Milhares voltaram à rua em Dresden nas “manifestações de segunda-feira” contra a “islamização”

É uma “vergonha para a Alemanha”, diz o ministro da Justiça, Heiko Maas. “Os refugiados são bem-vindos, qualquer que seja a sua religião ou a sua cor de pele.”

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/Hannibal Hanschke/REUTERS

Com bandeiras com as cores da Alemanha, cerca de 15.000 pessoas manifestaram-se, na noite de segunda-feira, na cidade de Dresden, contra a “islamização” e os “requerentes de asilo criminosos”. O número de participantes na acção convocada pelo denominado grupo “Patriotas Europeus contra a Islamização do País” (PEGIDA) foi claramente superior aos 10.000 que tinham saído à rua na semana anterior.

Entre os manifestantes estavam militantes de extrema-direita, neonazis e, principalmente, segundo a AFP, cidadãos que contestam um “Ocidente” que consideram estar em vias de “islamização”.

“Queremos que o nosso país conserve os seus valores. Isso faz de nós nazis?”, disse, citado pela agência, Michael Stürzenberger, um dos manifestantes, reagindo às críticas às “manifestações de segunda-feira”, organizadas pelo grupo nascido em Outubro e que não têm parado de crescer. “Dizer que estas pessoas são islamófobas é escandaloso. Não são de extrema-direita. Amam simplesmente o seu país e as suas tradições”, acrescentou Lana Gabriel, uma austríaca.

Saíram também à rua cerca de 6000 contramanifestantes – números da polícia – com faixas onde se lia: “Dresden sem nazis” ou “Dresden para todos”. Na semana anterior foram 9000. A polícia mobilizou 1200 agentes antimotim e não há registo de incidentes.

A população de Dresden inclui 2,2% de habitantes de origem estrangeira, um número inferior ao de outras zonas do país. As manifestações começaram em protesto contra a construção de centros de acolhimento para estrangeiros na cidade, situada em território da antiga Alemanha de Leste.

A manifestação desta segunda-feira foi a nona organizada pelo PEGIDA, que replica o modelo dos protestos que fizeram vacilar o regime comunista na ex-RDA até à queda do Muro de Berlim, há 25 anos. O grupo, que reclama um endurecimento do direito de asilo, foi ao ponto de reciclar um slogan da altura: “Nós somos o povo.” Protestos de menor expressão ocorreram também já noutras cidades alemãs.

Os desfiles populistas estão a preocupar as autoridades. A chanceler conservadora, Angela Merkel, já tinha dito que “não há lugar na Alemanha” para o ódio contra muçulmanos e insistiu na segunda-feira na condenação ao “incitamento ao ódio e à calúnia”. Disse também aos manifestantes para “terem cuidado para não serem instrumentalizados”.

O ministro social-democrata da Justiça, Heiko Maas, fala em “vergonha para a Alemanha”. Numa entrevista ao diário Süddeutsche Zeitung, procurou desmontar a ideia da “suposta islamização” e afirmou que “a maioria dos refugiados sírios” que têm chegado à Alemanha “não são muçulmanos mas cristãos”. Defendeu também o acolhimento de refugiados, independentemente da origem: “Devemos dizê-lo claramente: os refugiados são bem-vindos, qualquer que seja a sua religião ou a sua cor de pele.”

A Alemanha tornou-se o principal destino de imigração na Europa e o número de refugiados aproximar-se-á este ano dos 200 mil, cerca de 60% mais do que em 2013 – uma subida que é em grande parte explicada pela chegada de sírios, fugidos da guerra.

Uma sondagem divulgada na segunda-feira pelo semanário Die Zeit indica que 49%, praticamente um alemão em cada dois, simpatiza com as manifestações do PEDIGA. Outros indicadores: 30% dizem apoiar “totalmente” os protestos de rua e 59% consideram que o país aceita demasiados requerentes de asilo.

 

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