Hollande sobre Fidel: "Tive à minha frente um homem que fez história"

O Presidente francês manteve uma reunião com o histórico comandante revolucionário à margem da sua agenda oficial em Cuba.

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O encontro entre François Hollande e Fidel Castro foi confirmado à última hora CUBA DEBATE/AFP

O ambiente e as alterações climáticas, a agricultura, o acesso à água e a alimentos são as matérias que preocupam ao antigo comandante revolucionário e ex-Presidente cubano Fidel Castro, uma figura mítica para parte da esquerda francesa e que o Presidente da República, François Hollande, teve oportunidade de conhecer na segunda-feira, à margem da sua visita-relâmpago de 30 horas a Havana.

O encontro entre os dois, que só foi confirmado em cima da hora e decorreu longe dos olhares dos jornalistas franceses e até dos membros da comitiva presidencial, decorreu na residência de Fidel. Em pouco menos de uma hora, os dois falaram sobretudo sobre a França, com Castro a manifestar o seu “reconhecimento” pelo apoio gaulês a Cuba – a França nunca cortou relações diplomáticas com a ilha – e a recordar com nostalgia os seus contactos com François Miterrand.

No entanto, o comandante não quis pronunciar-se sobre questões políticas da actualidade, “por não querer interferir na área reservada do seu irmão [Raul]”, revelou François Hollande horas depois do encontro. Em vez disso, perorou sobre os desafios colocados pelo aquecimento do planeta – que serão discutidos pela comunidade internacional em Paris no fim do ano. “Fiquei com a sensação que ele podia fazer um daqueles seus discursos de horas”, confessou.

O Presidente francês achou Fidel, de 88 anos, “alerta, sagaz, conversador, muito bem informado, com grande acuidade intelectual”, apesar de se ter queixado de “problemas de articulação” no joelho e ombro. Aparentemente, o líder histórico mantém-se ao corrente do que se passa no mundo através da Internet – no seu relato, o Le Monde não resistiu a contrapor a facilidade do acesso de Fidel à informação à dos seus concidadãos, que convivem com uma imprensa “reduzida ao mínimo” e uma Internet altamente condicionada.

Essa foi a parte simbólica da viagem, repetiam os assessores do palácio do Eliseu. “Tive à minha frente um homem que fez história. Fidel Castro fez história em Cuba e fez história no resto do mundo”, resumiu o chefe de Estado francês, num esforço para esvaziar de polémica o encontro, censurado pelos dissidentes políticos cubanos e pela oposição política francesa. Da casa de Fidel, Hollande seguiu para a Praça da Revolução, onde depositou uma coroa de flores em homenagem ao herói da independência de Cuba, José Martí, e daí para a recepção oficial com o Presidente Raúl Castro – Hollande entrou para a história como o primeiro líder ocidental a visitar a ilha depois do anúncio do fim da política de isolamento do regime castrista imposta pelos Estados Unidos há mais de quatro décadas.

Essa era a parte que “interessava” da agenda de Hollande, toda planeada para a promoção dos interesses económicos do seu país, que espera poder beneficiar com a primeira vaga da abertura cubana ao investimento estrangeiro, antes da previsível chegada das empresas norte-americanas. O Presidente francês levou até Cuba dezenas de empresários, e partiu já com um contrato assinado: a petrolífera Total fechou um acordo com a estatal CubaPetroleo para a exploração em off-shore das reservas nas suas águas territoriais do Golfo do México.

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