Brittany já não quer morrer amanhã

Norte-americana foi diagnosticada com um cancro cerebral terminal. Quer morrer lúcida e fisicamente capaz e não afasta hipótese do suicídio assistido.

Brittany quer morrer com dignidade mas não amanhã

Como é possível uma pessoa ter a coragem para marcar o dia da sua morte? Brittany Maynard, 29 anos, vítima de um cancro cerebral terminal, teve essa coragem e continua a tê-la. Este sábado estava tudo preparado para que morresse após um suicídio assistido, uma decisão que correu o mundo e provocou milhares de pedidos para que mudasse de ideias. A um dia da data que marcou para terminar a vida com “dignidade”, Brittany adiou a decisão e explica porquê num vídeo publicado na página da sua organização.

"Ainda me sinto bem o suficiente e ainda tenho alegria suficiente, ainda consigo rir e sorrir com a minha família e amigos o suficiente para que este não pareça ser o momento certo", afirma a norte-americana no vídeo, apesar de confessar que fisicamente começa a ficar debilitada devido ao inchaço do cérebro provocado pelo cancro, que se estende ao resto do corpo.

No início deste ano, Brittany foi diagnosticada com um tumor no cérebro, um prognóstico que se foi agravando, mesmo depois de ter sido submetida a duas cirurgias. Após todas as tentativas possíveis, os médicos informaram-na que teria apenas seis meses de vida. A jovem quis saber de que forma iria decorrer a sua degradação física devido ao tumor e decidiu que queria morrer com dignidade, consciente e suficientemente bem para se despedir com tranquilidade da família.

Mudou-se para o estado do Oregon, um dos cinco estados norte-americanos, além de Montana, Novo México, Vermont e Washington, que permitem a “morte com dignidade” e estabeleceu o dia 1 de Novembro, este sábado, como a data em que iria morrer na sua cama ao lado do marido e da mãe.

Mudança provisória de ideias
Esta semana, Brittany mudou de ideias, mas apenas por agora. "Acabará por acontecer, porque sinto que estou a ficar mais doente. Está a acontecer a cada semana", confessa no vídeo. Entre várias convulsões por dia, dores contantes, incapacidade para dizer o nome do marido e momentos de paralisia, admite que chegará a altura de pôr um ponto final no seu sofrimento e quer fazê-lo enquanto tiver capacidade para o afirmar na primeira pessoa. “A pior coisa que poderia acontecer era eu esperar muito tempo, porque eu estou a tentar aproveitar cada dia”.

E Brittany tem-no feito. Viajou com a mãe, o marido e a melhor amiga a lugares nos Estados Unidos onde nunca tinha ido. O último ponto da sua lista de desejos era ir ao Grand Canyon com a família. Na página do seu fundo estão agora várias fotografias da viagem.

Aos que a consideraram egoísta por ter morte com dia marcado, quanto ainda tem um aspecto saudável e fala de forma tão eloquente, a norte-americana diz que só o faz quem não sabe o risco que corre. “Magoa-me, porque na verdade arrisco todos os dias, todos os dias em que acordo. Acho que às vezes as pessoas olham para mim e pensam ‘bem, não parece tão doente como diz ‘, o que dói ouvir, porque quando eu estou a ter uma convulsão e eu não posso falar depois, certamente sinto-me tão doente como estou”.

“Não lancei esta campanha porque queria atenção; de facto é-me difícil processar tudo. Fiz isto porque eu quero ver um mundo onde todos têm acesso à morte com dignidade, como eu tive. A minha jornada é mais fácil por causa desta escolha”. A frase faz parte da mensagem que Brittany tem na abertura do site do fundo criado com o apoio da organização sem fins lucrativos Compassion & Choices, que ajuda as pessoas que sofrem de doenças debilitantes e sem cura a terem uma morte condigna.

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