Merkel diz que Estados-membros devem comprometer-se com programas de reformas

Apesar de já serem evidentes sinais de recuperação da crise da zona euro, Merkel quer manter reformas estruturais e rever tratados europeus.

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Angela Merkel procurará alcançar um terceiro mandato em Setembro JOHANNES EISELE/AFP

A chanceler alemã Angela Merkel diz que os primeiros sinais de recuperação da crise da zona euro já são evidentes, mas é preciso consolidar as reformas económicas e para isso os Estados deverão comprometer-se com programas vinculativos e rever os tratados europeus.

Merkel, que falava nesta quarta-feira no seu discurso de tomada de posse no Parlamento alemão, diz que a crise do euro ainda não está resolvida, mas que os primeiros sinais de sucesso já são evidentes, particularmente em países como a Irlanda e a Espanha.

“A crise da dívida da zona euro ainda não está ultrapassada, não podemos deixar de enfatizar este aspecto vezes suficientes. Porém, já são visíveis os primeiros sinais de sucesso e estamos convencidos de que poderá ser ultrapassada definitivamente”, afirmou Merkel, citada pela Reuters.

A líder alemã (que vai encabeçar o governo de coligação dos conservadores CDU/CSU e dos sociais democratas SPD) também sublinhou que os Estados-membros devem comprometer-se com Bruxelas com programas vinculativos de reformas económicas, defendendo que, para isso, os princípios fundadores da união monetária deverão ser revistos.

Em pleno discurso no Bundestag (parlamento alemão), parte do recado de Merkel foi para fora, mais concretamente para Paris, onde a chanceler deverá encontrar-se ainda nesta quarta-feira com o presidente francês, François Hollande.

A revisão dos tratados europeus será certamente um dos temas a abordar na reunião dos dois chefes de Estado, que sobre ele têm opiniões opostas. Defendendo que “a Alemanha deverá continuar a ter um papel responsável e a agir como motor da integração europeia”, a chanceler diz que o país faz parte do grupo dos que acreditam que, para que a Europa progrida, “se as bases jurídicas não são suficientes, há que fazer evoluir os tratados”.“Quem quer mais Europa, tem de estar pronto a modificar a legislação sobre certas competências”, disse Merkel citada pela AFP.

Pelo contrário, Hollande já afirmou várias vezes que não está disposto a negociar os tratados e sustenta que as reformas não devem passar por alterações à arquitectura institucional da União Europeia (UE). A visão da França é a de que as reformas em questões concretas, como a união bancária, devem avançar, mas no quadro dos textos existentes.

Vários estados europeus partilham esta posição, pois estas revisões teriam de ser acompanhadas de referendos, num momento em que é grande o cepticismo e o descontentamento dos cidadãos face ao projecto europeu.

Apesar de a diplomacia francesa reconhecer que a nova coligação alemã poderá estar mais aberta a políticas europeias mais favoráveis ao crescimento e ao emprego, no discurso de Merkel ficou patente que, para a Alemanha, a saída da crise continua a passar por “resolver os problemas” que criaram a situação, ou seja, a indisciplina financeira, a falta de competitividade de certos países e o incumprimento das regras europeias, refere a AFP.

Na quinta-feira, a chanceler alemã deverá debater todas estas ideias com os restantes chefes de Estado da União Europeia, que se reunirão na última cimeira do ano, em Bruxelas. Até lá, os ministros das Finanças europeus, reunidos nesta quarta-feira, pretendem concluir o dossier de criação da união bancária.

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