Os dois lados cometeram crimes de guerra em Gaza

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Cerca de 1400 palestinianos e 13 israelitas morreram na ofensiva de três semanas Ismail Zaydah/Reuters

Há provas de que Israel e o Hamas cometeram crimes de guerra - e possivelmente crimes contra a humanidade - durante a última ofensiva de Israel contra a Faixa de Gaza, em Dezembro e Janeiro. As conclusões são do relatório oficial da ONU sobre o conflito de três semanas, ontem apresentadas. O documento acusa Israel de usar “força desproporcionada” e de ter imposto “um bloqueio que equivale a uma punição colectiva” antes da ofensiva.

A investigação, liderada pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, encontrou provas que “indicam violações sérias de direitos humanos internacionais e da lei humanitária” por parte de Israel. Detalha sete incidentes em que soldados dispararam contra civis que tentavam fugir das suas casas agitando bandeiras brancas - e por vezes seguindo instruções israelitas -, reiterando as conclusões de um relatório da Human Rights Watch dedicado aos civis atingidos enquanto agitavam bandeiras brancas.

Entre outros casos investigados que podem ser considerados crimes de guerra está o ataque contra uma casa onde os militares tinham forçado civis palestinianos a reunirem-se no bairro de Samouni, em Zeitum, no Sul da Faixa. Outro é o ataque contra uma mesquita durante as orações, no qual morreram 15 pessoas, ou ainda um “ataque directo e intencional” que teve como alvo o Hospital Al-Quds e o seu parque de estacionamento de ambulâncias, na Cidade de Gaza.

Vários palestinianos descreveram à missão da ONU terem sido usados como escudos humanos pelas forças israelitas: o relatório conta o caso de Majdi Abd Raboo, membro dos serviços secretos da Autoridade Palestiniana, obrigado a caminhar à frente das tropas enquanto estas realizavam buscas à sua casa e às casas vizinhas.

Quanto às acções dos grupos armados palestinianos, a ONU diz que há provas de que os lançamentos de rockets contra Israel são crimes de guerra e podem também ser considerados crimes contra a humanidade. “Quando não há um alvo militar pretendido e os rockets são lançados para áreas civis, constituem um ataque deliberado contra a população civil”, conclui-se. “Estas acções são crimes de guerra e podem equivaler a crimes contra a humanidade.”

Ainda sem reacções do lado palestiniano, Israel repetiu o que já dissera: “rejeita” as conclusões de uma missão com um “mandato claramente parcial” que “ignorou os milhares de ataques com rockets do Hamas contra as populações civis que tornaram necessária a operação contra Gaza”. Mas, ainda assim, o Governo “vai estudar este relatório com atenção, como faz com todos”.

A versão final do relatório - baseado em 188 entrevistas, mais de 10 mil páginas de documentos e 1200 fotografias - será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU no fim do mês.

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