Homem acusado de assassinar um jovem negro foi ilibado nos EUA

O crime em Fevereiro de 2012 suscitou protestos e debate sobre racismo na era Obama.

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Protestos na porta do tribunal pela absolvição de Zimmerman que matou um jovem negro desarmado em Fevereiro de 2012 Reuters/Joe Skipper
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Do lado de fora do tribunal na Flórida, lágrimas entre quem esperava a condenação Reuters/Steve Neusius
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Choro de protesto pela absolvição de Zimmerman Reuters/Steve Neusius
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Advogados de defesa comemoram com Zimmerman a absolvição Reuters/Joe Burbank
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Acusado de matar jovem negro comemora o veredicto com parentes ainda dentro do tribunal na Flórida Reuters/Gary W. Green
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Advogados que defendiam a família da vítima ouvem a sentença final Reuters/Gary W. Green
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Manifestante chora em frente ao tribunal Reuters

George Zimmerman, o vigilante voluntário que matou Trayvon Martin, um adolescente negro, em Fevereiro de 2012, suscitando protestos e um debate nos Estados Unidos sobre racismo na era Obama, foi ilibado por um júri de seis mulheres no sábado à noite.

Depois de deliberar mais de 16 horas durante dois dias, o júri considerou Zimmerman, de 29 anos, não culpado de homicídio em segundo grau (não-premeditado), bem como de “manslaughter” (um crime de homicídio de menor grau), as duas acusações que pendiam sobre o réu. Anunciado pouco antes das dez da noite (madrugada em Portugal), o veredicto foi unânime e indica que as seis mulheres do júri (cinco brancas e uma negra ou hispânica, segundo o Miami Herald) aceitaram o argumento de Zimmerman de que ele terá agido em auto-defesa.

George Zimmerman nunca negou ter disparado contra Trayvon Martin na noite de 26 de Fevereiro de 2012 num condomínio de Sanford, na Florida, causando a morte do jovem negro de 17 anos, que se encontrava desarmado. O julgamento de Zimmerman, que durou três semanas, pretendia determinar as circunstâncias em que a morte de Trayvon Martin ocorreu, em particular quem confrontou quem, uma tarefa dificultada pelo facto de não haver quaisquer testemunhas oculares.

Trayvon Martin, um estudante de liceu que vivia nos subúrbios de Miami, estava a visitar o pai em Sanford na noite em que foi morto. O adolescente voltava de uma loja de conveniência com uma lata de chá gelado e um saco de rebuçados quando foi visto por George Zimmerman, que suspeitou que ele poderia ser um criminoso. O vigilante alertou a polícia, mas continuou a seguir Martin até ao momento em que os dois se terão envolvido numa disputa.

Zimmerman alega que foi Martin que o atacou, deitando-o ao chão e batendo repetidamente a sua cabeça contra o passeio. Zimmerman, que se encontrava armado, diz ter disparado em auto-defesa.

Durante o julgamento, os procuradores do Ministério Público da Florida procuraram descrever Zimmerman como o agressor – um aspirante a polícia que decidira fazer justiça por conta própria depois de supor erradamente que Trayvon Martin era um criminoso. “O réu não disparou contra Trayvon Martin porque tinha de fazê-lo. Ele atirou porque quis”, disse um dos procuradores, John Guy, na sexta-feira de manhã, antes de o júri se reunir para deliberar.

A morte de Trayvon Martin e a indiferença inicial com que o caso foi tratado pelas autoridades locais – a polícia de Sanford interrogou George Zimmerman e deixou-o ir em liberdade sem acusá-lo – foram denunciadas pela comunidade negra como um exemplo dos problemas raciais que persistem na sociedade americana. O caso tornou-se nacional, levando mesmo o Presidente Barack Obama a dizer que “se tivesse um filho, ele seria igual a Trayvon Martin”.

George Zimmerman, que se descreve a si próprio como hispânico, cresceu numa família multirracial: pai branco, mãe peruana.

A questão do preconceito racial – terá ou não Zimmerman suspeitado de Trayvon Martin só porque ele era negro? – nunca foi levantada durante o julgamento. Na sexta-feira de manhã, nas últimas alegações antes do júri se reunir para deliberar, um dos procuradores disse que o caso não tinha “nada a ver com raça”, mas com “o que está bem e o que está mal.”

De acordo com o código penal da Florida, para provar que o réu cometeu homicídio em segundo grau a acusação tem de demonstrar que ele agiu com má-fé, ódio ou malevolência. “Manslaughter”, a outra acusação que o júri considerou, exigia que os procuradores demonstrassem, sem margem para dúvidas, que Zimmerman não agiu em auto-defesa.

Mas o julgamento não conseguiu clarificar quem é que confrontou quem, quem é que gritou por ajuda naquela noite (um apelo que foi registado numa chamada de um residente local para o 113) ou em que circunstâncias é que Zimmerman usou a sua arma. As testemunhas chamadas a depor ofereceram narrativas ou opiniões contraditórias.

George Zimmerman decidiu não depor no julgamento, mas os membros do júri viram gravações em vídeo do réu contando a sua versão dos acontecimentos à polícia durante a fase de investigação, incluindo um vídeo em que ele reconstitui o incidente. Durante o julgamento um dos seus advogados de defesa trouxe um bloco de cimento para a sala de tribunal para contrariar a ideia de que Trayvon Martin se encontrava desarmado, insistindo que ele bateu a cabeça de Zimmerman contra o passeio repetidamente.
 

As autoridades locais estavam em estado de alerta para a possibilidade de haver distúrbios se Zimmerman viesse a ser ilibado, mas a centena de pessoas que se concentrou à porta do tribunal para protestar dispersou ao fim de uma hora, segundo o New York Times. Em Oakland, na Califórnia, os protestos resultaram em vidros partidos e fogos de rua, sem que tenha havido quaisquer detenções. Outras cidades, como Atlanta, Nova Iorque, São Francisco e Los Angeles, também registaram pequenos protestos na noite de sábado, sem incidentes diz a AP.

 
 
 
 
 
 
 

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