John Kerry diz aos chineses que a ciberespionagem é um obstáculo à cooperação

Na 6.ª ronda do Diálogo Estratégico e Económico ficou mais uma vez exposta a grande tensão entre as duas potências mundiais. Até os discursos de circunstância foram um pingueponge de recados.

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John Kerry e o Presidente Xi Jinping Jim Bourg/REUTERS

Houve apelos ao respeito mútuo na abertura da sexta ronda do Diálogo Estratégico e Económico entre a China e os Estados Unidos. Mas as divergências entre as duas potências mundiais ficaram imediatamente expostas. E esta quinta-feira, segundo dia dos trabalhos que decorrem em Pequim, o clima tenso foi óbvio quando o secretário de Estado americano, John Kerry, usando palavras invulgarmente agressivas, abordou um dos temas sensíveis que separam os dois países: “A pirataria informática prejudica os nossos negócios e ameaça a competitividade do nosso país. A perda da propriedade intelectual devido à espionagem informática é um balde de água fria sobre a inovação e o investimento”.

A ciberespionagem, disse Kerry, é um problema maior entre os EUA e a China e impede que existam acordos de cooperação mais profundos entre os dois países.

Recentemente, Pequim suspendeu um grupo de trabalho conjunto sobre cibersegurança quando o Departamento de Justiça americano acusou cinco funcionários chineses de realizarem ataques informáticos contra empresas americanas ou a operarem nos Estados Unidos (por exemplo a gigante nuclear Westinghouse).

Representando o país anfitrião, o conselheiro de Estado para as relações externas (e antigo chefe da diplomacia da China), Yang Jiechi, tentou dar perspectiva às declarações de Kerry. Disse que também a China é vítima de ataques informáticos por parte dos americanos — no passado, o Governo chinês classificou a atitude americana de ‘fazer mas não querer que lhe façam’ de “hipócrita”. “A cibersegurança é um problema comum e um desafio que todos os países enfrentam”, insistiu Yang Jiechi na sessão oficial de encerramento da sexta ronda do Diálogo Estratégico.

Na quarta-feira à noite, o jornal The New York Times noticiou que piratas informáticos chineses tinham atacado o departamento governamental de recursos humanos, na tentativa de obterem dados sobre funcionários que pediram autorização para aceder a informações classificadas. Os serviços de segurança seguiram o rastro dos piratas até à China, mas não puderam ir mais além na sua identificação.

A China rejeitou responsabilidades. “Os media americanos e as empresas de cibersegurança criaram esta ideia de que a China é uma ameaça, mas não conseguem provar as acusações que fazem”, disse o porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei. “Estes casos são irresponsáveis e não merecem comentários”.

Na quarta-feira, primeira dia dos trabalhos em Pequim, as palavras de circunstância já tinham, dentro de si, a tensão permanente — e elevada — que existe entre as duas potências mundiais. Kerry disse que os EUA não pretendem “conter o desenvolvimento da China”; o Presidente chinês, Xi Jinping, disse que um conflito entre os dois países seria “um desastre”. O pinguepong continuou: “Divergimos em alguns temas, mas as nossas diferenças não devem ser interpretadas como uma estratégia global”, disse Kerry, “A forma como a China e os Estados Unidos percebem as intenções estratégicas do outro terá uma influência directa nas políticas que vamos adoptar e no desenvolvimento das relações bilaterais”, respondeu Xi.

Neste ambiente de cautela (ou desconfiança) mútua, delegações de ambos os países vão permanecer em Pequim nos próximos dias para discutirem temas tão diversos como a política cambial do yuan (a moeda chinesa, cujo valor é controlado pelo Governo e Washington pretende que seja mais valorizada), os conflitos internacionais (outro tema quente será a política regional chinesa e as disputas territoriais com países onde Washington não quer perder a sua influência) ou a guerra à poluição. 

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