Jean-Marie Le Pen diz que filha arrisca “fazer explodir” a Frente Nacional

Enquanto as contas do partido estão a ser investigadas pela Justiça, a guerra geracional dos Le Pen ameaça fragmentar o partido de extrema-direita.

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Jean-Marie Le Pen tem sido a cara do anti-semitismo e racismo na Frente Nacional Alain Jocard / AFP

Ao atacá-lo, diz Jean-Marie Le Pen, a filha e actual líder da Frente Nacional (FN) está a pôr em causa a identidade do partido e a correr “um risco maior” de "fazer explodir" o próprio partido. “Está a submeter-se ao sistema”, disse o fundador da formação de extrema-direita francesa que nas últimas eleições tem atingido resultados à volta dos 26%.

Marine Le Pen abriu na quarta-feira uma divisão política sem precedentes com o pai. A actual líder tem-se esforçado para limpar a imagem de anti-semitismo associada ao partido e ao seu pai, que em 1991 foi condenado por “banalização de crimes contra a humanidade” e “consentimento do horror” por ter dito em 1987 que as câmaras de gás nazis eram “apenas um detalhe da História”.

Mas nada mudou no seu pensamento, pois já o repetiu várias vezes. A última, a que provocou esta crise na FN, foi numa entrevista à revista de extrema-direita Rivarol, na qual defendeu o marechal Pétain e o regime de Vichy, que capitulou ante a Alemanha nazi.

O fundador da FN critica a mudança de imagem levada a cabo pela filha desde que assumiu as rédeas do partido, em 2011. Na entrevista concedida à RTL na manhã desta sexta-feira, Jean-Marie Le Pen deixou claro que, na sua opinião, a imagem tradicional do partido se deve manter. “Uma FN gentil não interessa a ninguém”, afirmou. “Quando [o partido] for outra coisa, não será nada mais", acrescentou o presidente honorário da Frente Nacional.

Enquanto Jean-Marie garante que vai “defender-se e provavelmente atacar”, Marine Le Pen fala num “suicídio político” do pai e anunciou que lhe serão impostas medidas disciplinares. Deixou no ar o convite para que este se afastasse voluntariamente do partido. Para 17 de Abril está marcado um encontro do directório da FN que pode determinar o afastamento compulsivo do fundador.

Esta guerra entre pai e filha é também a expressão de tensões internas no partido. O poder de Florian Philippot, um politólogo de formação e homem de confiança de Marine Le Pen, incomoda os mais tradicionalistas na FN. Jean-Marie e a sua neta, a deputada Marion Maréchal-Le Pen, colocam-se ao lado desta extrema-direita mais tradicional, que não está interessada no discurso de abertura, mais social, da líder do partido e concebido em colaboração com figuras como Philippot.

“Por trás disto tudo está o sr. Philippot, que é uma peça relativamente recente na FN. Ele faz um jogo pessoal”, denunciou Jean-Marie Le Pen. “Muitos colaboradoradores de Marine vêm de meios exteriores à Frente Nacional”, especificou, para considerar que a sua filha se está a “deixar submeter ao sistema”.

Enquanto o velho Le Pen, conhecido na FN como “o menir”, denuncia esta espécie de quinta coluna que, afirma, destrói o partido por dentro, o financiamento desta formação política está a ser investigado pela Justiça, e há fortes suspeitas de ilegalidades.  

As suspeitas concentram-se nas relações entre a empresa Riwal, dirigida por um próximo de Marine Le Pen, e o micropartido Jeanne – um tipo de estrutura que se tem multiplicado em França, pois estas associações reconhecidas pela Comissão Nacional das Contas de Campanha e dos Financiamentos Políticos permitem contornar legalmente a lei sobre o financiamento dos partidos políticos, embora não possam receber apoios directos.

Esta semana, duas outras figuras da FN foram incluídas no inquérito: David Rachline, presidente da câmara de Fréjus, e Nicolas Bay, eurodeputado e secretário-geral da FN.
 

   

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