Sanções começam a deixar marcas na economia russa

Clientes de vários bancos impedidos de utilizar cartões bancários para transacções e agências de rating apresentam perspectivas negativas para a Rússia.

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As sanções não impediram Putin de ratificar a anexação da Crimeia Sergei Chirikov/AFP

A nova ronda de sanções contra a Rússia anunciada na quinta-feira pelos Estados Unidos já está a ter impacto nos mercados internacionais, mas parece improvável que Moscovo recue nas suas intenções.

No dia em que a anexação da Crimeia ganhou força de lei, os clientes de vários bancos russos ficaram sem poder utilizar os seus cartões Visa e Mastercard para efectuar pagamentos. As empresas norte-americanas emissoras de cartões bancários suspenderam os serviços aos bancos russos implicados nas sanções. O Rossia, controlado por Iuri Kovalchuk, considerado o “banqueiro pessoal dos altos responsáveis russos”, foi directamente sancionado pelos EUA, mas os clientes de três outros bancos também se viram afectados.

O Rossia serve 470 mil particulares e 24 mil empresas, segundo a AFP. Os bancos SMP e Investkapitalbank, detidos pelos irmãos Rotenberg, ambos incluídos na lista de sanções, também foram afectados pela decisão da Mastercard e da Visa, assim como o Sobibank, uma filial do Rossia.

O índice bolsista russo MICEX iniciou a sessão de sexta-feira com uma queda de 3%, acabando por conseguir obter uma ligeira recuperação ao fim do dia, mas mesmo assim fechou em terreno negativo.

Logo após a declaração de Obama, a agência de notação financeira Standard and Poor’s anunciou que ia colocar a nota da Rússia numa perspectiva “negativa”, o que significa que nas próximas avaliações o rating da dívida pode descer. Outra agência, a Fitch, seguiu o exemplo. Moscovo retirou importância às revisões das agências de rating, lembrando as “objecções” em relação à sua objectividade levantadas tanto por especialistas russos como ocidentais.

Ao contrário da primeira lista de sanções americanas anunciada no início da semana, as personalidades abrangidas desde quinta-feira são sobretudo empresários com ligações profundas ao Kremlin. O Presidente norte-americano, Barack Obama, deixou ainda em aberto a possibilidade de aplicar sanções a vários “sectores-chave da economia russa”, caso a tensão continue a escalar.

Essa perspectiva seria verdadeiramente preocupante e o próprio Obama não escondeu “que podem ser disruptivas para economia mundial”. “Se as sanções limitarem as possibilidades de pagamento aos agentes estrangeiros, isso será grave”, afirmou à AFP Mikhail Kuzimne, analista do Investcafe, lembrando que “a maioria das empresas russas que têm negócios no estrangeiro efectua os seus pagamentos em dólares e tem contas nos EUA”.

Nada disto parece, contudo, afastar a Rússia da sua via e mesmo os visados pelas sanções parecem não temer novas interdições. Entre as reacções às medidas tomadas pelos EUA e pela União Europeia há um tom de desafio e orgulho, como demonstram as palavras de Vladimir Iakunin, presidente da empresa estatal de caminhos-de-ferro: “Não posso esconder que estou orgulhoso, todas as pessoas nesta lista são notáveis, são pessoas que fizeram muito pela Rússia.”

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