Britânicos exigem aumentos de salário em manifestações

“Os gestores de topo ganham 175 vezes mais do que do que trabalhador médio", diz a líder da central sindical que promoveu a manifestação em Londres e outras cidades do Reino Unido.

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A manifestação em Londres reuniu pelo menos 80 mil pessoas LEON NEAL/AFP

"O Reino Unido precisa de um aumento de salário” foi a palavra de ordem da manifestação que tomou conta do centro de Londres, mas também de Glasgow, na Escócia e Belfast, na Irlanda do Norte, durante a tarde deste sábado.

Segundo a TUC (Trade Union Congress, com cerca de 6,2 milhões de membros), uma das centrais sindicais que promoveu o protesto, desde 2008 os ordenados baixaram 50 libras (cerca de 63 euros) por semana, apesar de a economia britânica não se ter comportado assim tão mal, em comparação com o resto da Europa. Na manifestação participaram muitos funcionários públicos, trabalhadores do sistema nacional de saúde, mas também muitos trabalhadores do sector privado, relata a AFP.

A organização estima que só em Londres tenham marchado entre 80 mil e 90 mil pessoas. “Estamos todos preocupados com as reduções de salários na função pública”, disse à AFP Keith Martin, um trabalhador de 49 anos. “O meu salário foi cortado em 25%”, afirmou.

Conan Doyle, de 31 anos, criticou por sua vez a política do Governo conservador de David Cameron, que afirma favorecer os “ricos” e “criar pobreza”. Mas não tem grande fé no maior partido da oposição, se eventualmente ganhar as eleições legislativas de Maio: “Não é certo que os trabalhistas mudem as coisas".

A secretária-geral da TUC, Frances O’Grady, afirmou que o grande número de participantes na manifestação é uma mensagem clara que a desigualdade está a atingir níveis insuportáveis e que os salários têm de começar a subir. “Depois do mais longo e profundo corte salarial da história, está na hora de acabar com o bloqueio que impede a grande maioria das pessoas de partilhar da recuperação económica”, afirmou.

“Os gestores de topo ganham agora 175 vezes mais do que do que trabalhador médio. Se os políticos se admiram como é que tantas pessoas se sentem excluídas do processo político, deviam começar pelos padrões de vida básicos”, acrescentou a sindicalista, citada pelo Guardian.

Dave Prentis, secretário-geral da central Unison, descreveu por seu lado um país “dividido em dois”, com o “champanhe a correr livremente para os banqueiros de um lado”, e a população que “sobrevive com baixos salários” do outro.

Um porta-voz do Tesouro britânico, citado pela AFP, sublinhou que os efeitos da crise financeira de 2008 ainda se fazem sentir e que a política económica do Governo “está a dar resultado”. “Nunca houve tanta gente empregada e as desigualdades são menores do que com o anterior governo”, afirmou, baseando-se nas estatísticas divulgadas na quarta-feira que põem a taxa de desemprego em 6% - o valor mais baixo desde 2008 – e fazem uma previsão de crescimento da economia de 3% para este ano.

Os salários reais dos britânicos, no entanto, continuam a baixar: apenas progrediram 0,9% no último ano, ou seja, menos que a inflação, diz a AFP.

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