Exército ucraniano sofre uma das maiores perdas em combates no Leste

Rebeldes pró-russos abatem helicóptero ucraniano e fazem pelo menos 12 mortos. Rússia diz que Ucrânia está a "resvalar para a catástrofe nacional".

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É o terceiro helicóptero ucraniano a ser abatido desde o início do mês VASILI MAXIMOV/AFP
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Homens do Batalhão Vostok, pró-russo, em Donetsk Iannis Behrakis/Reuters
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O Batalhão Vostok é formado na sua maioria por mercenários tchetchenos Iannis Behrakis/Reuters
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Um elemento do Exército Ortodoxo Russo, um grupo separatista recém-formado Maxim Zmeiev/Reuters
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Pelo menos 33 voluntários russos morreram em combate no aeroporto de Donetsk, admitem os separatistas Iannis Behrakis/Reuters

A primeira semana após a eleição do novo Presidente ucraniano tem sido uma das mais mortíferas desde o início das ocupações de edifícios governamentais por separatistas pró-russos no Leste do país.

Depois dos combates de segunda e terça-feira no aeroporto da cidade de Donetsk, que fizeram várias dezenas de mortos entre os insurgentes, esta quinta-feira foi um dos dias mais trágicos para as forças ucranianas, com a morte de pelo menos 12 soldados, entre os quais um dos mais experientes oficiais do Exército da Ucrânia.

O major-general Sergi Kulchitski, da Guarda Nacional da Ucrânia, foi uma das vítimas da queda de um helicóptero, abatido por separatistas pró-russos nas proximidades de Slaviansk, a cidade que serve de quartel-general aos insurgentes no Leste da Ucrânia. Este foi o terceiro helicóptero a ser abatido pelos separatistas desde o início do mês, todos na região de Slaviansk, na província de Donetsk.

A queda do aparelho foi testemunhada por um repórter da agência AFP e as imagens foram partilhadas no YouTube, mas os primeiros pormenores sobre o ataque foram avançados um pouco mais tarde pelo Presidente ucraniano em exercício, Oleksandr Turchinov (Petro Poroshenko, vencedor das eleições do passado domingo, só tomará posse em Junho).

Numa declaração proferida em Kiev, Turchinov disse que o ataque fez 14 mortos entre as forças ucranianas, mas a liderança da Guarda Nacional avançou mais tarde que morreram 12 soldados e que um outro sofreu ferimentos graves.

"Acabei de receber a informação directamente de Slaviansk de que os terroristas abateram um helicóptero com recurso a material antiaéreo russo", disse o Presidente ucraniano em exercício, para sublinhar a acusação de envolvimento de Moscovo no conflito no Leste do país – uma acusação que a Rússia sempre negou.

Seja qual for o balanço final, esta é uma das maiores perdas no lado ucraniano fiel a Kiev desde o início dos combates no Leste, nos primeiros dias de Abril. O dia mais sangrento para as forças ucranianas foi a quinta-feira da semana passada, quando morreram 16 militares em Volnovakha, na província de Donetsk, e um na província vizinha de Lugansk.

Moscovo também reagiu aos mais recentes confrontos, voltando a apelar ao "diálogo nacional com todas as forças políticas e representantes de todas as regiões". Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse que a Ucrânia corre o risco de "resvalar para a catástrofe nacional" se o Governo de Kiev não puser fim à operação militar no Leste do país contra os separatistas pró-russos.

Rebeldes prometem resistir
Pouco depois de ter sido eleito à primeira volta nas eleições presidenciais de domingo passado, o multimilionário Petro Poroshenko prometeu pôr fim à onda de separatismo no Leste do país em "poucas horas".

Um dia depois, na segunda-feira, as forças ucranianas esmagaram uma tentativa das milícias pró-russas de assumirem o controlo do Aeroporto Serguei Prokofiev, em Donetsk. No final de dois dias de violentos combates morreram pelo menos 40 separatistas, segundo os números de Kiev, ou até uma centena, segundo os líderes da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD).

Já nesta quinta-feira, depois do ataque contra o helicóptero das forças ucranianas, os rebeldes pró-russos renovaram a sua determinação em continuar a combater.

"Não vamos sair daqui. Vamos ficar e defender as nossas posições", disse Denis Pushilin, o homem designado pelos separatistas como chefe de Estado da RPD. Mas Pushilin disse também que as milícias pró-russas não estão equipadas para fazer frente ao poderio do Exército ucraniano, e frisou que continua à espera de ajuda de Moscovo.

O Batalhão Vostok
Nos últimos dias tem sido muito comentada a suspeita da chegada a Donetsk do Batalhão Vostok, um grupo de mercenários tchetchenos que lutou na guerra da Geórgia, em 2008, sob as ordens das chefias militares russas.

Nesta quinta-feira foram partilhadas fotografias e vídeos nas redes sociais que mostram vários homens armados a entrar em Donetsk, com uma finalidade ainda por esclarecer. Nas imagens vê-se um grupo de soldados a cercar a sede dos separatistas em Donetsk, e vários jornalistas presentes na cidade deram conta de que o batalhão expulsou pró-russos do interior do edifício e ordenou a remoção das barricadas.

As intenções não são claras – durante o dia especulou-se que estaria em curso uma cisão entre os separatistas, mas um dos homens identificado pelo correspondente do jornal The Guardian como o líder do Batalhão Vostok disse que se tratou de uma operação para evitar um risco de incêndio. O mais provável, de acordo com os testemunhos de jornalistas no local, é que os soldados profissionais tenham entrado em Donetsk para instaurar a ordem entre as forças separatistas.

Numa notícia publicada na terça-feira, a jornalista do Financial Times Courtney Weaver disse ter falado com tchetchenos, que terão revelado o seu envolvimento nos combates de segunda e terça-feira no aeroporto de Donetsk. "Eles [os soldados ucranianos] mataram um dos nossos, e nós não vamos esquecer-nos disso. Vamos matar cem deles em troca da morte do nosso irmão", disse um dos combatentes, identificado pelo jornal como um tchetcheno de 30 anos de idade.

Já nesta quinta-feira, o líder separatista Denis Pushilin, citado pela agência Reuters, acabou por reconhecer também o envolvimento de "voluntários" russos nos combates, ao dizer que "[os corpos] dos voluntários da Rússia serão enviados hoje para a Rússia". Ao todo, segundo os próprios separatistas, morreram pelo menos 33 russos nos combates no aeroporto de Donetsk.

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