Esquerda grega quer investigar condições em centro de detenção de imigrantes

Revolta no sábado à noite, com queima de colchões e fuga de dez imigrantes, relançou o debate sobre as condições em que são mantidas milhares de pessoas num país da União Europeia.

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Os imigrantes revoltaram-se quando souberam que iriam ficar detidos mais seis meses AFP

A coligação de esquerda Syriza pediu uma investigação às condições de vida no principal centro de detenção de imigrantes na Grécia, onde no sábado à noite estalou uma revolta que levou à fuga de dez pessoas. A polícia grega garante que o centro de Amygdaleza, nos arredores de Atenas, tem "condições respeitáveis", apesar das críticas de organizações de defesa dos direitos humanos.

"Tomámos todas as medidas necessárias para que as condições de detenção sejam respeitáveis e para que não haja hipótese de fugas", disse nesta segunda-feira o porta-voz da polícia, Christos Parthenis, ao canal Mega.

Em relação às acusações de superlotação do centro, o responsável disse que Amygdaleza tem capacidade para 2000 pessoas e que actualmente estão detidas 1600 (algumas fontes referem 1650).

O líder do sindicato da polícia, Christos Fotopoulos, queixou-se das condições no interior do centro, mas disse que são muito piores para os agentes. "Puseram-nos a guardar almas humanas em condições muito piores do que aquelas em que se encontram as pessoas que nós guardamos", disse Fotopoulos ao canal ANT-1.

Dezenas de imigrantes sem documentos revoltaram-se no sábado à noite num dos maiores centros de detenção da Grécia, depois de terem recebido a notícia de que iriam ficar retidos por mais seis meses.

Durante a confusão, pelo menos dez imigrantes conseguiram escapar do centro de detenção – localizado em Amygdaleza, nos arredores de Atenas – e estão ainda a ser procurados pelas autoridades nesta segunda-feira.

A polícia deteve 41 pessoas, originárias do Paquistão, Afeganistão, Bangladesh e Marrocos, que atearam fogo aos colchões dos contentores e atiraram pedras e garrafas contra os guardas. Pelo menos dez polícias de intervenção ficaram feridos durante a operação para controlar a revolta. Segundo a edição online do jornal grego To Vima, as autoridades não avançaram qualquer balanço em relação à possível existência de vítimas entre os imigrantes.

A revolta terá começado quando os mais de 1600 imigrantes colocados no centro de Amygdaleza foram informados de que o período de detenção iria passar de 12 meses para 18 meses. No momento em que os guardas distribuíam alimentos, algumas dezenas de detidos atearam fogo a colchões, o que acabou por destruir pelo menos oito contentores, segundo os media gregos.

A situação foi controlada pela polícia por volta da 1h de domingo (23h em Portugal continental).

Para alguns responsáveis políticos gregos e para muitas organizações de defesa dos direitos humanos, esta era uma situação já esperada. O prefeito do município de Acharnes, Sotiris Ntouros, disse à agência de notícias ANA-MPA que as condições no centro de Amygdaleza "são terríveis". "A revolta dos imigrantes era algo que eu já esperava (...) Não é possível ter 1650 pessoas a viver em contentores, num Verão com temperaturas que chegam aos 50 graus Celsius", disse o responsável.

Para agravar o clima de tensão, o jornal To Vima avançou que os guardas tinham cortado a energia cinco dias antes, depois de alguns detidos terem ligado o ar condicionado sem autorização dos responsáveis.

Na semana passada, o movimento grego de esquerda KEERFA (Unidos Contra a Ameaça Racista e Fascista) denunciou que os detidos muçulmanos foram agredidos durante um momento de oração. Em Julho, a mesma organização revelou que um afegão morreu no centro com uma infecção pulmonar, depois de a sua doença ter sido ignorada pelas autoridades durante meses.

"Crise humanitária"
O centro de Amygdaleza foi inaugurado a 29 de Abril de 2012 – o primeiro de um total de 50 que o Governo prometeu abrir para lidar com a chegada de 130 mil imigrantes sem documentos por ano ao país.

Rodeado de arame farpado, o centro mantém detidos imigrantes e refugiados que chegam ao país sem documentos, para deportação.

Em Dezembro de 2012, a Amnistia Internacional declarou a existência de uma "crise humanitária" na Grécia, denunciando as "vergonhosas e chocantes" condições de vida de milhares de imigrantes. O relatório descreve a situação de "crianças desacompanhadas", mantidas em "condições muito deficientes".

Um mês antes, deputados europeus do grupo dos Verdes visitaram o centro de Amygdaliza e partilharam um vídeo no YouTube ("Amygdaleza "The five star Detention Centre"). No relato feito após a visita, os deputados dizem ter-se deparado com "condições inumanas" e com "menores desacompanhados". "A detenção de crianças por questões relacionadas com imigração nunca é justificável e representa um falhanço abjecto da protecção dos direitos humanos das crianças", escreveram os deputados europeus.

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