Investimento e consumo mais fracos fazem economia marcar passo

Portugal continua a apenas conseguir crescer com a ajuda do consumo e do investimento. Entre Julho e Setembro estes indicadores abrandaram e a economia travou.

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Consumo de bens duradouros passou de uma variação homóloga de 17% no segundo trimestre para 7,8% no terceiro, o valor mais baixo desde o terceiro trimestre de 2013. AFP/ INGO WAGNER

Apesar da tentativa dos últimos anos de fazer com que a economia portuguesa abandonasse um modelo baseado na procura interna, continuam a ser o consumo e o investimento que marcam o ritmo do crescimento no país. E, no terceiro trimestre, o forte abrandamento registado nestes dois indicadores foi a razão fundamental para que a economia voltasse a marcar passo, colocando em risco as metas para a variação do PIB que tinham sido apresentadas pelo anterior Governo.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou esta segunda-feira os números das contas nacionais do terceiro trimestre deste ano, e confirmou os valores que tinham sido conhecidos há duas semanas no momento da publicação das estimativas rápidas: o PIB estagnou face ao segundo trimestre do ano e a taxa de crescimento homóloga abrandou de 1,6% para 1,4%.

O que o INE desta vez apresentou de novo foi o detalhe da evolução das diversas componentes do PIB. Ficou claro, com a nova informação, que a travagem agora registada se deve a um desempenho bastante mais fraco do consumo privado e do investimento durante os meses de Julho a Setembro deste ano.

O consumo das famílias passou de uma variação homóloga de 3,2% no segundo trimestre para 2,4% no terceiro. A explicação para este resultado encontra-se sobretudo nas compras dos chamados bens duradouros, onde se incluem os automóveis e os electrodomésticos e que e que tinham vindo a crescer desde o final de 2013 a um ritmo bastante elevado (compensando a quebra profunda registada em 2012 e 2013). Agora, o consumo de bens duradouros passou de uma variação homóloga de 17% no segundo trimestre para 7,8% no terceiro, o valor mais baixo desde o terceiro trimestre de 2013.

Mais acentuada do que no consumo foi a travagem registada no investimento. Este indicador - medido pela Formação Bruta de Capital Fixo - depois de ter caído a pique em 2011 e 2012, registou ao longo dos últimos dois anos e meio uma recuperação moderada, que mesmo assim tinha registado as duas taxas de crescimento homólogas mais altas nos dois primeiros trimestres deste ano: de 8,7% e 5,3%. Contudo, entre Julho e Setembro, registou-se um forte abrandamento, com a variação a cair para 1,9%, o valor mais baixo desde o primeiro trimestre de 2014. O INE diz mesmo que foi o investimento o indicador que mais contribuiu para o abrandamento da economia no terceiro trimestre.

O resultado mais negativo aconteceu no investimento em “outras máquinas e equipamentos”, que passou de um crescimento de 9,9% para uma queda de 3,1%, enquanto o investimento em equipamento de transporte continuou a crescer a um ritmo muito elevado. No investimento em construção, a taxa de crescimento manteve-se quase inalterada, a um ritmo moderado.  

É difícil encontrar um factor explicativo único para aquilo que aconteceu no terceiro trimestre. O que várias instituições têm assinalado quando fazem projecções para a economia portuguesa são as limitações que tanto as famílias como as empresas encontram para consumir e investir mais e de forma sustentada. O ritmo de crescimento lento dos rendimentos, o elevado nível de endividamento e as consequentes restrições no acesso a financiamento são obstáculos a um cenário de retoma rápida sustentada na procura interna.

No novo modelo de crescimento que o programa da troika tencionava implementar em Portugal, esta limitação seria ultrapassada pelo contributo positivo da procura externa líquida (exportações menos importações). O problema é que, depois de em 2011 e 2012, este contributo ter sido muito positivo por causa da quebra das importações (que por sua vez estava ligada à quebra do consumo e do investimento), assim que a procura interna começou a recuperar, as importações voltaram a registar taxas de crescimento mais altas do que as exportações, algo que acontece ininterruptamente desde o primeiro trimestre de 2014.

Tal voltou a acontecer no terceiro trimestre deste ano, com as importações a crescer 4,9% e as exportações 3,9%. Ainda assim, em relação ao trimestre anterior, o contributo para a variação do PIB passou a ser menos negativo.

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