Governo abre caminho para vender os CTT até ao final do ano

Segunda fase de privatização poderá passar por venda directa a investidores institucionais. Modelo final será definido em Setembro.

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Correios vão deixar de ter o Estado como accionista em breve Miguel Madeira

O Governo quer garantir que a segunda fase de privatização dos CTT não será contaminada com a instabilidade que se vive actualmente nas bolsas europeias. Segundo o decreto-lei publicado nesta segunda-feira em Diário da República, a venda privada a investidores qualificados passa a ser uma opção para a segunda fase de privatização dos correios. O processo de venda dos 31,5% que o Estado ainda detém no capital dos CTT deverá estar concluído até ao final deste ano, apurou o PÚBLICO.

Até ao final deste mês, enquanto dura o período de indisponibilidade das acções (que ficou definido em 270 dias após a venda da primeira tranche, em Dezembro passado), o Governo está impedido de contactar potenciais interessados no capital dos correios, pelo que só no próximo mês definirá o modelo de privatização.

Na primeira fase de privatização o executivo combinou a venda em bolsa, com uma tranche para venda directa a institucionais. Já “nas actuais condições de mercado”, a opção pela venda directa institucional “pode potenciar o retorno financeiro para o Estado e beneficiar a empresa e o mercado”, lê-se no diploma.

O executivo explica que a operação de privatização poderá concretizar-se “através de um ou mais processos com ou sem colocação acelerada [constituição de um livro de ordens de compra num curto espaço de tempo], com vista à dispersão das acções por investidores qualificados, nacionais ou internacionais” e destaca "a flexibilidade" introduzida por este decreto-lei para prosseguir com a privatização dos correios "optimizando os proveitos associados e salvaguardando o interesse nacional". Seja qual for a modalidade escolhida, as operações de venda podem realizar-se "uma ou mais vezes, total ou parcialmente, em simultâneo ou em momentos sucessivos, sem qualquer relação sequencial entre si", refere o diploma.

Os Correios ainda não têm na sua estrutura accionista nenhum investidor estratégico, do sector postal ou da logística. Os accionistas com posições qualificadas são investidores financeiros, como a Allianz, a Pioneer Asset Management, a Standard Life Investments, a BlackRock e o JP Morgan, que detêm pequenas participações. A venda directa institucional poderia abrir a porta a um investidor estratégico, mas o Governo nunca deu a entender que esse fosse um objectivo.

Esta modalidade é um processo mais fácil e mais célere do que uma venda em bolsa e é também “uma forma de o Governo se adaptar ao contexto actual dos mercados accionistas”, disse ao PÚBLICO o analista da corretora XTB, Steven Santos. Longe do “clima de euforia em que os próprios CTT se estrearam em bolsa”, depois dos aumentos de capital da banca (BES e BCP), que “exigiram um esforço grande aos investidores de retalho”, e com o “caso desastroso” do Grupo Espírito Santo/BES ainda na memória, a venda privada a investidores institucionais poderá ser uma forma de ultrapassar o risco de uma dispersão em bolsa. ”A desvantagem é o desconto de 15% a 20%” face ao preço de mercado que normalmente os investidores institucionais exigem, disse o analista.

A primeira fase de privatização (que previa a venda de 70% do capital embora depois o Estado tenha recuperado uma fatia de 1,5% do lote parqueado para estabilização do preço das acções) combinou uma venda em bolsa a privados e uma venda directa a institucionais e beneficiou do entusiasmo gerado pela venda do britânico Royal Mail e do BPost, na Bélgica. O Estado encaixou cerca de 520 milhões de euros e as acções foram vendidas ao preço de 5,52 euros, o valor máximo do intervalo de preços que tinha sido definido pelo Executivo. Desde então, os títulos já valorizaram mais de 35%. Nesta segunda-feira, fecharam a sessão bolsista nos 7,58 euros.

O presidente executivo da empresa, Francisco Lacerda, tem vincado que as decisões quanto à privatização cabem ao accionista e que o papel da gestão é o de entregar resultados. A estratégia para o fazer passa, cada vez mais, pelo sector financeiro. Quem investir nos CTT durante esta segunda fase de privatização entra numa empresa que já vende produtos de crédito ao consumo e tem ainda a licença bancária que lhe permitirá criar o há muito anunciado Banco Postal.

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