Síria e Iraque são “escolas internacionais” para jihadistas estrangeiros
Relatório de especialistas encomendado pela ONU contabiliza cerca de 25 mil combatentes estrangeiros em vários grupos terroristas.
Há mais de 20 mil combatentes estrangeiros integrados em grupos jihadistas na Síria e no Iraque, dois países descritos num relatório das Nações Unidas como “escolas internacionais de finalistas” para quem se quer tornar terrorista.
O crescimento de jihadistas estrangeiros tem acelerado nos últimos meses, segundo um painel de especialistas, que aponta para uma subida de 71% entre meados de 2014 e Março de 2015. O relatório foi pedido em Setembro pelo Conselho de Segurança da ONU a um conjunto de especialistas que supervisionam a aplicação de sanções à Al-Qaeda e concluiu que há cerca de 25 mil combatentes estrangeiros em vários grupos jihadistas, a larga maioria na Síria e no Iraque, “um número maior do que alguma vez antes na História”.
“Os milhares [de combatentes estrangeiros] que viajaram para a República Árabe Síria e para o Iraque (…) vivem e trabalham em verdadeiras ‘escolas internacionais de finalistas’ para extremistas como foi o caso do Afeganistão no final dos anos 1990”, concluíram os especialistas no relatório consultado pela Reuters.
No Iraque e na Síria, os jihadistas estrangeiros juntaram-se sobretudo ao autoproclamado Estado Islâmico, mas também à Frente Al-Nusra, um grupo associado à Al-Qaeda que combate o exército leal ao Presidente sírio, Bashar Al-Assad.
Provenientes de cerca de cem países, a maioria dos combatentes vem de países da região, embora muitos tenham origem em países da Europa Ocidental, como a França ou o Reino Unido.
A “globalização” das organizações terroristas é um dos factores apontados para a grande capacidade de atracção destes grupos, que não conhecem fronteiras. “Aqueles que comem juntos e criam laços podem atacar juntos”, notaram os autores do relatório. “A globalização da Al-Qaeda e dos seus associados, particularmente visível [com o Estado Islâmico], mas também evidente com a Al-Qaeda na Península Arábica [braço mais activo da Al-Qaeda, estabelecido no Iémen], cria uma cada vez mais profunda malha de redes sociais transnacionais.”
Para além da Síria e do Iraque, o relatório dá conta das estimativas dos serviços de segurança afegãos que apontam para que existam 6500 combatentes estrangeiros activos no país. Há relatos igualmente de centenas no Iémen, na Líbia e no Paquistão, cem na Somália e alguns grupos nos países do Sahel – a faixa de países subsarianos que vai da costa atlântica à do mar Vermelho – e nas Filipinas.
A contabilização revelada pelo painel de especialistas está em linha com outros estudos recentes, como o de Janeiro do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e da Violência Política (ICSR, na sigla inglesa), que dizia haver mais de 20 mil combatentes estrangeiros na Síria e no Iraque, dos quais quatro mil vinham de países ocidentais.
Em Setembro, o Conselho de Segurança da ONU adoptou uma resolução vinculativa de todos os Estados-membros para que criminalizem as viagens de cidadãos que se queiram juntar a grupos terroristas estrangeiros ou que tentem facilitar esse processo.