Italianos podem "continuar a beneficiar de Mario Monti na presidência"

Piero Fassino acredita que a Itália deve muito a Mario Monti, o líder do Governo de tecnocratas saído da crise e do desgaste de Silvio Berlusconi que há um ano assumiu o poder no país. Mas diz que é chegado o tempo para o seu Partido Democrático voltar à chefia do Governo com um programa que descreve como "um "montismo" de rosto humano".

"Um Governo de centro-esquerda deve continuar na linha de Monti, seguindo o rigor e a austeridade indispensáveis para sairmos desta crise. Mas nenhum país vive só de austeridade. É preciso juntar a isso um foco no investimento que dê ao país um novo ímpeto", defendeu numa entrevista ao PÚBLICO numa passagem recente por Lisboa. É o caminho que Fassino vê já a ser experimentado pelo Presidente socialista francês, François Hollande, "um equilíbrio entre o rigor e o desenvolvimento.

Ex-ministro e actual presidente da Câmara de Turim, Fassino foi o último secretário-geral dos Democratas de Esquerda, partido herdeiro dos comunistas que em 2007 se dissolveu para se fundir com A Margarida e dar origem ao actual PD. A última vez que o centro-esquerda esteve no poder não conseguiu cumprir uma legislatura. Romano Prodi foi eleito em 2006 para cair em 2008, depois de ter perdido apoios no Parlamento. Entretanto surgira o PD, mas os italianos não pouparam as forças políticas que tinham sido incapazes de se manter no poder e deram uma nova vitória a Berlusconi. 

A crise e o desgaste dos principais partidos deram entretanto origem a um novo fenómeno, o Movimento 5 Estrelas, liderado pelo comediante Beppe Grillo. Grillo ganhou destaque nacional com as digressões anti-Berlusconi que fazia coincidir com as campanhas. Em 2009, incomodou os dirigentes do PD ao anunciar que queria concorrer às primárias do partido. Na altura, Piero Fassino desvalorizava o efeito Grillo e falava em "piada um pouco provocante". 

Mas Grillo deixou de poder ser ignorado desde que, nas eleições municipais de Maio, o 5 Estrelas conquistou quatro câmaras, incluindo Parma, cidade de 200 mil habitantes que é a segunda maior da região de Emilia-Romagna. De repente, a formação do comediante aparecia nas sondagens como segunda força política com mais intenções de voto, atrás do PD.

A última sondagem, do instituto SWG, publicada na sexta-feira, mostra o PD a subir: o maior partido italiano reúne agora 30% das intenções de voto (estava com 26,7% uma semana antes), seguindo-se o grupo de Grillo, com 19,5% (21,1%). A grande distância surge o Povo da Liberdade, com 14,3%. O partido que Berlusconi ainda lidera está à beira de se partir em dois e ainda não é certo o que fará o antigo homem forte do país.

Fassino continua a defender que Grillo não deve ser levado demasiado a sério. "Ele não é a doença, é a febre. O seu sucesso resulta do descontentamento provocado pela crise que facilmente se descarrega" nos partidos tradicionais, diz. "A demagogia e o populismo apoiam-se no medo e hoje há medo", sustenta. "Mas o problema não é Grillo. É dar respostas aos eleitores. Oferecer propostas credíveis que falem aos problemas das pessoas", insiste.

Para Fassino, a solução também já não passa por Monti, apesar do cenário "Monti-bis" - opção em que, depois das eleições previstas para Março ou Abril, a coligação vencedora não assumisse a governação e os partidos voltassem a recorrer a Monti - continuar a alimentar debates e reunir muitos apoios, de Roma a Bruxelas. "O Governo Monti nasceu numa situação de emergência. As eleições vão servir para sair dessa emergência. Ninguém vai pedir votos para que o país continue a ser governado com a maioria que hoje apoia Monti", diz Fassino.

"Penso que há condições para vermos nascer um Governo de maioria de centro-esquerda com um mandato político, não técnico. Mas a Itália pode continuar a beneficiar de uma personalidade como Monti", defende. Como? "Em breve, vamos ter de escolher o novo Presidente da República."

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