Ninguém assume responsabilidade pelo drone da discórdia no jogo Sérvia-Albânia
Irmão do primeiro-ministro albanês nega ter comandado o drone com a bandeira da "Grande Albânia" que levou a escaramuças no relvado e ao cancelamento do jogo Sérvia-Arbânia.
Os drones servem para cada vez mais missões: vigilância, entrega de encomendas, e... provocações políticas. Um drone com uma bandeira da “grande Albânia” sobrevoou um estádio onde decorria um jogo de futebol Sérvia-Albânia, em Belgrado, levando a escaramuças dentro do campo e ao cancelamento do jogo no final da primeira parte
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia, Ivica Dacic, lamentou a “provocação política” e disse esperar agora ver como iriam reagir a União Europeia e UEFA ao incidente.
As suspeitas caíam sobre o irmão do primeiro-ministro albanês. Olsi Rama já veio desmentir qualquer envolvimento no caso. “Não tenho nada a ver com o drone. Não sei de onde veio essa história”, declarou à chegada a Tirana, a capital albanesa.
Belgrado suspeita de que Rama tenha organizado o voo e telecomandado, da cabina VIP, o drone levando uma bandeira com um mapa que representa um projecto político que juntaria num mesmo estado todas as comunidades albanesas dos Balcãs.
“É uma especulação dos media, não fui detido nem questionado”, sublinhou Olsi Rama, sobre relatos de que teria sido detido. “Na altura do incidente a situação tornou-se caótica, os polícias controlavam toda a gente. Mostrei-lhes o meu passaporte americano e a minha máquina fotográfica. Isso durou apenas alguns minutos”, declarou Rama, que chegou à capital albanesa com a delegação da equipa nacional. Esta foi acolhida por milhares de apoiantes e por representantes políticos: a ministra da Educação e Desporto, Lindita Nikolli, e o vice-primeiro-ministro adjunto, Niko Peleshi.
O primeiro-ministro Edi Rama tem uma visita marcada à Sérvia para a próxima semana. Será a primeira visita de um líder albanês à Sérvia em quase 70 anos.
A política não pode ser conduzida sob pressão “de provocações de estádios de futebol e, neste contexto, sublinhamos em particular a importância da cooperação regional e da visita do primeiro-ministro albanês Rama a Belgrado”, declarou Maja Kocijancic, porta-voz do serviço diplomático da União Europeia.
Inquérito disciplinar da UEFA às duas federações
A UEFA já anunciou um inquérito disciplinar a ambas as federações, com responsáveis a dizer que o comportamento das duas equipas foi condenável. Antes, havia quem apontasse para uma possível penalização da Sérvia pelos problemas, por ser o país anfitrião responsável pela segurança. Houve empurrões entre jogadores por causa da bandeira, entretanto arrancada pelo sérvio Mitrovic ao drone, com os albaneses a tentarem recuperá-la das mãos do sérvio, e muitos na assistência (apenas sérvios assistiam nas bancadas, por condições de segurança impostas por Belgrado) invadiram o relvado para agredir os jogadores albaneses, havendo ainda confrontos entre alguns adeptos e as forças de segurança. O jogo já tinha começado com o estádio inteiro a gritar “morte, morte, morte aos albaneses”.
Na Albânia a interrupção do jogo foi vista como uma vitória pelo potencial de problemas para a Sérvia. Em Tirana, a imprensa questionava quem teria sido responsável pela provocação. “O mistério do drone. Quem está por trás, sérvios ou albaneses?” A imprensa sérvia não mostrava dúvidas de que se tratou de uma “provocação” albanesa, que condenou.
“Os nacionalismos mataram o futebol”, dizia o diário Damas.
Mas há quem veja outros protagonistas no caso. O analista político Dragomir Andjelkovic dizia que “uma provocação destas está ligada à visita do Presidente russo, Vladimir Putin”, previsto esta quinta-feira Belgrado. “Os albaneses sozinhos não teriam feito aquilo, sem um apoio vindo dos círculos que querem punir Belgrado pela política de cooperação com Moscovo.”
Enquanto isso, comentadores questionam-se sobre a sensatez de ter permitido que estas duas equipas se defrontassem. “Quão longe se deve ir na separação de países com tensões pré-existentes nos grupos de qualificação?”, pergunta o diário britânico The Guardian. “Gibraltar e Espanha não irão provavelmente nunca enfrentar-se; deveria dizer-se o mesmo da Sérvia e da Albânia dado o potencial para problemas?”
Sérvios e albaneses têm relações difíceis por diferendos históricos e recentes. A declaração unilateral de independência do Kosovo, em 2008, não é reconhecida pela Sérvia, que mantém que a província de maioria albanesa faz parte do seu território. Os EUA e a maioria os países da União Europeia apoiaram a iniciativa do Kosovo.
O Kosovo pode participar em jogos amigáveis mas como não é reconhecido como um estado, não está na UEFA.