrubar um governo) e outro por ter feito sexo com uma menor e incitamento à prostituição de menores. O julgamento deste último caso já aconteceu e em Junho Berlusconi foi condenado a sete anos de prisão e à interdição de exercer cargos públicos, tendo apresentado também um recurso contra a sentença.

A grande preocupação de Berlusconi é a interdição de exercer cargos públicos por cinco anos, o que o colocaria de vez do lado de fora do jogo político. Berlusconi, um conservador de direita, entrou na política em 1994 e foi três vezes primeiro-ministro. Desde Fevereiro que é senador e em caso de perder o direito a exercer cargos públicos o Senado tem de confirmar a decisão.

O tribunal de apelação que tem o caso de fraude fiscal entre mãos tem várias opções. Pode tomar uma decisão rápida, que será conhecida já na terça-feira. Ou optar por debater o caso e anunciar a conclusão no final da semana ou ainda mais tarde. Seja como for, a decisão é vinculativa - Berlusconi chegou ao fim da linha dos recursos neste caso particicular; a sua estratégia (que usou em vários outros processos judiciais no passado) era que o recurso só fosse avaliado depois das férias judiciais, o que faria prescrever o crime de que foi acusado.

O que for concluído pelo tribunal pode ter efeitos na política italiana dirigida pelo já frágil Governo de coligação de Enrico Letta. Berlusconi ameaçou retirar o apoio do seu partido, o Povo da Liberdade, à aliança que sustenta Letta, que está no cargo desde o início do ano.Berlusconi também já disse que não retirará o apoio; o Cavaliere, como lhe chamavam em Itália, quer continuar a manter a Itália presa pelo fio das suas decisões. O Povo da Liberdade continua a estar no topo das preferências políticas dos italianos, surgindo nas sondagens ou em primeiro ou em segundo lugar, diz a AFP.

O caso em apreciação no tribunal de recurso diz respeito à faceta de magnata dos media de Silvio Berlusconi. Foi acusado de ter inflacionado as taxas de difusão de programas cujos direitos pertenciam às suas empresas quando estas, por sua vez, os venderam ao império audiovisual italiano Mediaset, que também lhe pertence. Comprou barato e vendeu caro, e o truque financeiro fê-lo ganhar dinheiro, mantendo parte dos lucros fora da Itália - terá lesado o Estado em sete milhões de euros.

Berlusconi tentou evitar este julgamento argumentando que não era responsável pela gestão do grupo Mediaset quando a ginástica financeira foi feita; era primeiro-ministro em 2002-03. A juíza Laura Bertolé rejeitou o argumento: "Berlusconi esteve sempre no topo da cadeia de comando do seu grupo."
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

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