Imagens da NATO mostram Exército russo pronto a intervir junto à fronteira com a Ucrânia

As fotografias deram origem a uma discussão sobre a neutralidade de Kiev, que o Kremlin quer consagrada na lei ucraniana.

Caças russos estacionados na base de Buturlinovka, a 150 quilómetros da fronteira ucraniana
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Caças russos estacionados na base de Buturlinovka, a 150 quilómetros da fronteira ucraniana AFP
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Várias das imagens disponibilizadas pela NATO mostram aeronaves de combate prontas a intervir REUTERS
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Tanques russos na base de Belgorod, na região Sul da Rússia REUTERS
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De visita à Bulgária, o secretário-geral da NATO pediu hoje a retirada das tropas russas das zonas de fronteira REUTERS/Stoyan Nenov
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Uma coluna de veículos militares ucranianos ontem junto à cidade de Donetsk REUTERS/Maks Levin

A crise da Ucrânia ressuscitou a retórica e os métodos de propaganda da Guerra Fria, fazendo lembrar aos dois velhos antagonistas que ainda são “os melhores inimigos”, como comentou à Reuters uma fonte diplomática de Bruxelas.

Ontem, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, defendeu que a Aliança deve responder às movimentações russas junto à fronteira ucraniana adoptando “medidas suplementares”, como a deslocação de tropas para zonas estratégicas e a realização de exercícios militares. Em resposta, Moscovo acusou a NATO de manipular a informação ao divulgar imagens antigas para provocar uma reacção.

O conjunto de fotografias divulgado mostra uma grande e recente concentração de meios de combate russos junto à fronteira da Ucrânia. As imagens, que foram tiradas pela empresa privada DigitalGlobe entre 22 de Março e 2 de Abril, revelam claramente aviões de combate, helicópteros, peças de artilharia e infantaria e equipamento adequado a tropas especiais. Na análise dos comandos da Aliança Atlântica, explicada em conferência de imprensa em Bruxzelas, trata-se de equipamento pronto a usar, como estão prontos a entrar em acção os cerca de 40 mil homens que o Governo de Moscovo estacionou na região junto à fronteira do Leste da Ucrânia.

Segundo os militares da NATO, algumas das zonas onde agora está este exército russo, estavam vazias ou praticamente vazias em Fevereiro — a base aérea de Buturlinovka, que estava praticamente desocupada, agora alberga dezenas de caças; Belgorod, que também estava quase deserta em Fevereiro, tem agora 20 helicópteros e fontes citadas pela BBCB diziam que por ser a base mais próxima da fronteira (50km) poderá ser dali que partirá uma invasão, caso este venha a acontecer.

“Trata-se de uma força significativa e pronta para avançar”, disse à BBC o brigadeiro Gary Deakin, que dirige o centro de operações de crise da NATO em Mons, na Bélgica. “Tem capacidade para se deslocar rapidamente para dentro da Ucrânia mal receba ordens.” As imagens, disseram as fontes, indicam que se trata de uma força ofensiva e não de tropas em “exercício” como defende Moscovo.

O Governo russo reagiu à divulgação das imagens e às explicações sobre elas dizendo que as fotografias datam do Verão de 2013, quando foram realizadas manobras na zona. Os russos estão a mentir, responderam os generais da NATO que , ao fim da manhã de ontem, divulgaram outras fotografias com mais detalhes para “que fique claro que as afirmações dos responsáveis russaos são totalmente falsas”.

Rasmussen disse que a NATO deve responder com mais veemência à ameaça russa. O reforço do patrulhamento aéreo nos Estados bálticos, o envio de aviões-radar Awacs para a Polónia e Roménia e o reforço da vigilância naval no mar do Norte não chegam, na opinião de Rasmussen. “Penso que temos de tomar medidas suplementares e, de acordo com as recomendações das nossas autoridades militares, vamos discutir o assunto nos próximos dias e semanas.” “A reflexão [da próxima semana] poderá incluir uma evolução dos nosso planos de Defesa, o reforço dos exercícios e o deslocamento apropriado [de tropas]”, acrescentou o secretário-geral da NATO que, porém, esclareceu que a Aliança Atlântica não tem sobre a mesa uma “opção militar”. “A NATO defende e protege os seus aliados e adoptaremos as medidas necessárias - e legítimas perante a instabilidade criada pelas acções da Rússia — que assegurem que essa defesa colectiva seja eficiente.”

Num discurso em tom de Guerra Fria deve procurar-se uma frase chave que explique o que o secretário-geral quis dizer. A frase pode ser esta: “eevolução dos planos de Defesa”. Pode ter sido ela a levar o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a introduzir a questão da aneutralidade da Ucrânia na troca de acusações de ontem.

A Rússia, disse Lavrov, quer que a Ucrânia se mantenha um país neutro e quer garantias legais de que será assim. Em 2010, o Presidente destituído da Ucrânia — mas que Moscovo ainda considera legitimo — promulgou uma alei que excluia a possibilidade de o país entrar na NATO e reafirmava a neutralidade deste território que faz parte da linha de neutrais que separa a Rússia da NATO. O Kremlin receia que o novo poder em Kiev ceda à pressão do Ocidente e quebre esse pacto.

“São necessárias garantias claras de que a Ucrânia manterá o seu estatuto de país não aliado”, disse Lavrov, deixando claro que os russos não acreditam em promessas ou meros acordos. O Presidente russo, Vladimir Putin, disse isso mesmo há dias quando recordou que, depois do fim da Guerra Fria (que durou entre 1947 e 1991) e do desaparecimento da União Soviética, a NATO dera garantias de que não se expandieria para Leste ou construiria infra-estruturas militares nos países do desaparecido Pacto de Varsóvia, e fê-lo.

Relata a AFP que, hoje, na sede da NATO em Bruxelas, há mapas da Ucrânia e da Rússia nas salas estratégicas, ao lado dos mapas do Afeganistão e de outras zonas de riscoperigos. “E os especialistas em Rússia voltaram a ser muito ouvidos”, disse uma fonte da agência francesa. “Ninguém quer uma nova Guerra Fria”, disse na quinta-feira Anders Fogh Rasmussen. “É a NATO que está a cultivar a retórica desse tempo”, respondeu um diplomata russo.     

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