Obama: "Se eu quiser saber o que a chanceler Merkel pensa, telefono-lhe"

Presidente norte-americano comenta polémica sobre acusações de espionagem em países da União Europeia.

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Barack Obama frisa que os EUA partilham muita informação com os países europeus Saul LOEB/AFP

O Presidente dos Estados Unidos voltou a comentar as suspeitas de espionagem das agências norte-americanas na Europa, mas a declaração saiu-lhe mais em forma de crítica às reacções dos principais líderes europeus. "Se eu quiser saber o que a chanceler Merkel pensa, telefono-lhe", afirmou, aplicando o mesmo exemplo ao Presidente francês, François Hollande, e ao primeiro-ministro britânico, David Cameron.

Obama respondeu assim ao coro de críticas que se ouve na União Europeia desde que a revista alemã Der Spiegel e o jornal britânico The Guardian noticiaram a existência de um programa de espionagem direccionado a instituições, países e cidadãos europeus, com base em informações divulgadas por Edward Snowden, o antigo analista e consultor de sistemas informáticos da CIA e da NSA que revelou o programa secreto de vigilância electrónica conhecido como PRISM, no início de Junho.

A mais recente crítica partiu do Presidente francês, François Hollande. Nesta segunda-feira, à margem da inauguração de um hospital em Lorient, Hollande exigiu que os Estados Unidos "cessem imediatamente" as actividades de espionagem na União Europeia e afirmou que Paris "não aceitará este tipo de comportamento entre aliados".

Em resposta, numa conferência de imprensa em Dar-es-Salam, na Tanzânia, onde se encontrou com o seu homólogo, Jakaya Kikwete, o Presidente dos Estados Unidos deixou a ideia de que ficou surpreendido com a surpresa dos líderes europeus. "A nossa colaboração é tão próxima, que quase não há informação que não seja partilhada entre os nossos países", afirmou.

Por enquanto, a estratégia dos Estados Unidos para responder a esta polémica – que pode afectar a relação do país com a União Europeia, como admitiu o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz – parece ser ganhar tempo.

Tal como o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, também Barack Obama frisou a diferença entre o comportamento genérico da espionagem e os programas divulgados pelo Der Spiegel e pelo The Guardian, segundo os quais os serviços secretos dos Estados Unidos interceptaram os sistemas de telecomunicações e a rede informática das representações da União Europeia em Washington e em Bruxelas; a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque; embaixadas de países aliados, como França, Itália e Grécia; e registaram dados sobre milhões de chamadas telefónicas, mensagens de texto e de correio electrónico em vários países europeus, entre os quais a Alemanha.

"Acho que é importante separar a forma como os serviços secretos recolhem informações sobre o mundo e os programas em particular que estiveram na origem desta controvérsia", disse Barack Obama.

Horas antes, o responsável pela política externa dos Estados Unidos, John Kerry, tinha deixado a mesma ideia numa reunião com a sua homóloga da União Europeia, Catherine Ashton. No Brunei, à margem de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, Ashton e Kerry discutiram o tema, para surpresa do representante norte-americano, segundo o The Washington Post.

"Posso dizer que todos os países do mundo que estão envolvidos em questões internacionais, de segurança nacional, desenvolvem várias actividades para protegerem a sua segurança nacional, e todo o tipo de informação contribui para isso. Tudo o que sei é que isso é comum em várias nações", disse Kerry. Mas garantiu que os representantes da União Europeia não irão ficar sem resposta: "A senhora Ashton levantou a questão e nós combinámos ficar em contacto. Aceitei descobrir exactamente qual é a situação e irei voltar a falar com ela."

Na conferência de imprensa na Tanzânia, Obama confirmou que os Estados Unidos estão em contacto com "os canais comuns para fazer cumprir a extradição de Edward Snowden" em todos os países por onde o norte-americano de 29 anos passou, "incluindo a Rússia".

Os Estados Unidos não têm um acordo de extradição com a Rússia, mas, ao anularem o passaporte de Snowden, as autoridades norte-americanas esperam que Moscovo não autorize a permanência de uma pessoa "sem um passaporte válido, sem papéis legais", como frisou Barack Obama.

O Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que Edward Snowden não será extraditado para os Estados Unidos, mas apenas se deixar de divulgar informações secretas. "Se ele quiser permanecer aqui, há uma condição – deve deixar de infligir danos aos nossos parceiros norte-americanos, por mais estranho que esta declaração possa parecer vinda de mim", declarou Putin numa conferência de imprensa em Moscovo, durante a qual garantiu também que os serviços secretos russos "nunca trabalharam e não estão a trabalhar" com Snowden.
 
 

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