Ninguém assume responsabilidade pelo drone da discórdia no jogo Sérvia-Albânia

Irmão do primeiro-ministro albanês nega ter comandado o drone com a bandeira da "Grande Albânia" que levou a escaramuças no relvado e ao cancelamento do jogo Sérvia-Arbânia.

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Jogadores albaneses em fuga dos adeptos sérvios Anderj Isakovic/AFP

Os drones servem para cada vez mais missões: vigilância, entrega de encomendas, e... provocações políticas. Um drone com uma bandeira da “grande Albânia” sobrevoou um estádio onde decorria um jogo de futebol Sérvia-Albânia, em Belgrado, levando a escaramuças dentro do campo e ao cancelamento do jogo no final da primeira parte

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia, Ivica Dacic, lamentou a “provocação política” e disse esperar agora ver como iriam reagir a União Europeia e UEFA ao incidente.

As suspeitas caíam sobre o irmão do primeiro-ministro albanês. Olsi Rama já veio desmentir qualquer envolvimento no caso. “Não tenho nada a ver com o drone. Não sei de onde veio essa história”, declarou à chegada a Tirana, a capital albanesa. 

Belgrado suspeita de que Rama tenha organizado o voo e telecomandado, da cabina VIP, o drone levando uma bandeira com um mapa que representa um projecto político que juntaria num mesmo estado todas as comunidades albanesas dos Balcãs.

É uma especulação dos media, não fui detido nem questionado”, sublinhou Olsi Rama, sobre relatos de que teria sido detido. “Na altura do incidente a situação tornou-se caótica, os polícias controlavam toda a gente. Mostrei-lhes o meu passaporte americano e a minha máquina fotográfica. Isso durou apenas alguns minutos”, declarou Rama, que chegou à capital albanesa com a delegação da equipa nacional. Esta foi acolhida por milhares de apoiantes e por representantes políticos: a ministra da Educação e Desporto, Lindita Nikolli, e o vice-primeiro-ministro adjunto, Niko Peleshi.

O primeiro-ministro Edi Rama tem uma visita marcada à Sérvia para a próxima semana. Será a primeira visita de um líder albanês à Sérvia em quase 70 anos. 

A política não pode ser conduzida sob pressão “de provocações de estádios de futebol e, neste contexto, sublinhamos em particular a importância da cooperação regional e da visita do primeiro-ministro albanês Rama a Belgrado”, declarou Maja Kocijancic, porta-voz do serviço diplomático da União Europeia.

Inquérito disciplinar da UEFA às duas federações
A UEFA já anunciou um inquérito disciplinar a ambas as federações, com responsáveis a dizer que o comportamento das duas equipas foi condenável. Antes, havia quem apontasse para uma possível penalização da Sérvia pelos problemas, por ser o país anfitrião responsável pela segurança. Houve empurrões entre jogadores por causa da bandeira, entretanto arrancada pelo sérvio Mitrovic ao drone, com os albaneses a tentarem recuperá-la das mãos do sérvio, e muitos na assistência (apenas sérvios assistiam nas bancadas, por condições de segurança impostas por Belgrado) invadiram o relvado para agredir os jogadores albaneses, havendo ainda confrontos entre alguns adeptos e as forças de segurança. O jogo já tinha começado com o estádio inteiro a gritar morte, morte, morte aos albaneses”.

Na Albânia a interrupção do jogo foi vista como uma vitória pelo potencial de problemas para a Sérvia. Em Tirana, a imprensa questionava quem teria sido responsável pela provocação. “O mistério do drone. Quem está por trás, sérvios ou albaneses?” A imprensa sérvia não mostrava dúvidas de que se tratou de uma “provocação” albanesa, que condenou.

“Os nacionalismos mataram o futebol”, dizia o diário Damas.  

Mas há quem veja outros protagonistas no caso. O analista político Dragomir Andjelkovic dizia que “uma provocação destas está ligada à visita do Presidente russo, Vladimir Putin”, previsto esta quinta-feira Belgrado. “Os albaneses sozinhos não teriam feito aquilo, sem um apoio vindo dos círculos que querem punir Belgrado pela política de cooperação com Moscovo.”

Enquanto isso, comentadores questionam-se sobre a sensatez de ter permitido que estas duas equipas se defrontassem. Quão longe se deve ir na separação de países com tensões pré-existentes nos grupos de qualificação?, pergunta o diário britânico The Guardian. Gibraltar e Espanha não irão provavelmente nunca enfrentar-se; deveria dizer-se o mesmo  da Sérvia e da Albânia dado o potencial para problemas?

Sérvios e albaneses têm relações difíceis por diferendos históricos e recentes. A declaração unilateral de independência do Kosovo, em 2008, não é reconhecida pela Sérvia, que mantém que a província de maioria albanesa faz parte do seu território. Os EUA e a maioria os países da União Europeia apoiaram a iniciativa do Kosovo. 

O Kosovo pode participar em jogos amigáveis mas como não é reconhecido como um estado, não está na UEFA.

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