“Mãos no ar, não disparem”, isto é Ferguson

A tensão diminuiu, mas as manifestações continuam na cidade que tem sido o epicentro do problema racial dos Estados Unidos. Três polícias saíram das ruas por declarações e comportamentos impróprios.

O memorial na rua a Michael Brown
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O memorial na rua a Michael Brown Joshua Lott/AFP
Um manifestante em Ferguson
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Um manifestante em Ferguson Scott Olson/AFP
Manifestantes na sexta-feira em Ferguson
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Manifestantes na sexta-feira em Ferguson Joshua Lott/AFP
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Scott Olson/AFP
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Adrees Latif/REUTERS

Pelo terceiro dia consecutivo, a manifestação do final do dia em Ferguson foi calma, sem conflitos entre pessoas e a polícia. Mas todos os olhos continuam direccionados para a pequena cidade do estado de Missouri que se tornou no epicentro da tensão racial dos Estados Unidos quando, no passado dia 9, um jovem negro de 18 anos, Michael Brown, foi morto pela polícia com seis balas.

“We love Mike, Mike”, “Desmilitarizem a polícia agora!!!”, “Justiça!”, “Não disparem, homens negros também são pessoas” e o lema das manifestações que pedem justiça sobre a morte de Michael Brown, “Mãos no ar, não disparem”, são algumas das frases que aparecem em cartazes que se vêem nas fotografias tiradas na manifestação de sexta-feira.

Os voluntários religiosos, com t-shirts laranjas, desencorajavam os manifestantes que tentavam desafiar a polícia, de acordo com a agência Reuters. Os polícias não intervieram na manifestação que contou com centenas de pessoas.

Ferguson é uma pequena comunidade com 21.000 pessoas, a maioria negra, apesar de a polícia e de os governantes serem, em geral, brancos. A morte de Michael Brown foi o rastilho para um descontentamento da comunidade em relação à forma como os negros são tratados, defendem os defensores dos direitos civis. Mas pessoas de outros estados do país vieram juntar-se às manifestações, que no início desta semana originaram confrontos e detenções.

Manifestantes são “cães raivosos”
Entretanto, três polícias do condado de St Louis, a que Ferguson pertence, deixaram de patrulhar as ruas devido a declarações ou comportamentos considerados condenáveis.

“Estou farto destes manifestantes. Vocês são um fardo para a sociedade e uma praga para a comunidade”, escreveu Michael Pappert, no Facebook, citado pela agência AFP. “Estes manifestantes deveriam ter sido abatidos como cães raivosos na primeira noite.” Em referência aos dois homens responsáveis pelo atentado na maratona de Boston, o polícia perguntou ainda: “Onde andam os muçulmanos com mochilas quando precisamos deles.”

O Departamento de Polícia de Glendale, que pertence a outro subúrbio de St. Louis, disse ter suspendido Michael Pappert na sexta-feira. E referiu que as frases do polícia não eram partilhadas “em absoluto” pelo departamento. O subúrbio de Glendale tem 6000 pessoas, 97% é branca, indica a AFP. “A questão está a ser levada em conta muito seriamente e uma profunda investigação interna vai ser conduzida para determinar porque os posts foram feitos”, lê-se num comunicado daquela força policial.

Antes, a meio da semana, um outro polícia da cidade de St. Ann foi suspenso depois de apontar uma espingarda semiautomática a um manifestante pacífico, gritando-lhe vários palavrões.

Um vídeo divulgado obrigou a polícia a tirar Dan Page das ruas. Este veterano de 35 anos de carreira aparece no vídeo a dar uma palestra onde defende que os Estados Unidos estão à beira do colapso, e refere que não tem problemas em matar: “Pessoalmente acredito em Jesus Cristo como o meu salvador, mas também sou alguém que mata”, diz. “Já matei muito, e se for necessário matarei muitos mais. Se não quiserem ser mortos, não apareçam à minha frente.”

Jon Belmar, chefe da polícia do condado, diz que as declarações são “bizarras” e que embora Dan Page “nunca tenha estado envolvido em mortes que envolvem a polícia, as declarações são inaceitáveis e não são a identidade do departamento”.

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