Reestruturar, perdoar ou renegociar?

Não basta pedir mais tempo para pagar a dívida. É preciso saber como será paga.

O Manifesto dos 74 teve o mérito de ter posto o país a discutir o problema da dívida. Mais do que o discutir, é o país ter ganho a consciência de que levará anos, ou melhor, décadas até conseguir debelar o problema do excesso de endividamento. São mais de 200 mil milhões de euros, ou 129% do PIB, que terão de ser pagos, não se sabe muito bem como.

O PCP apresentou ontem um projecto de resolução que será discutido no Parlamento e que sugere a renegociação da dívida. E ainda será agendada uma outra discussão na Assembleia a propósito da petição lançada pelos autores do manifesto.

Há duas formas de se olhar para o problema da dívida. A primeira, como sugere a oposição, é pedir aos credores oficiais que nos aliviem o serviço da dívida, ou seja, que nos dêem mais tempo para a pagar ou, ao invés, que aceitem juros mais baixos. Numa lógica de solidariedade europeia faz sentido. E, muito provavelmente, é o que vai acontecer após as eleições europeias, mesmo que tenha de ser à boleia da Grécia. E aqui, não obstante questões de semântica (reestruturação ou renegociação), todos os partidos com representação parlamentar, da esquerda à direita, têm tido uma postura responsável. Até agora ninguém pronunciou a perigosa frase do “não pagamos”.

A segunda forma de olhar para o problema é a de saber como é que vamos pagar ou reembolsar, já que mesmo com uma renegociação a dívida não irá desaparecer. E mesmo que os credores oficiais (a troika ou o BCE) aceitem dilatar os prazos, os privados não o farão de forma voluntária. E essa parte passa pela necessidade de o país começar a ter sucessivamente excedentes orçamentais primários, ou seja, a discussão passa não só pela famigerada austeridade como também pelo repensar do papel, mais ou menos interventivo, que o Estado terá na economia.
 

  

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