As aventuras de David Pogue

David Pogue, um guru especialista em tecnologia, cronista do New York Times, é um homem dos tempos modernos. Tem blogue, site oficial, página no Facebook e mais de 1 milhão de seguidores no Twitter. Faz tudo: é apresentador e actor, produtor e realizador de vídeos, e até autor de manuais da célebre colecção “para Totós”. Entrevistámo-lo por email e confessou que nunca desmontou um computador.

A vida de David Pogue parece uma permanente aventura. Em Agosto passado, roubaram-lhe o iPhone. Como especialista em tecnologia que é, não perdeu tempo. Lançou um pedido de ajuda aos mais de 1,4 milhões de seguidores que tem no Twitter, leitores da coluna “State of the Art” que publica, desde 2000, todas as quintas-feiras, na secção de tecnologia do jornal The New York Times. Desde o lançamento do novo site, em Novembro, publicada também no PÚBLICO online.

Com a ajuda das coordenadas que lhe apareciam no Find My iPhone – que permite visualizar num mapa o sítio exacto em que se encontra o iPhone, desde que essa função tenha sido activada pelo seu dono – e com a ajuda de todos os que se envolveram online nesta busca, percebeu que o telemóvel estava num bairro de má fama. E depois de algumas peripécias, a aventura em busca do telemóvel de Pogue acabou bem: a polícia recuperou o aparelho no quintal de uma moradia. 

“Sou incrivelmente sortudo. Sortudo por ter tantos seguidores no Twitter. Sortudo por se preocuparem o suficiente para se envolverem. Sortudo porque a polícia não baixou os braços e até foi revistar o quintal daquela casa. Sortudo, e agradecido. Muito agradecido”, escreveu na altura no seu blogue, o premiado “Pogue’s Posts”.

Antes de ser conhecido por explicar coisas tecnologicamente complicadas a pessoas que não são especialistas, David Pogue, que nasceu em Ohio, nos Estados Unidos, em 1963, era músico. Licenciou-se em Música na Universidade de Yale, onde também estudou ciências computacionais. Fez carreira como compositor e maestro de musicais da Broadway, em Nova Iorque, e é doutorado em música pelo Conservatório Shenandoah.

Começou por escrever manuais que explicavam programas de sofware destinados a compositores e músicos e, mais tarde, a ensinar os colegas da Broadway a usarem os computadores. Daí passou às celebridades – escritores e actores de Hollywood – e, em 1988, foi convidado para escrever na revista Macworld, onde teve uma coluna, The Desktop Critic, até se mudar para o The New York Times, em 2000. Tem um site onde se pode ficar a conhecer todo o seu trabalho.

Já disse várias vezes que é um “recém-chegado ao mundo dos computadores”, no sentido em que chegou às novas tecnologias tarde e acredita que não ser um nativo digital – como o são os seus três filhos – lhe dá “uma grande vantagem” no dia-a-dia. “Lembro-me do que é uma pessoa sentir-se intimidada pelas novas tecnologias. Lembro-me de ficar perplexo. Lembro-me do medo”, diz ao PÚBLICO numa entrevista por email.

Especializou-se em tornar fácil, aos olhos dos outros, aquilo que à primeira vista parece ser muito complicado. Escreveu sete livros da colecção “For Dummies”, que em Portugal se chama “Para Totós” (sobre os mais diversos assuntos), e criou a colecção “Missing Manual”, manuais dedicados a assuntos específicos (desde sistemas operativos a aparelhos como o iPhone) que é editada pela O’Reilly. “Na brincadeira as pessoas chamam-me ‘techie’ ou ‘geek, mas na realidade não sou um. Nunca desfiz um computador e voltei a montá-lo. Nunca soldei nada. Nunca criei uma aplicação. Represento o leigo, o cidadão normal. Para os meus livros e para a minha coluna no jornal, é uma vantagem: eu falo a língua dos leitores”, acrescenta o jornalista de 49 anos.

Desde que começou a usar a Internet, o que o surpreendeu mais foi a Web 2.0 e o crescimento de “sites” em que os utilizadores fornecem o material e o dono do site só cria um template. Está a referir-se ao Facebook, ao Craigslist, ao YouTube e ao Flickr. “Todos são histórias de sucesso da Web 2.0”, afirma.

Ao longo destes anos, além de escrever, David Pogue tem feito vídeos que misturam humor e tecnologia e em que ele faz tudo: é produtor, actor, editor, etc. “60 segundos com Pogue” é a sua mais recente novidade no site do The New York Times e, uma vez por mês, escreve sobre ciência na revista Scientific American. É também o anfitrião de uma série sobre tecnologia no programa “Nova” da PBS. “Apresento agora três mini-séries de ciência na PBS, o programa ‘Nova’, e adoro fazê-lo. Acabei de assinar um contrato para mais três séries, por isso vão ver-me muito na TV. Comecei outra vez a fazer vídeos para o site do New York Times, depois de ter parado dois anos. Chamam-se ‘60 segundos com David Pogue’, e demoram exactamente um minuto. Não levam mais do que um dia a fazer”, explica ao PÚBLICO.

Foi, aliás, por causa de um vídeo que David Pogue se meteu em outra aventura no Verão passado. E fez algo que esperaríamos mais de uma celebridade: tornou pública a proposta de casamento que fez à sua namorada Nicki Dugan, que vive em São Francisco, na Califórnia. Não era uma proposta de casamento qualquer. Teve a ajuda dos três filhos do primeiro casamento (divorciou-se o ano passado), que vivem com ele em Connecticut. Primeiro realizaram um “trailer” de um falso filme que conta a história de amor entre David e Nick. E que começa assim: “Num mundo onde a vida pode mudar num minuto a única coisa que importa é o amor...”

Depois foi preciso arranjar maneira de ter a família toda numa sessão de cinema em que passaria esse vídeo e onde estavam instaladas câmaras que filmariam a reacção de Nicki, a futura noiva, ao ver o “trailer” pela primeira vez. A seguir, Pogue saltou para o meio da sala e fez-lhe a proposta com a sala de cinema inteira a olhar para eles. Tudo foi filmado. Para mais tarde recordar e para ser um vídeo de sete minutos.

David Pogue partilhou esse vídeo na página do Facebook e no YouTube, e os seus leitores começaram a emocionar-se ao vê-lo. Outros criticaram-no sem dó nem piedade. Tornou-se viral. E o fenómeno serviu para que David Pogue escrevesse, no seu blogue do New York Times, um texto a explicar passo a passo como tudo se passou, que tecnologia usou e como é possível fazer uma coisa parecida com pouco dinheiro. “Claro, que houve ‘haters’ que não gostaram que eu publicasse o vídeo. Mas sabe que mais? Até a Madre Teresa tem ‘haters’. Jesus teria tido ‘haters’. O que nós podemos fazer é o nosso melhor, e celebrar o facto de a maior parte das pessoas aprovar o que fazemos.”
 

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