NSA deu instruções para usar 11 de Setembro como justificação dos programas de vigilância

"Prefiro estar aqui hoje a explicar estes programas do que a explicar outro 11 de Setembro que não conseguimos impedir" é uma das frases sugeridas num documento revelado pela Al-Jazira.

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Keith Alexander, director da NSA Jim WATSON/AFP

Os funcionários da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana receberam instruções para recordarem os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 sempre que fossem confrontados com as revelações sobre o registo de comunicações de milhões de cidadãos em todo o mundo.

Um documento interno da NSA obtido pela estação Al-Jazira, ao abrigo da lei norte-americana Freedom of Information Act (FOIA), apresenta uma série de exemplos de respostas a dar aos jornalistas e de argumentos para incluir em declarações perante comissões de inquérito.

Sob o título "Sound Bites That Resonate" — palavras ou expressões cuja repetição acaba por convencer quem as ouve — surge a frase: "Prefiro estar aqui hoje a explicar estes programas do que a explicar outro 11 de Setembro que não conseguimos impedir".

O documento foi redigido logo após as primeiras revelações sobre os programas de recolha de metainformação de comunicações entre milhões de cidadãos em todo o mundo, de forma sistemática e indiscriminada — programas que interceptam dados de pessoas que não têm qualquer relação com actividades criminosas ou terroristas.

Ainda nesta sexta-feira, o director da NSA, o general Keith Alexander, usou o argumento dos atentados terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono para justificar a existência de programas como o Prism ou o acesso directo a dados de milhões de utilizadores de empresas como o Google e o Yahoo. "Todos nós nos lembramos do 11 de Setembro. Lembramo-nos de onde estávamos, o que estava a acontecer nesse momento […] — isso mudou as nossas vidas", disse Alexander durante o fórum do Conselho de Baltimore sobre Relações Internacionais.

O documento, desclassificado pela NSA no dia 17 de Outubro, foi pedido pela Al-Jazira ao abrigo do FOIA a 13 de Junho, poucos dias depois das revelações sobre o programa Prism no The Guardian e no The Washington Post.

As frases contidas nas 27 páginas do documento não foram redigidas para servirem de resposta aos programas de escutas a líderes políticos estrangeiros, como a chanceler Angela Merkel ou a Presidente Dilma Rousseff — que só surgiram mais tarde —, nem às actividades de espionagem em relação a suspeitos de terrorismo.

Na resposta ao pedido da Al-Jazira, que antecede o documento redigido pela NSA, lê-se que as palavras, expressões e frases "foram preparadas e aprovadas para que um porta-voz as possa usar, mas não representam necessariamente o que esse porta-voz disse num determinado evento".

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