Infanta Cristina e Casa Real implicadas no escândalo de corrupção que atinge genro do rei

Antigo sócio de Iñaki Urdangarin diz que a filha de Juan Carlos integrava a direcção da Fundação Nóos, liderada pelo marido e suspeita de desviar milhões de euros. Casa Real conhecia actividades da entidade

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Protesto contra a monarquia em Palma de Maiorca onde estão a decorrer as audiências PEDRO ARMESTRE/AFP

A infanta Cristina integrou a direcção da Fundação Nóos e a Casa Real espanhola “conhecia e apoiava” as actividades daquela entidade que, sob a presidência do genro do rei Juan Carlos, terá desviado milhões de euros de fundos públicos. A afirmação foi feita este sábado pelo antigo sócio de Iñaki Urdangarin, repetindo perante o juiz de instrução as suspeitas levantadas pelas dezenas de emails que divulgou depois de ter sido apontado como o único responsável pelo esquema fraudulento.

A audição de Diego Torres era aguardada com expectativa – foi a primeira vez em cerca de um ano que o antigo professor de gestão e mais tarde sócio de Urdangarin foi a tribunal para ser ouvido sobre o escândalo que embaraça a monarquia espanhola e que levou o rei a excluir o genro de todos os actos públicos.

Quando foi chamado pelo juiz José Castro, em Fevereiro de 2012, Torres optou pelo silêncio. Mas quando chegou a sua vez, na semana seguinte, o duque de Palma não se fez rogado, acusando o antigo sócio de ser responsável por todos os ilícitos, que incluem desvio de verbas públicas, falsificação de documentos, prevaricação e fraude fiscal.

Abria-se uma guerra entre os dois sócios e, desde então, Torres lançou sucessivas “bombas atómicas”, como chamou aos emails que foi divulgando para provar que Urdangarin era tão responsável como ele na gestão da Nóos e que a Casa Real conhecia as actividades da fundação, que se apresentava como uma organização sem fins lucrativos e de promoção do desporto. Em Abril, revelou uma mensagem de Urdangarin, contando-lhe que Juan Carlos prometera à infanta Cristina interceder num negócio; já em Janeiro implicou o secretário das duas filhas do rei no caso, ao revelar emails que implicavam Carlos García Revenga na gestão da fundação.

O que terá dito agora em tribunal reforça esta versão. “Fazíamos tudo com o consentimento da Casa Real”, disse, segundo fontes citadas pela edição online do jornal El Mundo, reafirmando a convicção de que “era tudo legal”. Durante as sete as horas de audiência, Torres contou que a fundação foi criada “sob a tutela da infanta Cristina” e que tanto ela como Revenga integravam a direcção e tinham um papel tão activo “como os restantes”.

Para sustentar a afirmação, recordou uma reunião no Palácio da Zarzuela, em 2004, em que ele e Urdangarin discutiram com o então presidente da comunidade valenciana, Francisco Camps, e com a alcaide de Valência, Rita Barbera, um contrato para a realização de eventos na cidade. Os dois responsáveis estão entre os que mais dinheiro canalizaram para a fundação (3,5 milhões de euros), encarregando-a de organizar eventos que, ou não chegaram a acontecer, ou custaram muito menos do que as facturas emitidas pela fundação mostravam.

Torres garantiu que Juan Carlos não esteve presente na reunião, mas fez outras revelações embaraçosas para o monarca. Disse que a Casa Real não terá exigido a Urdangarin que se desligasse da fundação quando começaram a surgir as primeiras suspeitas, em 2006, mas apenas que se tornasse mais discreto, segundo o El País. Acusou ainda a defesa do duque de lhe ter dito que “não lhe faltaria trabalho nem dinheiro” se assumisse as culpas pelos ilícitos. Entregou também ao juiz novos de emails, incluindo cinco com referências a Corinna Sayn-Wittgenstein, a princesa alemã que é amiga de Juan Carlos, e que se teria proposto a arranjar trabalho para Urdangarin numa fundação “por bom salário”.

Até ao final do dia, o Palácio da Zarzuela não tinha reagido às declarações de Torres, admitindo-se que mantenha o silêncio até à audiência de Urdangarin, agendada para o próximo sábado.
 
 
 

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