Israel vai à reunião do Tratado de Não Proliferação nuclear a pensar no Irão

A ideia é arranjar aliados entre os países árabes que se sentem desconfortáveis com o acordo entre Teerão e as potências ocidentais.

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O primeiro-ministro israelita e o célebre desenho sobre o programa nuclear iraniano que apresentou na ONU Lucas Jackson/REUTERS

Após uma ausência de 20 anos, Israel vai participar, como observador, na conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear que se inicia segunda-feira em Nova Iorque. O objectivo israelita é abrir o diálogo com os Estados árabes sunitas, face ao que considera serem causas comuns: o programa nuclear iraniano e a crescente instabilidade no Médio Oriente.

Israel nunca assumiu de forma directa ter armas atómicas – diz ter apenas energia nuclear. Mas é amplamente considerado o único Estado do Médio Oriente que tem um arsenal nuclear. Nunca se juntou ao Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares, desde que entrou em vigor, em 1970, e que tem estas reuniões de revisão de cinco em cinco anos. Mas em 1995 afastou-se de todo destas reuniões, considerando que tinham sido aprovadas resoluções discriminatórias contra Israel,

Agora, ao regressar à reunião, que decorre entre 27 de Abril e 22 de Maio, Israel anuncia que pode estar aberto a submeter-se a inspecções e controlos internacionais às suas instalações nucleares – exigidas aos membros que assinam o tratado. Mas com um pormenor que muda tudo: só se estiver em paz com os árabes e o Irão.

O Irão – que é signatário do Tratado de Não Proliferação – está neste momento a negociar os pormenores do acordo para pôr um travão no desenvolvimento do seu sector nuclear com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha. O documento final terá de estar pronto até 30 de Junho, mas o acordo conta com a oposição feroz de Israel, que não acredita que Teerão não queira produzir bombas atómicas.

“A questão de saber se a paz tem de acontecer antes do desarmamento só tem contribuído para afundar as negociações sobre a criação de um Médio Oriente livre de armas nucleares”, afirmou um responsável israelita à Reuters, que pediu o anonimato. “Pensamos que chegou a altura de todos os países moderados discutirem os problemas regionais”, declarou. “A nossa presença na conferência em Nova Iorque não é para mudarmos de posição, mas para a reforçar”, sublinhou.

Mas a conferência servirá para Israel capitalizar o desconforto de alguns países árabes face ao princípio de acordo do Irão e as seis potências obtido a 2 de Abril uma abordagem bastante mais subtil que o célebre esquema da bomba que o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu apresentou nas Nações Unidas em 2012.

O Egipto tem há anos um plano para uma conferência internacional para discutir um Médio Oriente livre de armas atómicas – e ao mesmo tempo tem criticado a opacidade israelita relativamente ao nuclear. Mas mais recentemente, tem-se alinhado com Israel, na luta contra adversários islâmicos comuns.  

“A nossa iniciativa para um Médio Oriente livre de armas não convencionais é um princípio e não vai mudar. Mas não é contra Israel”, disse um responsável egípcio, também citado sob anonimato. “Se vamos pressionar Israel em Nova Iorque? Acho que não. Acho que a pressão não será intolerável.”

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