Missão para destruir armas químicas da Síria terá uma centena de inspectores

Secretário-geral da ONU pede colaboração internacional para “uma operação nunca antes tentada”.

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Uma equipa avançada de inspectores está desde a semana passada na Síria Louai Beshara/AFP

O secretário-geral das Nações Unidas revelou que a missão encarregada de supervisionar a destruição das armas químicas da Síria será composta por uma centena de inspectores. Ban Ki-moon sublinha que se trata de “uma operação nunca antes tentada” que vai exigir a colaboração de vários países.

Numa carta ao Conselho de Segurança, o secretário-geral recomenda a criação de uma missão conjunta entre a ONU e a Organização para a Proibição das Armadas Químicas (OPAQ), liderada por um “coordenador especial” civil, que além de chefiar os trabalhos fará a ligação entre as duas entidades e o governo sírio. Ban Ki-moon entende que a operação deve ter uma “pegada pequena”, com uma base operacional em Damasco e uma base recuada em Chipre, enviando pequenos grupos e apenas pelo tempo necessário aos locais onde se vai realizar a destruição das armas.

A missão vai construir-se a partir da equipa avançada, composta por 20 peritos, que está desde a semana passada em Damasco para verificar a exactidão da lista de armas entregue pelo regime sírio e realizar as primeiras inspecções aos locais associados ao programa. No domingo, os inspectores coordenaram o início da segunda fase – a destruição de munições e equipamentos usados para o fabrico das armas –, mas Ban Ki-moon sublinha que a terceira etapa “será a mais difícil e desafiadora”.

“Entre 1 de Novembro de 2013 e Junho de 2014, a missão conjunta vai apoiar, acompanhar e verificar a destruição de um programa de armas químicas complexo, envolvendo inúmeros locais espalhados por um país mergulhado num violento conflito, e que inclui aproximadamente mil toneladas de armas químicas, agentes [tóxicos] e percursores [os químicos que, quando misturados, dão origem a compostos como o sarin]”, explica Ban Ki-moon, sublinhando que em causa estão substâncias que são “perigosas de lidar, perigosas de transportar e perigosas de destruir”.

Na carta, Ban Ki-moon sublinha que até agora os inspectores contaram com a “plena cooperação” do Governo sírio, a quem compete também garantir a segurança das equipas. Mas o responsável diz que haverá momentos em que os peritos terão de “atravessar linhas da frente e entrar em alguns territórios controlados por grupos armados que são hostis a esta missão”. Diz, por isso, que na terceira etapa é “altamente provável que seja necessário o apoio dos Estados-membros” não só para garantir a segurança dos inspectores, mas também para dar “assistência técnica e operacional”, fornecer equipamentos ou material de apoio.

Putin anuncia acordo sobre forma de destruir arsenal
Até agora apenas a Rússia, aliado e principal fornecedor militar da Síria, se comprometeu a apoiar os trabalhos de destruição das armas químicas – negociada entre russos e norte-americanos e aceite pelo Presidente Bashar al-Assad que evitou, assim, a ofensiva militar com que Washington prometia punir o ataque químico, que a 21 de Agosto matou centenas de civis nos subúrbios de Damasco. O acordo abriu caminho à primeira resolução no Conselho de Segurança sobre a Síria em dois anos e meio de conflito, aliviando também as relações entre as duas potências internacionais.

O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou entretanto que os dois países chegaram a “um entendimento comum” sobre a forma como serão eliminadas as armas químicas – em cima da mesa está a possibilidade de enviar parte dos arsenais para fora do país ou o envio de unidades móveis onde a destruição pode ser feita – e disse acreditar que, apesar dos imensos obstáculos, a missão possa estar concluída “dentro de um ano”. A resolução da ONU aponte, no entanto, Junho de 2014 como data limite para a eliminação completa do programa.

Putin, que está na Indonésia para o fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), aproveitou para elogiar Assad, dizendo que “as dúvidas sobre a prontidão da liderança síria para responder adequadamente às decisões sobre armas químicas provaram ser injustificadas”.

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