Estado Islâmico responde com atentado a ataque da aviação egípcia na Líbia

Bombas matam 40 pessoas no Leste do país, numa zona próxima da fronteira em que se misturam jihadistas e forças leais ao governo reconhecido internacionalmente.

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Sacerdte copta com a foto de um dos 21 cristãos egípcios mortos pelo Estado Islâmico MOHAMED EL-SHAHED/AFP

Um grupo que diz ser o ramo líbio do Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria do atentado suicida que matou cerca de 40 pessoas e feriu outras tantas nesta sexta-feira na pequena cidade de Al-Qubah, no Leste do país. “Mataram e feriram dezenas, em vingança pelo derramamento de sangue de muçulmanos em Derna”, diz o comunicado assinado pelo Estado Islâmico, província Cirenaica, referindo-se ao ataque da aviação egípcia, na segunda-feira, contra posições de jihadistas que se juntaram aquele grupo terrorista e fizeram de Derna o seu principal bastião.

O ataque egípcio foi a resposta à divulgação de um vídeo pelos jihadistas com a decapitação de 21 imigrantes egípcios, cristãos coptas, que tinham sido raptados em Sirte, outra cidade líbia, em Janeiro. O Presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, tem dito repetidamente que os grupos extremistas, que se expandem na Líbia ao ritmo que o país se afunda no caos, representam uma séria ameaça à segurança do Egipto.

O Cairo apoiou mesmo na quarta-feira, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a pretensão do governo líbio reconhecido internacionalmente a que fosse parcialmente levantado o embargo da venda de armas à Líbia, para favorecer o seu lado, na disputa que fraccionou o país em dois territórios.

Neste momento, há dois governos na Lìbia. O que é reconhecido internacionalmente foi forçado a fugir de Trípoli no Verão passado para o Leste e está sediado em Bayda, uma cidade que fica a apenas cerca de 50 quilómetros daquela onde houve o atentado nesta sexta-feira. O Parlamento refugiou-se em Tobruk, já bem perto da fronteira com o Egipto. O Governo é apoiado por uma força paramilitar criada pelo general que estava na reforma Khalifa Haftar, que controla várias unidades da Força Aérea.

Em Trípoli, a capital, instalou-se uma coligação de milícias chamada Aurora Líbia, em que se destacam grupos vindos de Misrata e conservadores islâmicos. Estão entre os melhores armados do país.

A Líbia é hoje considerada hoje um Estado falhado que não conseguiu reconstruir-se após a revolta de 2011 que derrubou o ditador Muammar Khadafi, apoiada com bombardeamentos aéreos pela NATO. O país do qual as potências ocidentais preferiram afastar-se quando tudo se começou a complicar demasiado, encerrando mesmo embaixadas, tornou-se o cenário para uma batalha indirecta entre o Egipto, os Emirados Árabes Unidos e os seus aliados contra islamistas alegadamente apoiados pela Turquia e pelo Qatar. Neste caso, não serão propriamente os jihadistas do EI, mas antes organizações como a Irmandade Muçulmana, que o regime do Presidente Sissi ilegalizou e considerou uma organização terrorista.

Face a isto, a ONU continua a patrocinar negociações na esperança de obter uma solução diplomática. Os países ocidentais não querem ouvir falar de nova intervenção. 

Itália, cujas costas ficam a cerca de 300 quilómetros e sofre os efeitos da instabilidade líbia através do enorme fluxo ilegal de imigrantes que chegam à Europa de barco provenientes da Líbia, apelou esta semana a uma acção internacional “urgente”, mas não houve qualquer avanço.

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