EUA responsabilizam Irão por falhanço de acordo sobre programa nuclear

Agência Internacional de Energia Atómica assina acordo com Teerão que pode facilitar cooperação mais abrangente.

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John Kerry continua a acreditar num acordo "que vá ao encontro dos interesses de todas as partes" FABRICE COFFRINI/AFP

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, diz que o acordo sobre o programa nuclear iraniano falhou por causa das reservas manifestadas pela delegação do Irão, negando a tese de que foi a França a emperrar as negociações em Genebra.

A delegação iraniana não se mostrou disposta a aceitar o acordo proposto "naquele momento em particular", afirmou Kerry. No entanto, o fracasso das negociações em Genebra não afasta definitivamente a possibilidade de se alcançar "um acordo que vá ao encontro dos interesses de todas as partes".

"O Grupo 5+1 estava unido no sábado, quando apresentámos a proposta aos iranianos. Mas o Irão não pôde aceitá-lo. Naquele momento em particular não estavam dispostos a aceitá-lo", disse John Kerry, numa conferência de imprensa em Abu Dhabi, referindo-se ao grupo constituído pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) mais a Alemanha, que negocia com o Irão.

Fontes diplomáticas avançaram no domingo que a pedra na engrenagem não foi colocada pelo Governo iraniano (que estará disposto a limitar as suas actividades de enriquecimento de urânio), ou pela Administração Obama (que, apesar da oposição interna, propõe descongelar parte dos fundos arrestados ao Irão ao abrigo das sanções internacionais), mas pela França.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, disse que a proposta levada pela delegação iraniana ficava aquém das exigências de Paris. "Se estas questões não forem resolvidas, não será possível um acordo", afirmou Fabius, dizendo que em causa está o destino que será dado ao stock de urânio enriquecido a 20% (concentração superior à usada nas centrais) e a suspensão da construção da central de água pesada de Arak.

O Irão diz que a unidade, que deve estar pronta no próximo Verão, vai produzir isótopos para fins médicos, mas da laboração resultará também plutónio, um material radioactivo que tal como o urânio pode ser usado para produzir armas nucleares.

Os peritos avisam que, assim que entrar em funcionamento, será muito difícil parar a sua laboração e um ataque para a destruir libertará níveis muito elevados de radiação. Outros especialistas dizem, porém, que a central não representa um perigo imediato e que, por isso, o seu futuro não precisa de ficar definido no acordo preliminar, destinado a vigorar durante seis meses – o tempo considerado necessário para concluir as negociações.

Acordo entre Irão e agência de energia atómica
Apesar do falhanço das negociações em Genebra, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) anunciou nesta segunda-feira que assinou um acordo de cooperação com o Irão.

Segundo os termos deste acordo, os inspectores da AIEA deverão poder visitar a central de Arak e a mina de urânio de Gachin, avança a agência Reuters. "O acordo inclui a aplicação de uma série de medidas práticas nos próximos três meses, a contar a partir de hoje", disse o director-geral da agência, o japonês Yukiya Amano, numa conferência de imprensa em Teerão.

O objectivo é montar um regime de inspecções regular, para verificar se o programa nuclear iraniano é de facto apenas para fins civis.

Os representantes do Irão e do Grupo 5+1 vão voltar a reunir-se no dia 20 de Novembro.

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