Dezenas de mortos devido a ofensiva de Kiev em Slaviansk e confrontos em Odessa

Dois helicópteros do exército foram abatidos em tentativa do exército para recuperar cidade de Slaviansk aos pró-russos. Merkel e Obama ameaçam mais sanções.

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Pró-russo com armas de fogo Yevgeny Volokin/REUTERS
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Pró-russ atira uma pedra aos manifestantes em Odessa Yevgeny Volokin/REUTERS
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GENYA SAVILOV/AFP Pró-russos bloqueiam a estrada Kramators-Slavyansk, para impedir a passagem do exército ucraniano
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Carro blindado usado pelos pró-russos REUTERS/Baz Ratner
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Obama e Merkel reuniram-se na Casa Branca Guido Bergmann/REUTERS

Um grupo de pró-russos com capacetes, armas de fogo, matracas, correntes e explosivos atacou esta sexta-feira uma manifestação pró-Kiev em Odessa — cerca de 1500 pessoas, a maior parte dos quais adeptos de clubes de futebol locais e de Kharkov, diz a AFP. Mas os manifestantes responderam violentamente e o edifício onde se barricaram os pró-russos foi incendiado. Segundo os números divulgados pelo Ministério do Interior ucraniano, morreram 35 pessoas, algumas intoxicadas pelo fumo e outras por se terem atirado da janela do prédio.

Este foi o dia mais sangrento desde que começaram as ocupações de edifícios e órgãos de poder no Leste da Ucrânia. Odessa é uma cidade junto ao mar Negro e na fronteira com a Moldávia. Fica longe de Slaviansk, a cidade do Leste do país onde na semana passada foram capturados observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e que o exército ucraniano começou a tentar recuperar. Lá encontrou encontrou uma pesada resistência — dois helicópteros foram abatidos por armamento anti-aéreo. O balanço final foi de cinco mortos, com vítimas entre os pró-russos.

“Artilharia pesada”
Nos combates em Slaviansk, dois helicópteros MI-24 foram abatidos e dois militares ucranianos foram mortos. “Os aparelhos foram abatidos por desconhecidos com lança-rockets. Dois militares ucranianos morreram e vários ficaram feridos”, anunciou o Ministério da Defesa. Viacheslav Ponomariov, autoproclamado presidente da câmara de Slaviansk, disse à Interfax que os seus homens tinham abatido dois helicópteros. Um dos pilotos morreu e outro foi preso. 

O ministro interino do Interior, Arsen Avakov, usou o Facebook para acusar os separatistas de terem abatido um helicóptero usando “artilharia pesada”, incluindo “lança-granadas e mísseis antiaéreos portáteis”.

O Presidente interino, Oleksander Turchinov, anunciou que a ofensiva em Slaviansk fez “muitos mortos e feridos”, numa mensagem à nação. Pediu a Moscovo que “pare com a histeria, as ameaças e a intimidação” contra a Ucrânia.

Reagindo à ofensiva, a Rússia pediu uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU e afirmou que, “ao utilizar a aviação contra localidades civis, Kiev lança uma operação de represália que destrói a última esperança sobre a viabilidade do acordo de Genebra”.
 
Negociado em Abril entre os dois países, os EUA e a União Europeia, o entendimento visava o desanuviamento da tensão e previa que os paramilitares desocupassem os edifícios que tomaram. Nas declarações feitas em Genebra, o acordo referia-se apenas ao Leste da Ucrânia. No dia seguinte, a Rússia afirmou que dizia respeito também às “organizações fascistas” que integram o Governo provisório ucraniano. Finalmente, as milícias que se apoderaram dos órgãos de poder no Leste recusaram-se a retirar, dizendo que não tinham sido consultadas.

O embaixador russo na ONU, Vitali Churkin, fez em Nova Iorque a exigência: o Governo provisório ucraniano “deve pôr imediatamente fim a todas as suas operações punitivas”.

“É à Rússia que compete fazer marcha-atrás”, retorquiu o embaixador francês na ONU, Gérard Araud, que acusou Moscovo de se comportar como um “bombeiro pirómano”, que semeia chamas em vez de as apagar.  “Nenhum membro deste Conselho deixaria que as suas cidades fossem tomadas por militantes armados sem reagir”, reforçou o embaixador britânico, Mark Lyall Grant, denunciando a “espantosa hipocrisia” da Rússia, que “arma os regimes mais repressivos do mundo, como a Síria”. 

As armas sofisticadas usadas pelos rebeldes pró-russos — capazes de deitar abaixo helicópteros, como se verificou — “confirmam que há profissionais armados e equipados pela Rússia”, acrescentou o diplomata.

Merkel e Obama ameaçam
A chanceler alemã, Angela Merkel, reuniu-se com o Presidente dos EUA, Barack Obama, em Washington, e boa parte da conversa foi sobre a Ucrânia. Garantir a realização das eleições presidenciais de 25 de Maio é a grande prioridade de Merkel. “Melhorar a estabilidade do país é crucial. Se não, pode ser inevitável lançar novas sanções contra a Rússia”, avisou.

“Não estamos interessados em punir o povo russo”, frisou Obama. “Mas a ideia de que há um levantamento espontâneo na Ucrânia é posta em causa pelo uso de armas anti-áreas pelos pró-russos”, afirmou. A visão de Putin deve ser levada em conta, mas o Presidente russo “não tem o direito de violar a integridade territorial ucraniana”. Por isso, o próximo passo podem ser sanções “de âmbito mais amplo, que afectem sectorialmente a economia russa”, avisou Obama.

Merkel pedira ao Presidente russo que usasse a sua influência sobre os separatistas para libertar os 11 observadores da OSCE, sete dos quais estrangeiros. Em resposta, Putin insistiu que só poderá haver uma solução para crise quando o exército ucraniano retirar do Leste, onde a maioria da população é russófona.

Obama comentou esta atitude, considerando que o tratamento dado aos observadores da OSCE é “vergonhoso”. “Foram exibidos aos media, forçados a fazer declarações sob a ameaça de armas.” Sem que Moscovo protestasse. “A Rússia deve esforçar-se para que os observadores sejam libertados”, sublinhou.

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