Parceiros europeus discutem aliança alargada contra o terrorismo

Responsável pela política externa da União Europeia defende maior colaboração entre os governos europeus e os países árabes para conter a ameaça dos militantes islamistas.

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Federica Mogherini quer maior colaboração para o combate ao terrorismo AFP/John Thys

A responsável pela política externa da União Europeia, Federica Mogherini, defendeu a formação de uma aliança alargada contra o terrorismo, assente na colaboração entre os parceiros europeus e com os países árabes, no rescaldo dos recentes atentados em França e da conspiração de militantes islamistas para o ataque a esquadras da polícia, que foi desmantelada na Bélgica.

“As ameaças que enfrentamos não dizem respeito apenas àquilo que vimos em Paris. O risco está espalhado por muitas partes do mundo, a começar pelas nações muçulmanas”, observou Mogherini, que esta segunda-feira participou na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros em Bruxelas e depois reuniu com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil el-Araby, convidado para a cimeira. “Temos de ser mais cooperantes e de partilhar informação”, considerou a responsável pela diplomacia europeia.

Os líderes europeus agendaram para 12 de Fevereiro uma cimeira extraordinária para discutir a questão do terrorismo. No encontro de hoje em Bruxelas, os governantes reconheceram que é necessária uma melhor estratégia para o combate contra os extremistas islâmicos, tanto ao nível doméstico como internacional. Mas as opiniões dividem-se quanto à adopção de nova legislação semelhante ao Patriot Act dos Estados Unidos, ou à alteração das regras de funcionamento do espaço Schengen.

Depois dos atentados em Paris, que fizeram 17 mortos, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, defendeu a “revisitação” da proposta para o estabelecimento de um programa de vigilância de passageiros aéreos, semelhante ao sistema PNR (acrónimo de Passenger Name Record) que existe nos EUA. A ideia foi originalmente apresentada pela Comissão Europeia em 2011, mas nunca passou do papel por causa da oposição do Parlamento Europeu.

O PNR implica a colecção dos dados pessoais dos passageiros pelas companhias aéreas (os itinerários, os métodos de pagamento e até o número do assento), e o tratamento dessa informação pelas agências de segurança, que assim podem sinalizar indivíduos que comprem viagens só de ida para destinos sensíveis, por exemplo. Num discurso na Assembleia Nacional, o primeiro-ministro francês informou que a França avançaria com uma versão nacional do programa ainda este ano.

Esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros belga considerou “urgente” a discussão desse programa, e manifestou esperança numa “mudança de atitude” do comité de Liberdades do Parlamento Europeu, que tem rejeitado a legislação por questões de privacidade. Segundo Didier Reynders, os acontecimentos da semana passada na Bélgica, onde a polícia matou dois suspeitos de terrorismo e deteve cinco indivíduos alegadamente ligados à mesma célula jihadista, vieram expor a “necessidade de vigiar as deslocações de cidadãos que vão combater para a Síria”.

Na mesma linha, o ministro britânico, Philip Hammond, sublinhou que a constituição desse registo europeu de passageiros aéreos permitirá às autoridades nacionais identificar e vigiar os casos de regresso a casa de cidadãos europeus que foram radicalizados ou combateram em territórios controlados pelos jihadistas (Síria, Iraque, Iémen). Estima-se que entre 3000 e 5000 europeus tenham viajado para se juntar às fileiras do Estado Islâmico na Síria e no Iraque. O director da Europol, Rob Wainwright, disse que uma lista de suspeitos terroristas coligida pelos vários países já tem 2500 nomes.

O Reino Unido defende a revogação dos passaportes desses indivíduos, que ficarão assim impedidos de retornar aos países de origem para levar a cabo acções terroristas. “Temos a obrigação de fazer absolutamente tudo o que for possível para deter a ameaça terrorista”, sublinhou.

Em declarações à rádio francesa Europe 1, o coordenador europeu da luta contra o terrorismo, Gilles de Kerchove, considerou “essencial controlar a Internet e as redes sociais” que permitem a difusão da mensagem dos extremistas. “Os jihadistas que têm sangue nas mãos devem ser mandados para a prisão. Os outros têm de entrar num programa de reabilitação”, defendeu.
 

   

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