Se o Papa Francisco continuar assim, Raul Castro volta a ser católico

Presidente cubano foi agradecer a mediação diplomática do Vaticano com os EUA.

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GREGORIO BORGIA/AFP

O Presidente cubano, Raul Castro, visitou o Papa Francisco, no Vaticano, para lhe agradecer pessoalmente o papel de mediação da diplomacia da Igreja Católica na negociação do início do degelo nas relações entre a ilha comunista e os Estados Unidos.

“Leio todos os discursos do Santo-Padre e se o Papa continua a falar assim, um dia destes vou recomeçar a rezar e regressarei à Igreja Católica. E não estou a dizer isto a brincar”, afirmou Raul Castro, após a audiência com Francisco. Ambos os irmãos Castro receberam educação católica, mas as actividades da Igreja Católica estiveram proibidas em Cuba durante décadas, após a revolução de 1959. As restrições começaram a ser aliviadas no início dos anos 1990.

Castro esteve reunido com o Papa durante quase uma hora, no que foi uma visita de carácter privado e não de Estado – uma audiência invulgarmente longa, sublinha a Reuters, e invulgar também por se realizar ao domingo. O Papa terá aberto uma excepção para Castro, que está a regressar a Cuba depois de ter viajado até Moscovo para assistir às comemorações do 70 anos do fim da II Guerra Mundial na Europa.

O Presidente ofereceu ao Papa uma obra do artista cubano Alexis Leiva Machado, que assina como Kcho, inspirada no tema dos imigrantes que chegam à ilha de Lampedusa, no Sul de Itália. Castrro agradeceu “cordialmente” a mediação do Papa na reaproximação histórica entre Cuba e os EUA, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. O cardeal de Havana, Jaime Lucas Ortega, impôs-se há longos anos como interlocutor do regime e da oposição.

A nova relação entre os EUA e Cuba foi anunciada em Dezembro passado, após mais de meio século de antagonismo, e o Vaticano revelou que a sua diplomacia desempenhou um papel fundamental para essa mudança.

Na Primavera de 2013, o Presidente norte-americano Barack Obama autorizou o arranque de conversações secretas com Havana para pôr fim à política de isolamento que nenhum dos seus antecessores quis mudar. Nessa altura, o Vaticano apresentava-se já como intermediário privilegiado. Estava envolvido nos esforços para libertar o norte-americano Alan Gross, detido em Havana desde 2009, sob acusações de espionagem.

As visitas de João Paulo II e do seu sucessor, Bento XVI, a Cuba, em 1998 e 2012, respectivamente, ajudaram a estabelecer boas relações entre o Vaticano o Governo de Havana. Depois da visita de João Paulo II, Fidel Castro reinstituiu o feriado no dia de Natal.

Agora, o Papa Francisco, o primeiro Sumo Pontífice latino-americano, prepara-se também para visitar a ilha, em Setembro, quando esta inicia um processo de abertura inédito desde a revolução liderada pelos irmãos Castro. O encontro deste domingo serviu também para preparar essa visita.

Mais tarde, numa conferência de imprensa com o primeiro-ministro Matteo Renzi, Raul Castro disse ter saído do encontro com o Papa Francisco “muito impressionado com a sua sabedoria e modéstia.”

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