Juros da dívida portuguesa em queda ligeira, seguindo tendência geral do mercado

Obrigações soberanas dos restantes países europeus seguem igualmente em queda.

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Decisão governamental pela "saída limpa" bem recebida no mercado da dívida. Reuters

A opção do Governo português por uma saída do resgate financeiro internacional sem recurso a um programa cautelar foi recebida com tranquilidade nos mercados esta segunda-feira, com os juros da dívida portuguesa em queda ligeira e a Bolsa de Lisboa a ser influenciada não tanto por factores nacionais, mas externos, nomeadamente a crise na Ucrânia.

O principal índice da praça portuguesa (PSI-20) começou a sessão negativa e acabou por fechar com uma queda de 0,17%. O tema dominou apenas uma parte da atenção dos investidores, que, a contar já com uma “saída limpa” de Portugal, focaram a atenção noutras variáveis, nomeadamente de conjuntura internacional. “O mercado já estava à espera, Portugal emitiu dívida pública a dez anos com sucesso [a 23 de Abril] e não houve nada no anúncio do Governo que pudesse alterar a percepção de risco por parte de quem investe”, nota ao PÚBLICO o analista Filipe Silva, director de gestão de activos do banco Carregosa.

A descida dos juros implícitos das obrigações soberanas no mercado secundário (de revenda de dívida dos Estados) esteve em sintonia com a tendência geral do mercado europeu da dívida, que ontem conheceu uma actividade reduzida, na sequência do feriado no Reino Unido, onde estão sedeados as grandes sociedades financeiras e os maiores fundos internacionais de investimento em dívida.

Num dia de pouca liquidez no mercado europeu, as principais praças fecharam sem tendência definida: Bolsa de Madrid encerrou a sessão com o principal índice praticamente inalterado, crescendo uns tímidos 0,02%, Paris subiu 0,1%, mas Bruxelas desceu 0,21%, Frankfurt recuou 0,28%  e Amesterdão perdeu já 0,45%.

No mercado de dívida, os juros das Obrigações do Tesouro portuguesas a dez anos (prazo de referência no mercado) caíram para 3,601%, um pouco abaixo do valor de sexta-feira, mas mais do que os 3,576% de 1 de Maio, um mínimo desde Fevereiro de 2006. No início do ano, a taxa implícita estava em 5,675% e a recuperação é ainda mais destacada face a Julho de 2013, quando a crise na coligação PSD/CDS-PP atirou os juros a dez anos para 7,438%.

No prazo de cinco anos, os juros também estavam a descer, a 2,445%, depois de terem terminado a 2,483% na sexta-feira e descido até 2,439% a 22 de Abril, um mínimo de sempre. Nos títulos com prazo de dois anos, a descida foi menos acentuada, com os juros nos 1,105%.

Mais do que centrado em assumir posições a partir da leitura do anúncio de Passos Coelho no domingo à noite, o mercado está mais atento a factores externos, diz Filipe Silva. Nesta segunda-feira, foram divulgadas as previsões de Primavera da Comissão Europeia, que baixou a projecção de crescimento da zona euro para 1,7%. Isto na semana em que vai vão ser conhecidas as decisões de política monetária do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu, que se reúne na quinta-feira, estando em aberto novas descidas nas taxas de referência, que “poderão ou não mexer com o mercado”, completa o analista do banco Carregosa.

A tendência é de queda dos juros nos restantes países europeus, com destaque para os juros das obrigações espanholas, que a dez anos se situam abaixo dos 3%, o que representa um patamar histórico. No início do ano, os investidores exigiam 3,997% para deter títulos de dívida espanhola.

Também as bonds alemãs, referência no mercado europeu, continuam abaixo de 1,5%, contra 1,9% do início do ano.

O movimento de queda de juros verifica-se ainda nas obrigações italianas. Actualmente, a taxa de juro das obrigações a dez anos está encostada aos 3%, quando iniciaram o ano muito perto dos 4%.

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