Presidente do Irão acusa EUA de estarem a azedar as negociações do nuclear

Na sexta-feira o Governo americano anunciou novas sanções contra o país. Uma atitude que "contradiz o acordo de Genebra", diz Rohani.

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Hassan Rohani na conferência de imprensa em que criticou as novas sanções dos EUA BEHROUZ MEHRI/AFP

O Presidente do Irão, Hassan Rohani, acusou este sábado os Estados Unidos de estarem a azedar as negociações do nuclear ao anunciarem novas sanções contra empresas e indivíduos. O Governo de Teerão e o Ocidente estão a escassos meses do prazo fixado para se chegar a um acordo, com uma nova ronda de negociações marcadas para Setembro.

"Os iranianos não têm qualquer confiança nos Estados Unidos" e as novas sanções, "que contradizem os compromissos [mútuos] e o acordo nuclear de Genebra, (...) reforçam essa desconfiança", disse Rohani numa conferência de imprensa transmitida pela televisão iraniana. "Na minha opinião, isto não é construtivo".

Na sexta-feira os EUA anunciaram sanções contra 25 entidades e empresas iranianas, assim como contra indivíduos, acusados de favorecerem o programa nuclear iraniano e de apoiarem o terrorismo. O Governo de Washington justificou esta medida, que surge depois de uma fase de desanuviamento, como uma forma de "manter a pressão sobre os iranianos".

Momentos depois de Rohani dizer que as novas sanções prejudicam as negociações, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Majid Takht-Ravanchi, que é um dos principais negociadores, acusou os EUA de uma "duplicidade totalmente inaceitável". "Não podemos dizer, por um lado, que vamos negociar de boa fé e, por outro, utilizar estes meios", disse o vice-ministro, citado pela AFP.

O Irão e o grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) já assinaram um primeiro acordo, que entrou em vigor no final de Janeiro e deveria ter sido renovado em Julho mas que foi prolongado por mais quatro meses. Nesse documento, o Irão fez compromissos, entre eles o de destruir as suas reservas de urânio enriquecido a 20%, o que cumpriu.

Teerão diz que o seu programa nuclear tem uma finalidade puramente civil, o que é contestado pelo Ocidente. O objectivo das negociações é a assinatura de um acordo definitivo que garanta a natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano em troca do levantamento total das sanções ocidentais e das Nações Unidas contra o Irão, que ao longo dos anos estrangularam a economia deste país.

"Algumas sanções, como as que visam os medicamentos e os produtos alimentares, são crimes contra a humanidade", disse Rhoani, um Presidente moderado que, ao tomar posse, prometeu um novo entendimento entre o Irão e o mundo, tendo o acordo do nuclear sido o primeiro passo desse processo.  "Vamos continuar a combater as sanções e mantemos a nossa certeza de que estas sanções são ilegais".

O Presidente iraniano disse que o seu país continua comprometido com as negociações, mas admitiu que esta última fase será difícil. "Vai ser complicada" porque há "três ou quatro questões difíceis". "Nós vamos continuar nas negociações e se a outra parte não fizer exigências demasiado excessivas, e der provas de sinceridade e de seriedade, que é a nossa atitude, poderemos chegar a acordo", disse o Presidente.

Entre os temas difíceis está precisamente a capacidade de o Irão fabricar urânio enriquecido, com os EUA e a União Europeia a exigirem ao Governo de Teerão que reduza a capacidade das suas centrifugadoras, o que o lado iraniano rejeita. O Governo de Teerão quer aumentarm até 2021 a sua capacidade de fabricar urânio enriquecido que diz ser necessário para responder às suas necessidades de fabrico de combustível para a central de Bouchehr.

As negociações vão ser retomadas em Setembro, com um encontro entre o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif - o líder da equipa de negociadores iranianos - e a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, que representa os 5+1. Será à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas. O Presidente iraniano disse que não está previsto que, nessa ocasião que reúne em Nova Iorque os líderes mundiais, se encontre com o Presidente dos EUA, Barack Obama.


 

   

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