Polícia russa detém 1200 pessoas após protesto anti-imigração

Distúrbios e confrontos com a polícia na sequência de manifestação contra a morte de russo.

Foto
Sinais da violência da noite de domingo VASILY MAXIMOV/AFP

A polícia russa deteve 400 pessoas no domingo na sequência de protestos de cariz racista e contra o assassíno de um jovem russo, atribuído a um imigrante, no sul de Moscovo. Esta segunda-feira, perto de 1200 pessoas foram detidas na unidade de produção de vegetais onde o suspeito do crime trabalhava.

Os distúrbios e confrontos com a polícia, que se prolongaram esporadicamente noite dentro, ocorreram, explicou a BBC, num contexto de crescente tensão entre russos étnicos, imigrantes da região do Cáucaso — que são cidadãos russos —, e não-russos oriundos de antigas repúblicas soviéticas.

A multidão de milhares de pessoas, jovens na sua maioria, invadiu um centro comercial, espancou seguranças, partiu vidros e tentou pegar fogo ao imóvel situado no bairro de Biriouliovo. Um armazém de legumes, onde trabalham muitos imigrantes, também foi alvo de uma tentativa de invasão. Estabelecimentos que empregam imigrantes foram particularmente visados, segundo o New York Times.

Esta segunda-feira, no armazém de legumes, a polícia deteve 1200 funcionários que, explicaram as autoridades, se preparavam para se manifestar. Tratou-se, disseram, de uma detenção para evitar novos confrontos.

“A Rússia para os russos” e “Poder branco” foram frases gritadas por manifestantes no domingo, que acusam os estrangeiros de serem responsáveis pela alta taxa de criminalidade na zona. Segundo a AFP, a multidão ainda conseguiu partir vidros noutros edifícios e danificar viaturas antes da chegada da polícia antimotim. Segundo testemunhas citadas pela agência, entre os manifestantes encontravam-se nacionalistas radicais.

Quando a polícia começou a querer fazer detenções, manifestantes atiraram garrafas contra os agentes, que responderam à bastonada. O chefe da polícia de Moscovo, Anatoli Iakunin, atribuiu os distúrbios a “extremistas”, muitos dos quais, disse, estavam embriagados.

“É impossível viver aqui”
Até ao momento em que um grupo de manifestantes começou a partir vidros, o protesto tinha decorrido de modo pacífico. Inicialmente a concentração reunia apenas cerca de 200 pessoas que pediam justiça contra a morte de Egor Chtcherbakov, de 25 anos, habitante do bairro, apunhalado na quinta-feira em frente à namorada.

Habitantes de Biriouliovo estão convencidos de que o jovem foi morto por um imigrante ilegal e exigiram que as autoridades reforcem a luta contra a imigração clandestina. Alguns defenderam que Moscovo devia fechar as portas aos imigrantes. “É impossível viver aqui”, disse um residente citado pelo New York Times.

O presidente do conselho de direitos humanos criado pelo Presidente, Vladimir Putin, atribuiu às forças policiais responsabilidade por não terem prevenido a violência e também pelos distúrbios. “Por um lado, compreendo o sentimento dos moscovitas que vêem pessoas serem mortas na rua sem a polícia fazer nada”, mas “nada justifica esta perseguição”, disse Mikhail Fedotov.

Em 2010, após a morte de um adepto russo de futebol, atribuído a um homem oriundo do Cáucaso do Norte, milhares de jovens causaram distúrbios semelhantes nas proximidades do Kremlin: confrontaram-se com a polícia e atacaram transeuntes que identificaram como não-russos.
 

Sugerir correcção
Comentar