O “cerco” aos líderes europeus

O produto interno bruto alemão cresceu, no primeiro trimestre deste ano, apenas 0,1% face aos últimos três meses de 2012. Na comparação com o período homólogo do ano passado, o quadro é bem mais negro: o nível de produção de riqueza recuou uns significativos 1,4%. Ou seja, mesmo que não se esteja perante um quadro técnico de recessão, os sinais que vão chegando mostram que a crise está também a aterrar no país que é considerado o principal motor da economia europeia.

A quebra no investimento e a contracção das exportações são as principais razões destes dados decepcionantes. E o recuo daqueles dois indicadores, que nos últimos anos têm funcionado como as grandes alavancas do crescimento económico na Alemanha, ninguém tenha dúvidas, é em grande parte consequência da profunda crise em que mergulhou todo o sul da Europa – região para onde se dirige uma boa parte das exportações germânicas.

Ou seja, aquilo que era um fenómeno distante e estranho, lá desses países mal-comportados que têm de ser postos na ordem, acabou por bater à porta do professor que aplicou o correctivo – mais concretamente, os programas de austeridade que estão a estrangular as economias grega, portuguesa e não só.

O discurso oficial do governo Merkel mantém-se. O autismo domina, pelo menos, nas palavras dos responsáveis. Mas à volta da ortodoxia germânica uma lógica diferente começa a germinar.

Quando o conhecido e influente analista do Financial Times, Martin Wolf, afirma que “a austeridade falhou” e que o que está a ser feito na Europa é “pior do que um crime, é um erro grosseiro”, algo de novo pode estar para acontecer.

Quando a prestigiada e insuspeita The Economist chama aos líderes europeus “sonâmbulos”, acusa-os de “letargia” e defende que a Europa deve abrandar o ritmo de consolidação orçamental e injectar dinheiro em programas que promovam o investimento e o emprego para os mais jovens nos países periféricos, algo de novo está a entrar no discurso continental.

Martin Wolf é de uma clareza liminar quando afirma que a austeridade afundou a retoma nascente e que tem custos elevadissímos no curto e no longo prazo: os custos de investimentos adiados, de negócios que não arrancaram, de talentos desperdiçados e de esperanças desfeitas.

Será que estas vozes chegam aos responsáveis europeus, portugueses incluídos?

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