Sudário de Turim mostrado na televisão e polémica continua em livro

Pela primeira vez em 30 anos, a mortalha onde ficaram marcadas as feições de um homem – que a tradição diz que será Jesus – apareceu na televisão, com comentários do Papa. Mas o Vaticano mantém-se distante da polémica.

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O sudário esteve em exposição na catedral de Turim através da televisão Giorgio Perottino/Reuters

É uma das peças mais controversas da história do cristianismo e cada exposição pública provoca uma nova torrente de opiniões. O sudário de Turim — o pano que, segundo a tradição, terá envolvido o corpo de Jesus Cristo após a sua morte — foi objecto de uma emissão de 90 minutos no sábado, transmitida pela RAI, apenas dois dias depois de um investigador da Universidade de Pádua ter ressuscitado a controvérsia sobre a datação do pano de linho guardado na catedral de Turim.

Giulio Fanti, professor de medição mecânica e térmica, defende no seu livro Il Mistero della Sindone (O Mistério do Sudário) que o pano foi produzido entre 280 a.C. e 220 d.C., contrariando os resultados da última investigação científica, realizada em 1988. Nessa altura, cientistas das universidades do Arizona (EUA) e de Oxford (Reino Unido) e da Escola Politécnica de Zurique (Suíça) realizaram testes de carbono 14 e concluíram que o sudário de Turim não existia antes de 1260.

O resultado da investigação de Giulio Fanti foi posto em causa pelo próprio arcebispo de Turim, Cesare Nosiglia, numa nota publicada pela agência noticiosa italiana Ansa: “Como não existe qualquer segurança sobre a autenticidade dos materiais usados na investigação, não pode ser reconhecido qualquer valor a essas alegadas experiências.”

A Igreja Católica tentou sempre manter-se distante desta discussão — já em 1973, aquando da primeira exposição televisiva do sudário, Jose Cottino, porta-voz do então arcebispo de Turim, Michele Pellegrino, fazia eco dessa posição, num texto recuperado do arquivo do jornal inglês Catholic Herald: “Não é tarefa da Igreja dizer ‘Sim’ ou ‘Não’ sobre a autenticidade histórica do sudário. É uma tarefa do cientista e do historiador. Mas qualquer afirmação continuaria a permitir que as pessoas sejam livres de aceitar ou rejeitar o sudário.”

No último sábado, as palavras do Papa Francisco na emissão de televisão foram no mesmo sentido. Com subtileza, referiu-se ao sudário como o “ícone de um homem flagelado e crucificado” e deixou subentendida a diferença entre a imagem e Cristo, quando salientou a importância deste “rosto desfigurado”: “Porque o Homem do Sudário nos convida a contemplar Jesus de Nazaré.”

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